Já
se sabia.
E
já se esperava que o árbitro da vida havia de soar e dar por terminada a
partida. Contigo a puxar, a vitória era sempre nossa. Agora é toda tua!
Outros
ficarão com a merecida imagem do Sá, ternurento e dedicado, gigante e calmo. “Leão
com coração de passarinho”, dizia-lhe eu muitas vezes, repetindo o poema de  Guerra Junqueiro. Onde estava o Sá, a paz
estava lá, De tão alto que era, seus olhos mansos desciam ao nível dos nossos,  com o mesmo sorriso franco, que umas vezes era
festa, outras ironia fidalga, mas sempre serena e segura. Até nas horas amargas
que ele, em finais da sua vida pastoral,  curtiu em silêncio perante a incompreensão de
certas hierarquias. Só com os amigos desabafava, com mágoa mas sem rancores.
Porque ele era maior que a vil baixeza dos mortais pigmeus. 
Mas
eu prefiro vê-lo na sua e minha juventude, alinhando nos “Maias”, o club rival
do “Lusitano”, a que pertencia o Sumares, (saíu mais cedo do torneio da
vida).  No parque de jogos do Seminário da
Encarnação e, mais tarde, noutros campos de volley  da cidade com equipas oficiais, era o Sá o
puxador  e  eu o seu inseparável passador/servidor. Estou
a sentir-me mais leve só de lembrar-me quando lhe levantava a bola e ele,
atlético,  vistoso e altaneiro, de braço
esquerdo ou direito, de frente ou de costas, fazia estalar o campo adversário e
enchia de aplausos as bancadas assistentes.  Ele era ali, de nome próprio, "Arcanjo" dominador na peleja construtiva entre amigos do desporto! Formávamos uma dupla tão perfeita,
modéstia à parte, que o velho Nacional, então uma das melhores equipas da
modalidade em Portugal (eram os tempos do famosos Serrão, do polivalente
Teixeira, já transferidos para mais longe) pretendia incluir-nos  no seu
plantel.  Dá-me gosto escrever este
parágrafo para demonstrar a quem não saiba que naquela expressão de  pacifista nato morava uma central energética
de força vital que, na hora certa, expandia fulgor e chama  à sua volta.
Deixou-nos
no dia de São Martinho, numa  manhã clara
e efusiva como ele queria fosse a vida de toda a gente.
Desta
vez, foste tu que transpuseste a rede fatal do estádio da vida. E, por enquanto,
fui eu a fazer-te o “passe” para o remate final. Até que um dia outros me
passem a bola para alcançar o outro campo onde já te encontras vitorioso e
livre. Como  saem os heróis anónimos na
hora do apito final! 
11.Nov.15
Martins Júnior

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