domingo, 7 de novembro de 2021

ESTÁ CHEGANDO A HORA DE TODOS OS ILUSIONISMOS. CUIDADO!

                                                                       


A lota continua. Se lhe chamarem feira podem também chamar-lhe luta – luta de interesses e feira de vaidades. E cada marca/lugar/estatuto entram nesta refrega cega-rega para chegar-se mais à frente na romaria da quermesse a-céu-aberto, tipo open day na fila do teste antigénio, dado e arregaçado.

         Ele é o Pingo, aqui picante, acolá doce melado, abrindo as mãos com pesadas toneladas para instituições de caridade, enquanto nas mangas de punhos de oiro passam cheques invisíveis para Panamá´s ou impostos roubados ao tesouro dos consumidores portugueses e desviados para Holanda’s  exteriores.

Ele é o Ministério da Pobreza, onde os titulares do poder político, arregimentados como beneméritos de ofício, deixam chover subsídios, fundos perdidos, benesses, apoios, cabazes estrategicamente envernizados, 1.200 euros para o folclore, mais 3.200 para a associação-xis, mais futebóis, mais as velhas “casas-do-povo-livre”, mais autarquias, enfim, tudo maquiavelicamente amarrado e perdulariamente entregue aos pilotos-drones encarregados de pintar de fartura os telhados da cidade, as estradas, a paisagem. Mas há uma condição sine qua non: nenhum desses almoços é grátis, todos eles têm de ser apregoados nas rádios, avolumados na TV, regados de fotografias nas folhas dos jornais e nos retalhos de pasquins.

Ele é também  o “Dízimo sacro”, o tributo do “Reino de Deus”, o “Dinheiro de São Pedro”, chamado “Banco do Vaticano”,  as estearinas de pavio sucedâneas das salvíficas “Indulgências” com que se nutria o luxo dos Papas e a magnificência da Cúria  cardinalícia.

 Quero crer que ninguém duvida ser este o “Grande Teatro do Mundo”, não o de Calderon de La Barca, mas o espectáculo de revista corriqueira que o “Zé-Povo” é levado à feira e forçado a tragar.

Pois bem, nada disto é novo. Há mais de dois mil anos, o GRANDE  LIVRO traz-nos a visão antecipada do Nazareno sobre esta arena de interesses pessoais, camuflados de ambições classistas, de rosto simpático e mãos pródigas. Vem na literatura deste domingo, projectando a luz de uma sólida interpretação, como a que o próprio descreve de fronte erguida e não menos aguerrida:

\”Atenção, muito cuidado com os escribas (doutores da lei, fariseus, sumos-sacerdotis) cuja ambição é exibir longas e solenes vestes, serem vistos e cumprimentados nas praças públicas e ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes. Eles até chegam a devorar as casas das viúvas e disfarçam tudo isso com prolongadas orações. Em verdade vos digo que serão réus de uma sentença mais severa”. (Marcos, 12, 38-40).

 Eloquente e corajosa audácia do Mestre! E sempre foi assim: a perspicácia farisaica – a minoria dos poderes dominantes – forçando sempre a mentalidade dos povos, a maioria dependente, povoando-a dos mitos falaciosos que pintam de benemerência e bem-estar aquilo que não passa de exclusiva sede de domínação, de ganância financeira e, em casos-limite, de despudorado exercício da mais indigna simonia.

Vale a pena reler todo o capítulo da Marcos. Em início de semana, servir-me-á de seguro GPS para não me deixar seduzir pela profusão de  generosos fogos-fátuos que, em tempos próximos, voltarão a pairar ardilosamente no céu sombrio deste país e desta região.

“Atenção, muito cuidado com eles”!

 

07.Nov.21

Martins Júnior   

1 comentário:

  1. É toda a humanidade descrita,muuito eloquente, espero que quem ler,ou ouvir este texto se reveja e melhore a sua postura perante avida

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