segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

“O FATÍDICO 31 DE JANEIRO”…

                                                                    


Foi na noite de 30 de Janeiro. O supremo árbitro da Nação – o Povo Português -  deu por terminada a grande partida no estádio verde-rubro deste país. E o que se viu  foi o flagrante contraste, tal qual a finalíssima de um campeonato mundial: de um lado, a euforia transbordante dos campeões e, do outro, a mal disfarçada, desesperada angústia dos derrotados.

         Mas hoje é o “31 de Janeiro”, uma data histórica, desde há muito inscrita na toponímia das cidades portuguesas. Hoje, porém,  tempo de retrospectiva, estação de balanço e análise, trago apenas ecos remanescentes de uma campanha que vale a pena reouvir, passada que foi a refrega dos contendores em cena. Deixo para os especialistas na arte da política os comentários de índole científica.

Detenho-me tão só na versatilidade do ser humano que, pelo discurso e pela reação sensitiva, protagoniza atitudes das quais mais tarde, mesmo que não se arrependa, torna-se objecto de irrisão, senão de repúdio e degradante contradição. Em linguagem popularizada, tudo se resume ao velho adágio: “Cuidado! Quem cospe para o ar cai-lhe na cara”.

         A começar pelo líder do principal partido opositor – o dr. Costa sabe que vai perder e eu aconselho-o a que aproveite o tempo da campanha para aprender a perder com dignidade – o resultado foi ver escorrer-lhe o na pele, nos olhos e no nariz  o digníssimo antigénico que tinha receitado para o adversário. Quem cospe…

         Da parte do sábio e experiente Jerónimo saiu um daqueles elefantes que ele próprio devia ter engolido na mesma hora: o dr. Costa é que quis provocar estas eleições pela ambição de uma maioria absoluta. E o vetusto guerreiro nem se deu de contas que foi ele mesmo quem ‘ajudou à festa’, isto é, fez o favor ao adversário quando chumbou o Orçamento. A ‘bomba atómica’ rebentou-lhe nas próprias mãos…

         Quanto aos novos ‘quase caloiros’ da direita, queriam acabar com o socialismo e, para um deles, o objectivo maior era correr com o dr. Costa do governo. O resultado viu-se no dia 30 à noite! Verdade que aumentaram o seu pecúlio em 20 deputados: 12 para um e 8 para o outro. Mas aí agradeçam à já rodada líder da extrema esquerda e ao seu aliado que, sentados lado-a-lado no paiol do Parlamento, detonaram a ‘bomba’ fatal. Depois, foi o que viu: nas hostes bloquistas, dos 19 que tinham, perderam 14; e do seu aliado, dos 12, perderam 6. Contas feitas 14+6=20. Precisamente os 20 que foram parar direitinhos à extrema direita. É obra! Um abriu-lhes a porta, a outra abriu-lhes o portão…

         É extraordinária a capacidade bélica desta extrema esquerda que solenemente apostrofou na campanha: Desafio e convoco o dr. Costa a reunir-se connosco na segunda-feira, 31 de Janeiro. Para formar governo, claro. Só com 5 deputados… quando Costa tem 117.

         Digno de uma divertida rábula de teatro-de-revista à portuguesa foi o convite-empurrão de um jovem líder democrata-cristão: vamos mandar o dr. Costa para casa cuidar dos netos. E por uma estranha magia quem foi para casa (portanto, fora do Parlamento) foi o jovem líder…cuidar dos avós!

         Aqui também são chamadas à colação as proféticas empresas dos resultados, promovidas e anunciadas pelos imponentes galões de “Sondagens”. Porque os números falam por si, dispenso-me de comentários supérfluos, aconselhando, quando muito, os doutos empresários a mudarem de cartilha cartomante ou, em alternativa, consultar o “Livro de São Cipriano”…

         É incomensurável o estendal das produções confecionadas, ruminadas, vomitadas pela criatividade enviesada de ditos e escritos despejados a céu-aberto, denegrindo e malsinando os atletas que não são da simpatia política dos seus criadores. Respigarei apenas dois deliciosos excertos representativos  de uma espécie de matriarcado moderno, uma mulher entre homens, Expressamente lavrada numa conceituada Revista lisboeta:

         A agonia de A.Costa pode ser longa…Costa, tenham paciência, acabou. Enterrem-se os mortos e cuide-se dos vivos, segundo o marquês (de Pombal). Este governo morreu.

Esta clarinha, claríssima e emplumada sentença foi promulgada há quase um ano, 05/02/2021. E hoje, o governo ficou mais vivo que então. O outro capricho literário vem na mesma Revista, mimosa prenda de Natal, em 23/12/2021:

Costa perdeu muitos corações do PS que votarão em Rui Rio. Há limites para a estupidez… Estamos cansados. No dia 31 de Janeiro, Costa pode ter perdido tudo, depois de perder a cabeça.

Chegados ao “fatídico 31 de Janeiro”, é caso para dizer: Com pitonisas destas, não precisamos de ir à bruxa da esquina!

 São estas e similares, algumas  das e dos opinadores a quem se entrega a informação de que os portugueses tanto precisam. Ainda bem que há liberdade de escrever, liberdade de ler e conhecer quem é quem na ‘literatura vernácula’ deste país. Melhor ainda constatar a veracidade do velho brocardo latino: Verba volant, scripta manent – “As palavras voam, mas os escritos permanecem”… para sempre!  

 

         31.Jan- 01.Fev.2022

         Martins Júnior

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