Foi
na noite de 30 de Janeiro. O supremo árbitro da Nação – o Povo Português - deu por terminada a grande partida no estádio
verde-rubro deste país. E o que se viu foi o flagrante contraste, tal qual a
finalíssima de um campeonato mundial: de um lado, a euforia transbordante dos
campeões e, do outro, a mal disfarçada, desesperada angústia dos derrotados.
Mas hoje é o “31 de Janeiro”, uma data
histórica, desde há muito inscrita na toponímia das cidades portuguesas. Hoje,
porém, tempo de retrospectiva, estação
de balanço e análise, trago apenas ecos remanescentes de uma campanha que vale
a pena reouvir, passada que foi a refrega dos contendores em cena. Deixo para
os especialistas na arte da política os comentários de índole científica.
Detenho-me
tão só na versatilidade do ser humano que, pelo discurso e pela reação
sensitiva, protagoniza atitudes das quais mais tarde, mesmo que não se
arrependa, torna-se objecto de irrisão, senão de repúdio e degradante
contradição. Em linguagem popularizada, tudo se resume ao velho adágio: “Cuidado!
Quem cospe para o ar cai-lhe na cara”.
A começar pelo líder do principal
partido opositor – o dr. Costa sabe que
vai perder e eu aconselho-o a que aproveite o tempo da campanha para aprender a
perder com dignidade – o resultado foi ver escorrer-lhe o na pele, nos
olhos e no nariz o digníssimo antigénico
que tinha receitado para o adversário. Quem cospe…
Da parte do sábio e experiente Jerónimo
saiu um daqueles elefantes que ele próprio devia ter engolido na mesma hora: o dr. Costa é que quis provocar estas
eleições pela ambição de uma maioria absoluta. E o vetusto guerreiro nem se
deu de contas que foi ele mesmo quem ‘ajudou à festa’, isto é, fez o favor ao
adversário quando chumbou o Orçamento. A ‘bomba atómica’ rebentou-lhe nas próprias
mãos…
Quanto aos novos ‘quase caloiros’ da
direita, queriam acabar com o socialismo e, para um deles, o objectivo maior era
correr com o dr. Costa do governo. O
resultado viu-se no dia 30 à noite! Verdade que aumentaram o seu pecúlio em 20
deputados: 12 para um e 8 para o outro. Mas aí agradeçam à já rodada líder da
extrema esquerda e ao seu aliado que, sentados lado-a-lado no paiol do Parlamento,
detonaram a ‘bomba’ fatal. Depois, foi o que viu: nas hostes bloquistas, dos 19
que tinham, perderam 14; e do seu aliado, dos 12, perderam 6. Contas feitas
14+6=20. Precisamente os 20 que foram parar direitinhos à extrema direita. É
obra! Um abriu-lhes a porta, a outra abriu-lhes o portão…
É extraordinária a capacidade bélica
desta extrema esquerda que solenemente apostrofou na campanha: Desafio e convoco o dr. Costa a reunir-se
connosco na segunda-feira, 31 de Janeiro. Para formar governo, claro. Só
com 5 deputados… quando Costa tem 117.
Digno de uma divertida rábula de teatro-de-revista
à portuguesa foi o convite-empurrão de um jovem líder democrata-cristão: vamos mandar o dr. Costa para casa cuidar
dos netos. E por uma estranha magia quem foi para casa (portanto, fora do
Parlamento) foi o jovem líder…cuidar dos avós!
Aqui também são chamadas à colação as
proféticas empresas dos resultados, promovidas e anunciadas pelos imponentes
galões de “Sondagens”. Porque os números falam por si, dispenso-me de
comentários supérfluos, aconselhando, quando muito, os doutos empresários a
mudarem de cartilha cartomante ou, em alternativa, consultar o “Livro de São
Cipriano”…
É incomensurável o estendal das
produções confecionadas, ruminadas, vomitadas pela criatividade enviesada de
ditos e escritos despejados a céu-aberto, denegrindo e malsinando os atletas
que não são da simpatia política dos seus criadores. Respigarei apenas dois deliciosos
excertos representativos de uma espécie
de matriarcado moderno, uma mulher entre homens, Expressamente lavrada numa
conceituada Revista lisboeta:
A
agonia de A.Costa pode ser longa…Costa, tenham paciência, acabou. Enterrem-se
os mortos e cuide-se dos vivos, segundo o marquês (de Pombal). Este governo morreu.
Esta
clarinha, claríssima e emplumada sentença foi promulgada há quase um ano, 05/02/2021.
E hoje, o governo ficou mais vivo que então. O outro capricho literário vem na
mesma Revista, mimosa prenda de Natal, em 23/12/2021:
Costa perdeu muitos
corações do PS que votarão em Rui Rio. Há limites para a estupidez… Estamos
cansados. No dia 31 de Janeiro, Costa pode ter perdido tudo, depois de perder a
cabeça.
Chegados
ao “fatídico 31 de Janeiro”, é caso para dizer: Com pitonisas destas, não precisamos
de ir à bruxa da esquina!
São estas e similares, algumas
das e dos opinadores a quem se entrega a
informação de que os portugueses tanto precisam. Ainda bem que há liberdade de
escrever, liberdade de ler e conhecer quem é quem na ‘literatura vernácula’
deste país. Melhor ainda constatar a veracidade do velho brocardo latino: Verba volant, scripta manent – “As palavras
voam, mas os escritos permanecem”… para sempre!
31.Jan- 01.Fev.2022
Martins
Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário