Ora, eis aí o Espírito Renascentista que anunciei.
Domina-o um enorme ponto de interrogação,
da autoria do galardoado arquitecto Souto Moura: a Dúvida – repetidamente
interpelante - seja maiêutica, seja cartesiana, é sempre a Dúvida interrogante
o princípio de todo o conhecimento, a raiz de todo o Espírito Renascentista.
E a primeira questão que se nos põe é
saber se o exclusivo título corresponde ao real conteúdo deste ‘Código de
Estrada Global’, isto é, se se restringe apenas
ao futuro de uma instituição.
Desde logo, cumpre informar que a
amplitude inclusiva desta obra tem a medida do talento universalista do
Professor Padre Anselmo Borges. Ouso acrescentar, sem risco de erro, que assim
como os pioneiros do Espírito
Renascentista romperam com o imobilismo obscurantista medieval e
corajosamente abriram novos horizontes nas mais diversificadas esferas do
conhecimento humano – Por Mares nunca
dantes Navegados – assim também Anselmo Borges abarca os mais fundos
labirintos da humana condição até alcançar
a altitude circular que o pensamento consegue atingir, numa síntese ascensional
entre Imanência e Transcendência.
Dispenso-me de demonstrar e enaltecer (por
ser sobejamente consabida) a vastidão enciclopédica de investigadores,
cientistas, poetas, filósofos, teólogos que conferem solidez inquebrantável às
teses – propostas e antíteses - que
compõem este Manual Profético do Amanhã. Interessa-me, sobremaneira, e julgo a
todos interessar, primeiro, a determinação-objectivação dos temas em causa,
depois a segurança de estratégias utilizáveis, até com uma aparente frieza na
abordagem dos diversas coordenadas em jogo, culminando tudo na coragem linear,
quero dizer sem subterfúgios, em atacar e defender, ou, numa linguagem bíblica,
arrancar e plantar, destruir e erguer os
alvos definidores da sua mundivisão, onde confluem as múltiplas valências do
Ser Humano, desde o natural, o racional e o espiritual.
Dos 67 capítulos que povoam as 479
preciosas páginas, nenhum deles se pode perder. Pertencem - como raiz, tronco, ramos,
flores e frutos – à mesma árvore de uma sabedoria contínua e em cada um deles
corre a mesma seiva transformadora. Até os mais delicados, intrincados meandros
do indivíduo em sociedade, Anselmo Borges percorre-os com olhos e sentidos de
quem conhece a casa de cor, de tal modo que bem pode ele dizer como
Aristóteles: “Nada do que é humano me é estranho”. E fá-lo com tanta acutilância
e realismo quanta elevação e metamorfose valorativa!... Recordo-me, a título de
exemplo, a apresentação no nosso Teatro Baltazar Dias do polémico livro “A
Vagina”, bem como o prefácio para a edição d”A Relíquia” de Eça de Queirós.
Mas de todos, permito-me destacar, pela
sua perspicácia, originalidade e criatividade interpretativa, o capítulo António Nobre e Francisco (pág.307), onde
avulta o talento intemporal de Anselmo Borges, ao transpor para o século XXI
vivências do século XIX, mais explicitamente, António Nobre, poeta português do
SÓ, o Papa Leão XIII, da revolucionária Rerum Novarum e o nosso Papa Francisco.
Oportuna e assertiva a direcção da bala sobre
uma Igreja autista, desencarnada!
No
entanto e porque é de um novo Espírito
Renascentista que decidi abordar a obra de Anselmo Borges, em contraponto
ao medievalismo vigente em muitas estruturas da Igreja-Instituição, confesso
que me tocaram, direi mesmo, abalaram-me as páginas-convicções da Parte IV, genericamente
tituladas de UMA IGEJA OUTRA. Tocaram-me,
precisamente pela ousadia, direi, apostólica com que o Autor faz a anatomia da
Igreja Vaticana, em consonância perfeita com o espírito aberto e interventivo
do Papa Francisco, da qual também eu, no modesto reduto que habito, me sinto
solidário e militante. Ninguém em Portugal – teólogo ou leigo, bispo, cardeal,
presbítero ou diácono – se alevanta com tanta clarividência e coragem como o
Padre Anselmo na identificação dos valores do Evangelho e na sua deformação
pelo Desenvangelho da Igreja
institucional. Bento Domingues e Anselmo Borges, na vanguarda!
Deveria
citar alguns excertos do livro em epígrafe, mas o figurino de um simples blog não mo consente. Tanto melhor,
porque a quem ler deixo o convite e o apetite para sentar-se à mesa com Anselmo
Borges e saborear a beleza e a suculência de uma ementa real.
Em
síntese, do supedâneo da minha pequenez, vejo na ara do Pensamento crítico,
evolutivo e optimista do Prof. Anselmo Borges aquilo que já classifiquei de Summa Humanista-Theologica, aproximativa
das Summa’s dos grandes pensadores, como Tomás de
Aquino. Entendo e daria o meu modesto contributo para que o Professor Padre Anselmo
Borges formasse uma vigorosa Schola, que
fizesse caminho seguro no nosso país. Por enquanto, vamos esperando aqui, na
Madeira, a sua presença logo que as circunstâncias o permitam, afim de realizarmos
essa apetecível Agape sobre a incógnita
de sempre: A Igreja e o Mundo: Que
Futuro?
11.Jan.22
Martins
Júnior
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