Poucas
palavras acrescentarei às que hoje deixei escritas no “FUNCHAL NOTÍCIAS” e às
palavras ditas, interiorizadas, às 16 H, na comemoração da Quinta-Feira Maior,
via facebook, Ribeira Seca.
É
que hoje o nome que define o dia todo é: Amor. Mas hoje, também, é o dia em que
se enlaça e aperta, como um nó na garganta, uma outra realidade: a Morte
iminente. Que largueza e fundura o coração do Nazareno! Sabendo a pena
capital que o espera na sexta-feira – a morte
mais cruenta e humilhante – convida os colaboradores directos, os Doze, (o traidor,
inclusive) e oferece-lhes uma ceia frugal, com sabor à terra e à vida: pão e
vinho. Com o pesaroso espinho da despedida cravado no peito, deixou-lhes em
testamento um mandato não menos doloroso: “Fazei isto em memória de Mim” . “Isto” quer significar não só o pão e o vinho à mesa, mas o que “isso”
traz dentro: o corpo, o sangue, a alma, o animus
, o sonho, a coerência, a entrega incondicional a uma causa irrecusável:
restituir a cada ser humano a dignidade original, esmagada e vilipendiada ao
longo dos tempos pela sevícia mais ignóbil dos poderes malignos.
Só que esse sonho e essa causa tinham a
forma e o tamanho de dois longos, infinitos braços. Traçados um no outro faziam
( fazem e farão) uma cruz perfeita. Aí, no seu centro nuclear, moram o Amor e a
Morte.
Ele aceitou-os. No último adeus,
reafirmou-o sem rodeios. E sem espectacularidade nem pompa. Não num templo sumptuoso,
mas numa casa que pediu de empréstimo a um amigo, certamente porque na sua não
houvesse sala onde coubessem treze
pessoas. A eloquência da simplicidade e a sua nudez sincera e avassaladora! Que
contraste com o protocolo aristocrático de certas comemorações, onde o assento
familiar é substituído pela sedosa poltrona, ridiculamente erguida em trono
real...
Fim de tarde, de um contraditório sabor
agridoce: a doçura do Amor e o amargor da morte anunciada! Mas foi maior a força
do Amor. A alma dos poetas – videntes que penetram o invisível – é testemunha e
intérprete desta estranha simbiose:
Mors-Amor. Assim, Antero Quental que, na densa noite escura vê a Morte na
figura de um corcel ameaçador,
estremecendo “horror nas crinas agitadas”. Mas na mesma hora, “um cavaleiro dc
expressão potente”
Cavalga
a fera estranha sem temor
E
o corcel negro diz “Eu sou a Morte”
Respondendo
o cavaleiro:”Eu sou o Amor”
Nesta
noite, Jesus não ouviu o trote do “negro corcel”, mas sentiu as vascas da
agonia, o estrepitoso sobressalto da
sexta-feira, o julgamento mais cruel, a derrota anunciada, o abandono de todos,
até do “Seu Pai”.
Quem
pode dormir esta noite?!...
09.Abr.20
Martins Júnior
....bom dia.... O Padre Martins no seu melhor! Boas Páscoas!
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