Porque hoje é sábado e noite dos
regressos
tragam-me pá e enxada para exumar
quantos amei
E onde acharei
asas d’águia para agarrar
as cinzas várias que o fumo branco
levou em rolos de saudade mundo além?
Só sei que amanhã domingo
será sempre sábado
e por muito que espere e desespere
será sempre o mesmo sábado
e a mesma noite sem regressos
Mas sei também que enxada
e pá e asas d’águia estão dentro de mim
e dentro de mim moram os crânios, as
veias, o lume novo
das cinzas devolutas e das valas
que em vão demando e chamo à vida
Dois mil e mais
Aleluias pascais
Cansas de ouvir cantar-te ó bravo
Nazareno
Cantam-te os vivos-mortos e os
mortos-vivos
Cantam-te já os longínquos nascituros
No embalado seu berço sereno
Mas se em mim não houver
pá e enxada e asas
nunca haverá domingo redivivo
e será escura e vã
a tua apolínea manhã
de repetida Páscoa sem futuro
11.Abr.20
Martins Júnior
Fabuloso poema!
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