quinta-feira, 23 de abril de 2020

UMA QUINTA–E-SEXTA ENTRE O PESADELO E O SONHO


                                                

Ao tocar as teclas deste instrumento ‘pensante’ eu só queria que ele fosse   um cursor ininterrupto, todo o dia  toda a noite e mais um dia, até parar ofegante e cantante na manhã  de um sábado aleluiático.
Mas não é como eu quero.  Porque, hoje, de quinta para sexta-feira, tudo me lembra uma outra quinta e outra sexta da chamada Semana Maior do Ano, faz agora precisamente uma semana. Aquela fora a noite da amargura e do pavor, em que o suor do rosto se desfez em sangue num tal horto de oliveiras. Esta, a de hoje para amanhã, foi a noite de todos os sonhos e de todos os pesadelos. O sonho de restituir a Liberdade a um Povo agrilhoado.  E o pesadelo  do exílio, da masmorra de todos os tarrafais e, por fim, a morte incógnita.
Foi a noite em que um jovem capitão disse adeus à esposa grávida – “Não sei se voltarei para poder ver  nascer o nosso filho “ -  foi a noite em que a adrenalina patriótica tentava abafar os resquícios do medo que serpeavam nos tendões e nas veias de capitães, sargentos e praças. Nos quartéis, nas casernas, nos “reforços” das sentinelas, quando eram mais pesadas as pulsações e o pavor tolhia os ossos, logo a voz clamorosa dos milhares de jovens mortos em combate colonial… logo os gemidos de tantos presos inocentes sujeitos à tortura… logo o grito de tantas mães, esposas, filhos diante dos portões de peniches e caxias… e logo, também,  a miséria de um Povo escravo, condenado à gleba, enfim, logo todo este tormentoso coro soltava os ânimos dos bandeirantes heróis da Pátria.
Foi há quarenta e seis anos!
Todos bateram palmas, todos ergueram cravos rubros, cor do sol nascente. Abril a findar e Portugal a ressuscitar!
Foi belo, exaltante, avassalador. Mas só em 25! Porque, neste 23 e 24, tudo era sombrio e tão ardente que não deixava cair as pálpebras cansadas e ávidas,  na incerteza se dali nasceria a alvorada do Dia Novo ou o vulcão que a todos os devoraria.
Perante toda esta saga libertadora e bela, quem – Português de gema, filho de Povo – quem poderá esquivar-se, acocorar as pernas ou encolher os ombros, seja por que motivo for?... E já que, por circunstâncias óbvias,  Portugal não pode sair à rua para respirar e segurar o troféu da Liberdade, então sejamos nós a exigir que os nossos representantes parlamentares (e a quem passámos solene procuração), à semelhança de outrora, a da Restauração em 1640 e  da República em 1910, levantem bem alto ou, ao menos não deixem tombar, “o esplendor de Portugal”, proclamando na Casa-Madre-Pátria, a Assembleia da República, o Dia em que de escravos da ditadura passámos a homens e mulheres livres. Mutatis mutandis, foi a nossa Páscoa gloriosa!
Eu sei que nem o espírito de Abril mata o ‘Covid-19’ nem o espírito celeste imuniza os corpos dos contados deputados que lá estarão. Mas então, inventem antídoto científico e ‘armadura’ pacífica para que, em respeito e gratidão aos heróis de Abril, ressoe outra vez na estrutura globo-circular do Parlamento este grito: ”Viva a Liberdade! Fascismo Nunca Mais”!
 Quanto folgaria eu, ainda que com muito esforço, por ver entre os opositores uma argumentação isenta e plausível, de modo a que fosse mais clara a oposição: se aos malefícios do vírus, se aos benefícios de Abril…
Finalmente, os nossos procuradores têm de dar um sinal de esperança aos seus constituintes, o Povo Português. E o sinal não suporta equívocos e é este: Sabendo-se, pela História, que é nos interstícios das crises e calamidades que proliferam os vírus de totalitarismos supervenientes, mostrem-nos – a nós e ao mundo - que  “A Ditadura não voltará e o Fascismo não passará”!!!
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 Embora sem ajuntamentos, Machico mostrará que foi, é e será sempre “Terra de Abril”. Estejam atentos.
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23/24.Abr.20
Martins Júnior   

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