Chamar
ao 7 de Abril “Dia Mundial da Saúde” não
passa de uma rotunda redundância. Com efeito, qual é o dia e qual é a hora,
qual o ano e qual o mês em que a Saúde não seja rainha e senhora?... Sobretudo,
a partir deste Janeiro e Fevereiro, temos sentido à flor da pele que da Saúde são
todos os dias e todas as noites da nossa vida.
Nesta
dança – Oh, o belo e surpreendente balancear da “Dança da Morte” de August
Strindberg! – há um fulgor renascido diante daqueles que, consoante testemunho
dos próprios, já estiveram do “outro lado” e, magicamente, regressaram à vida. Diga-o o “De
Profundis-Valsa Lenta” do nosso José Cardoso Pires. Os valores da praxe social e
o seu relativismo, as pessoas e o seu tamanho, as verdades tidas como
absolutas, as ocupações fúteis e as preocupações inúteis – tudo reaparece em
contornos de ‘luz oblíqua’ e faz-nos cair na real, distinguindo em alto relevo
o verdadeiro do falso, o essencial do acessório, o estável do transitório.
Não
terá sido o caso, mas decerto que não será alheio ao momento presente, a
entrevista que o bem conhecido filósofo e teólogo Prof. Anselmo Borges concedeu,
sábado último, ao semanário SOL. Para
quem, já o conhece (como nós madeirenses que vária vezes tivemo-lo na ‘UMa’ e
em diversas escolas da ilha) não estranhou a profundidade e a firme coerência
do seu acervo pensamental. Nesta altura, porém, em que coincidentemente o ‘Covid-19’
põe tudo do avesso – o poder, o dinheiro, a ciência, os regimes, as igrejas – aparece
o pensamento do Prof. Anselmo Borges no
horizonte do século XXI como aquele raio
de sol iluminante que separa a luz das trevas ou, pelo menos, das sombras conjecturais e conjunturais, fazendo
jus, neste caso, ao título do semanário.
Para
crentes e não crentes, o Padre e Docente jubilado da “Filosofia das Religiões”
da Universidade de Coimbra entra decididamente na floresta, tantas vezes
obscura, sinuosa e dúbia, de determinados conteúdos da Igreja, mesclados de
dogma e tradição infundadamente aceites. Com a frontalidade do seu estilo claro
e lapidar, responde de forma directa às questões que lhe são propostas. Devo
confessar que, do muito que tenho lido e acompanhado na literatura da
especialidade, nunca vi algo de tão sólido, corajoso e esclarecedor.
A
comprovar o que trago dito, respigo algumas entradas deste Glossário (breve mas
abrangente) da Teologia Bíblica:
“Jesus ressuscitou?... O Anjo apareceu a
Maria?... Jesus andou sobre as águas?...
Concelebrar ‘coronaviricamente’?... Há milagres?”...
Poderia acrescentar a este breve elenco
muitas outras descobertas – digo-o, sem titubear, autênticas descobertas – que o
Prof. Anselmo Borges tem revelado no aprofundamento do binómio Ciência e Fé, Logos e Amor,
Filosofia e Teologia. Além de que o Prof. Anselmo Borges, tem sido em Portugal o mais lídimo intérprete
do universo do Papa Francisco, conforme demonstra a vasta obra já publicada. Deixarei
para amanhã o caudaloso filão ideo-teológico-litúrgico que decorre do
pensamento borgeano acerca da Eucaristia, um dos eixos centrais desta Semana
Maior.
No turbilhão noticioso que inunda as 24
horas dos nossos dias, importa captar as “Lições de Abismo” (diria Gustavo
Corção) que o actual momento nos proporciona, a vários níveis, tal como os
analistas costumam sintetizar neste desiderato tão nobre quanto utópico: “De futuro,
veremos o mundo com outros olhos”. Outrotanto, auguramos para o mundo da crença, para a descoberta da
ultimidade, que é o timbre de toda a mundividência do Prof. Anselmo Borges.
Concluo (sem terminar…) com este voto: Seria uma promissora manhã de Páscoa para o mundo actual e para as
gerações vindouras se o Prof. Anselmo Borges reunisse os seus escritos numa sua
“Summa Theologica”, na esteira dos
grandes pensadores como Tomás de Aquino. Ficamos de guarda!
07.Abr.20
Martins Júnior
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