Ao
tocar as teclas deste instrumento ‘pensante’ eu só queria que ele fosse um
cursor ininterrupto, todo o dia toda a
noite e mais um dia, até parar ofegante e cantante na manhã de um sábado aleluiático.
Mas
não é como eu quero. Porque, hoje, de
quinta para sexta-feira, tudo me lembra uma outra quinta e outra sexta da chamada
Semana Maior do Ano, faz agora precisamente uma semana. Aquela fora a noite da
amargura e do pavor, em que o suor do rosto se desfez em sangue num tal horto
de oliveiras. Esta, a de hoje para amanhã, foi a noite de todos os sonhos e de
todos os pesadelos. O sonho de restituir a Liberdade a um Povo agrilhoado. E o pesadelo do exílio, da masmorra de todos os tarrafais e,
por fim, a morte incógnita.
Foi
a noite em que um jovem capitão disse adeus à esposa grávida – “Não sei se
voltarei para poder ver nascer o nosso
filho “ - foi a noite em que a adrenalina
patriótica tentava abafar os resquícios do medo que serpeavam nos tendões e nas
veias de capitães, sargentos e praças. Nos quartéis, nas casernas, nos “reforços”
das sentinelas, quando eram mais pesadas as pulsações e o pavor tolhia os
ossos, logo a voz clamorosa dos milhares de jovens mortos em combate colonial… logo
os gemidos de tantos presos inocentes sujeitos à tortura… logo o grito de tantas
mães, esposas, filhos diante dos portões de peniches e caxias… e logo, também, a miséria de um Povo escravo, condenado à
gleba, enfim, logo todo este tormentoso coro soltava os ânimos dos bandeirantes
heróis da Pátria.
Foi
há quarenta e seis anos!
Todos
bateram palmas, todos ergueram cravos rubros, cor do sol nascente. Abril a
findar e Portugal a ressuscitar!
Foi
belo, exaltante, avassalador. Mas só em 25! Porque, neste 23 e 24, tudo era
sombrio e tão ardente que não deixava cair as pálpebras cansadas e ávidas, na incerteza se dali nasceria a alvorada do Dia
Novo ou o vulcão que a todos os devoraria.
Perante
toda esta saga libertadora e bela, quem – Português de gema, filho de Povo –
quem poderá esquivar-se, acocorar as pernas ou encolher os ombros, seja por que
motivo for?... E já que, por circunstâncias óbvias, Portugal não pode sair à rua para respirar e
segurar o troféu da Liberdade, então sejamos nós a exigir que os nossos
representantes parlamentares (e a quem passámos solene procuração), à
semelhança de outrora, a da Restauração em 1640 e da República em 1910, levantem bem alto ou, ao
menos não deixem tombar, “o esplendor de Portugal”, proclamando na
Casa-Madre-Pátria, a Assembleia da República, o Dia em que de escravos da
ditadura passámos a homens e mulheres livres. Mutatis mutandis, foi a nossa Páscoa gloriosa!
Eu
sei que nem o espírito de Abril mata o ‘Covid-19’ nem o espírito celeste
imuniza os corpos dos contados deputados que lá estarão. Mas então, inventem
antídoto científico e ‘armadura’ pacífica para que, em respeito e gratidão aos
heróis de Abril, ressoe outra vez na estrutura globo-circular do Parlamento
este grito: ”Viva a Liberdade! Fascismo Nunca Mais”!
Quanto folgaria eu, ainda que com muito
esforço, por ver entre os opositores uma argumentação isenta e plausível, de
modo a que fosse mais clara a oposição: se aos malefícios do vírus, se aos
benefícios de Abril…
Finalmente,
os nossos procuradores têm de dar um sinal de esperança aos seus constituintes,
o Povo Português. E o sinal não suporta equívocos e é este: Sabendo-se, pela
História, que é nos interstícios das crises e calamidades que proliferam os
vírus de totalitarismos supervenientes, mostrem-nos – a nós e ao mundo - que “A Ditadura não voltará e o Fascismo não
passará”!!!
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Embora sem ajuntamentos, Machico mostrará que
foi, é e será sempre “Terra de Abril”. Estejam atentos.
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23/24.Abr.20
Martins
Júnior
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