terça-feira, 11 de janeiro de 2022

ANÚNCIO E REALIDADE

                                                                              


Ora, eis aí o Espírito Renascentista que anunciei.

Domina-o um enorme ponto de interrogação, da autoria do galardoado arquitecto Souto Moura: a Dúvida – repetidamente interpelante - seja maiêutica, seja cartesiana, é sempre a Dúvida interrogante o princípio de todo o conhecimento, a raiz de todo o Espírito Renascentista.

E a primeira questão que se nos põe é saber se o exclusivo título corresponde ao real conteúdo deste ‘Código de Estrada Global’, isto é, se se restringe apenas  ao futuro de uma instituição.

Desde logo, cumpre informar que a amplitude inclusiva desta obra tem a medida do talento universalista do Professor Padre Anselmo Borges. Ouso acrescentar, sem risco de erro, que assim como os pioneiros do Espírito Renascentista romperam com o imobilismo obscurantista medieval e corajosamente abriram novos horizontes nas mais diversificadas esferas do conhecimento humano – Por Mares nunca dantes Navegados – assim também Anselmo Borges abarca os mais fundos labirintos da humana condição até alcançar  a altitude circular que o pensamento consegue atingir, numa síntese ascensional entre  Imanência e  Transcendência.

Dispenso-me de demonstrar e enaltecer (por ser sobejamente consabida) a vastidão enciclopédica de investigadores, cientistas, poetas, filósofos, teólogos que conferem solidez inquebrantável às teses – propostas e antíteses -  que compõem este Manual Profético do Amanhã. Interessa-me, sobremaneira, e julgo a todos interessar, primeiro, a determinação-objectivação dos temas em causa, depois a segurança de estratégias utilizáveis, até com uma aparente frieza na abordagem dos diversas coordenadas em jogo, culminando tudo na coragem linear, quero dizer sem subterfúgios, em atacar e defender, ou, numa linguagem bíblica, arrancar e plantar, destruir e erguer os alvos definidores da sua mundivisão, onde confluem as múltiplas valências do Ser Humano, desde o natural, o racional e o espiritual.

Dos 67 capítulos que povoam as 479 preciosas páginas, nenhum deles se pode perder. Pertencem - como raiz, tronco, ramos, flores e frutos – à mesma árvore de uma sabedoria contínua e em cada um deles corre a mesma seiva transformadora. Até os mais delicados, intrincados meandros do indivíduo em sociedade, Anselmo Borges percorre-os com olhos e sentidos de quem conhece a casa de cor, de tal modo que bem pode ele dizer como Aristóteles: “Nada do que é humano me é estranho”. E fá-lo com tanta acutilância e realismo quanta elevação e metamorfose valorativa!... Recordo-me, a título de exemplo, a apresentação no nosso Teatro Baltazar Dias do polémico livro “A Vagina”, bem como o prefácio para a edição d”A Relíquia” de Eça de Queirós.

Mas de todos, permito-me destacar, pela sua perspicácia, originalidade e criatividade interpretativa, o capítulo António Nobre e Francisco (pág.307), onde avulta o talento intemporal de Anselmo Borges, ao transpor para o século XXI vivências do século XIX, mais explicitamente, António Nobre, poeta português do SÓ,  o Papa Leão XIII, da revolucionária Rerum Novarum e o nosso Papa Francisco. Oportuna e assertiva a direcção da bala sobre uma Igreja autista, desencarnada!

No entanto e porque é de um novo Espírito Renascentista que decidi abordar a obra de Anselmo Borges, em contraponto ao medievalismo vigente em muitas estruturas da Igreja-Instituição, confesso que me tocaram, direi mesmo, abalaram-me as páginas-convicções da Parte IV, genericamente tituladas de UMA IGEJA OUTRA. Tocaram-me, precisamente pela ousadia, direi, apostólica com que o Autor faz a anatomia da Igreja Vaticana, em consonância perfeita com o espírito aberto e interventivo do Papa Francisco, da qual também eu, no modesto reduto que habito, me sinto solidário e militante. Ninguém em Portugal – teólogo ou leigo, bispo, cardeal, presbítero ou diácono – se alevanta com tanta clarividência e coragem como o Padre Anselmo na identificação dos valores do Evangelho e na sua deformação pelo Desenvangelho da Igreja institucional. Bento Domingues e Anselmo Borges, na vanguarda!

Deveria citar alguns excertos do livro em epígrafe, mas o figurino de um simples blog não mo consente. Tanto melhor, porque a quem ler deixo o convite e o apetite para sentar-se à mesa com Anselmo Borges e saborear a beleza e a suculência de uma ementa real.

  Em síntese, do supedâneo da minha pequenez, vejo na ara do Pensamento crítico, evolutivo e optimista do Prof. Anselmo Borges aquilo que já classifiquei de Summa Humanista-Theologica, aproximativa das Summa’s  dos grandes pensadores, como Tomás de Aquino. Entendo e daria o meu modesto contributo para que o Professor Padre Anselmo Borges formasse uma vigorosa Schola, que fizesse caminho seguro no nosso país. Por enquanto, vamos esperando aqui, na Madeira, a sua presença logo que as circunstâncias o permitam, afim de realizarmos essa apetecível Agape sobre a incógnita de sempre: A Igreja e o Mundo: Que Futuro?            

        

         11.Jan.22

         Martins Júnior

 

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