A
lota continua. Se lhe chamarem feira podem também chamar-lhe luta – luta de
interesses e feira de vaidades. E cada marca/lugar/estatuto entram nesta
refrega cega-rega para chegar-se mais à frente na romaria da quermesse a-céu-aberto,
tipo open day na fila do teste
antigénio, dado e arregaçado.
Ele é o Pingo, aqui picante, acolá doce
melado, abrindo as mãos com pesadas toneladas para instituições de caridade,
enquanto nas mangas de punhos de oiro passam cheques invisíveis para Panamá´s
ou impostos roubados ao tesouro dos consumidores portugueses e desviados para
Holanda’s exteriores.
Ele
é o Ministério da Pobreza, onde os titulares do poder político, arregimentados
como beneméritos de ofício, deixam chover subsídios, fundos perdidos, benesses,
apoios, cabazes estrategicamente envernizados, 1.200 euros para o folclore,
mais 3.200 para a associação-xis, mais futebóis, mais as velhas “casas-do-povo-livre”,
mais autarquias, enfim, tudo maquiavelicamente amarrado e perdulariamente
entregue aos pilotos-drones encarregados de pintar de fartura os telhados da
cidade, as estradas, a paisagem. Mas há uma condição sine qua non: nenhum desses almoços é grátis, todos eles têm de ser
apregoados nas rádios, avolumados na TV, regados de fotografias nas folhas dos
jornais e nos retalhos de pasquins.
Ele
é também o “Dízimo sacro”, o tributo do “Reino de Deus”, o “Dinheiro de São
Pedro”, chamado “Banco do Vaticano”, as
estearinas de pavio sucedâneas das salvíficas “Indulgências” com que se nutria
o luxo dos Papas e a magnificência da Cúria cardinalícia.
Quero crer que ninguém duvida ser este o “Grande
Teatro do Mundo”, não o de Calderon de La Barca, mas o espectáculo de revista
corriqueira que o “Zé-Povo” é levado à feira e forçado a tragar.
Pois
bem, nada disto é novo. Há mais de dois mil anos, o GRANDE LIVRO traz-nos a visão antecipada do Nazareno
sobre esta arena de interesses pessoais, camuflados de ambições classistas, de
rosto simpático e mãos pródigas. Vem na literatura deste domingo, projectando a
luz de uma sólida interpretação, como a que o próprio descreve de fronte
erguida e não menos aguerrida:
\”Atenção, muito cuidado com os escribas
(doutores da lei, fariseus, sumos-sacerdotis) cuja ambição é exibir longas e
solenes vestes, serem vistos e cumprimentados nas praças públicas e ocupar os
primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes. Eles até chegam a devorar as
casas das viúvas e disfarçam tudo isso com prolongadas orações. Em verdade vos
digo que serão réus de uma sentença mais severa”. (Marcos, 12, 38-40).
Eloquente e corajosa audácia do Mestre! E sempre
foi assim: a perspicácia farisaica – a minoria dos poderes dominantes –
forçando sempre a mentalidade dos povos, a maioria dependente, povoando-a dos
mitos falaciosos que pintam de benemerência e bem-estar aquilo que não passa de
exclusiva sede de domínação, de ganância financeira e, em casos-limite, de
despudorado exercício da mais indigna simonia.
Vale
a pena reler todo o capítulo da Marcos. Em início de semana, servir-me-á de
seguro GPS para não me deixar seduzir pela profusão de generosos fogos-fátuos que, em tempos
próximos, voltarão a pairar ardilosamente no céu sombrio deste país e desta
região.
“Atenção, muito cuidado
com eles”!
07.Nov.21
Martins Júnior
É toda a humanidade descrita,muuito eloquente, espero que quem ler,ou ouvir este texto se reveja e melhore a sua postura perante avida
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