sábado, 29 de janeiro de 2022

REFLEXÃO PARA VALENTES E PERSISTENTES !

                                                                     


Bem se merece um Sábado quieto depois de uma semana frenética. Afora os agitadores profissionais das praças partidárias nesta noite de agonia expectante, o remanso deste Sábado faz-nos entrar num deserto. Deserto de reflexão, análise de projectos, pessoas e decisões.

É o que faço todos os fins-de-semana, inspirado no LIVRO, estuário imenso onde todas as rotas se cruzam e todos os pensamentos se encontram. Por isso, reconduzo-me hoje também à reflexão axiológica, na esteira da crítica que o Nazareno teceu à escala dos valores-padrão vigentes no seu tempo e lugar. Se consultarem o capítuo IV, 21-30, do evangelista médico Lucas, ficará facilitada a minha comunicação. Resumindo:

Os valores de então não diferiam substancialmente dos que hoje correm no câmbio de uma sociedade classista, onde o estatuto social, a árvore genealógica, a toponímia e o a geografia de berço ganham foros de poder e condenam às galés (leia-se:‘valetas’) quem não alinhar pela mesma cor, pelo mesmo sangue ou pelo mesmo clã. O Líder Taumaturgo da Galileia sofreu na pele o duro aguilhão da descriminação social e territorial que, no caso, consumava-se no segmento da descriminação racial. É filho do carpinteiro, ainda por cima é galileu!... O “Doce Rabi” não fez por menos e ripostou: Só na sua terra o profeta é mal visto e desprezado. E – informam  textos paralelos – voltou as costas e dirigiu-se a outra região, Cafarnaum, onde ensinou e operou espantosas curas.

Quão versátil, injusta e falseada é a tabela de preços no hipermercado dos valores! Nesta “sociedade líquida”, como a classificou Zygmunt Bauman, os valores esvaem-se pelos dedos do tráfico, pelas hidras das magistraturas várias, pelos veludos da corrupção – “Compra-se tudo, vende-se tudo”, sentenciava a Velha Senhora, de Friederich Durrenmatt – na banca, no empresariado, na política e até na religião.

Casos exemplares têm confirmado a trajectória persistente de madeirenses vencedores além-Ponta de São Lourenço. Na Igreja, nas Universidades, na Música, no Desporto, na Literatura, no Ensino, mercê da competência e da consciência profissional com que desempenharam o seu múnus. Tiveram de sair, porque se cá ficassem seriam encadernados, encaixotados ou, pior, postos em hasta pública à irrisão de governantes, imprensas, áudio-visuais e quejandos. Cito o mais recente, o Bispo José de Ornelas, nomeado para a grande diocese de Leiria-Fátima. Natural do concelho de Machico, freguesia do Porto da Cruz, granjeou simpatia e sereno ‘empoderamento’ noutras paragens, unindo no mesmo tronco a simplicidade, a modéstia e o talento. Parabéns e Sucesso.

Nunca se sabe onde se escondem os verdadeiros valores, os genuínos. Sob um chão aparente de folhas outonais, podem florir revéberos de viçosas primaveras. Meus olhos o viram quando menos esperava. Tendo acabado de adquirir o último  livro de Thimoty Radcliffe, o grande teólogo e espiritualista O.P., deparei-me na rua com um motorista agarrado ao volante do seu camião, enquanto o ajudante descarregava mercadoria. Um camionista normal, igual aos outros. Olhou-me as mãos e disparou: “Tem aí um grande livro”, ao que perguntei, de imediato: “Mas… já o leu?” – “Já li, sim senhor. Tem aí um grande livro”, repetiu.

Quem tal diria?!...Lição antecipada, ministrada por um – aparente – simples trabalhador! Passará quase incógnito diante de muitos empresários, fornecedores, comerciantes, montes de mercadorias. Mas, afianço,  ali vai um intelectual, um pesquisador da verdade. Pouco lhe importa o conceito que dele tenham os outros. Ele é o genuíno “Operário em Construção” – diria Vinicius de Morais!

Seja embora efémera e líquida a sociedade, construamos a ponte sólida da nossa passagem sobre a corrente! O Pensamento, a Acção!!!

 

29.Jan.22

Martins Júnior     

1 comentário:

  1. Construtores de catedrais... Juscelino, presidente do brasil e idealizador de Brasília, certa ocasião visitou a catedral em obras... Inteirou-se do que estavam fazendo ao perguntar aos operários o seu oficio..... Entre tanto, um carregador de tijolos, espanhol, disse: estou construindo uma Catedral! Não importa o que fazemos... desde que seja com um objetivo de fazer o melhor....

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