sexta-feira, 15 de outubro de 2021

“ALEXANDRE MAGNO” EM TERRAS DE SIMÃO BOLÍVAR !

                                                                              


É na passagem de nível, é na margem que separa a outra margem do rio e é no sobressalto da transição entre dois mares tormentosos – é aí que se definem os grandes homens, estrategas timoneiros do tempo que lhes coube viver.

É nesse posto de comando, decisivo mas discreto, que vejo o Padre Alexandre Mendonça. Conheci-o em Caracas. Era o tempo, agitado e promissor, em que, desde as praças públicas e largas avenidas até às camisolas brancas de venezuelanos e europeus em geral, lia-se em caracteres garrafais a palavra de ordem: “Chaves, lo sentimento nacional”, enquanto em surdina de certas trincheiras dominadoras, imperava o desassossego: “Chaves, aí vem o tufão”.

Foi na sua casa e no seu templo, o de Nossa Senhora de Fátima e Coromoto, no qual investiu  o seu esforço e o seu talento. Aí vi ‘claramente visto’ o seu empenho e total dedicação aos emigrantes (não só aos portugueses) que, muitos deles, na Venezuela de então, já padeciam de carências notórias. Recordo o seu patriotismo saudável e dinâmico quando, não obstantes as dificuldades patentes, manifestava-me a sua discordância e até indignação com os que, em Portugal, malsinavam o seu país de acolhimento.

Observei de perto o quanto se sacrificou na construção do Ancianato, anexo ao templo, com o objectivo de receber os idosos, nessa altura uma obra de premente necessidade pública.

Tudo isto em plena efervescência da mudança de regime. Apreciei o tacto, a prudência, a pedagogia cívica do Padre Alexandre e, na mesma medida, a coragem em procurar soluções sociais inadiáveis. Só às almas grandes é concedido tão grande privilégio! Prova disso, era a assistência humana e espiritual que prestava como Capelão das Forças Policiais de Segurança em Caracas. Pena me ficou não ter sido concretizada a agendada visita ao complexo Barrio de San Barnardino, a qual só seria possível com a presença tutelar do Padre Alexandre, a qual o próprio se me oferecera.

Na hora da despedida, dois sentimentos: o de homenagem e saudade pela Missão Cumprida e, ao mesmo tempo, a mágoa social por não ter podido prolongar aos mais carenciados, portugueses e venezuelanos, a generosidade dos seus ideais .

Particularmente da minha parte, permita-me o Padre Alexandre que transmita publicamente a gratidão, como pessoalmente lhe expressei em vida, pela forma cordial e afectuosa como me recebeu e o apoio logístico que prontamente me disponibilizou, não como membro de um grupo parlamentar em que fora integrado, mas como Irmão no Sacerdócio. Guardei até hoje e ficarão para sempre gravadas em mim estas suas palavras de profunda intencionalidade declarativa!

Falo do que vi, ouvi e senti junto do Padre Alexandre. Outros predicados maiores levantar-se-ão, com justiça e verdade. Por isso, pela grandeza, simplicidade e discrição da sua personalidade, repito o testemunho que então deixei: “Padre Alexandre Mendonça – ALEXANDRE MAGNO EM TERRAS DE SIMÃO BOLÍVAR”!     

 

15.Out.21

Martins Júnior

1 comentário:

  1. Os madeirenses na Venezuela sempre foram vistos como uma caixinha pra a Igreja da Madeira.... Por serem (muitos deles) de pouca cultura, qualquer massagem do ego e amor-prório os deixava abrir a bolsa para festas e comezainas... Nos sermões enalteciam a sua bondade e religiosidade sempre pensando nas avultadas esmolas e festas de arromba nas freguesias.... Salvo alguns padres, que queriam dar uma alternativa a esses gastos perdulários sugerindo alguma atividade que desse trabalho e perenizasse a sua devoção (explorada) .... para que desse dar chance a empregos e riqueza na Madeira, a a maior parte suspirava por uma festa que resolvesse o seu bolso e algum arranjo na igreja.... Neste momento, a volta de "venezolanos" à sua terra é vista com desprezo e sobranceria como se a terra pátria fosse madrasta.... e que só aceita os ricos e a elite.... mesmo que sejam ladrões de alto coturno.... Isso dá muitos textos e o padre poderia continuar com esse tema.... Ps: Morei na Venezuela e sei do que estou falando....

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