O espectáculo começou na
ribalta. Agora está na rua. Mas é na retina do espectador que o cenário se
consuma e define. Qual o olhar, tal a consistência e tal o efeito real da acção
em palco. Assim sucede nos mais diversos movimentos da actividade humana, mas
particularmente no “Grande Teatro do Mundo” em que é protagonista a ciência-arte da
Política.
As eleições legislativas
de Espanha aí estão expostas aos analistas, fervem no caldeirão da opinião
pública e são servidas conforme as pupilas e as papilas dos observadores,
recolhendo cada qual o que mais sabe ao seu próprio apetite. Da minha parte,
dois aspectos, ambos conectados, prenderam a minha atenção.
O primeiro: a afirmação
da juventude no plano da acção governativa de um país. Diante dos nossos olhos
desfilaram os futuros “donos” da respública,
os condutores de um povo imenso (neste caso, Espanha) em cujas mãos está o
destino de milhões de humanos, dentro e fora do território nacional. Vimos
Sanchez, Rivera, Abascal e Casado, este o menos jovem e o maior perdedor. A “Revolta
dos Jovens” toma proporções avassaladoras no panorama político das nações, na
Europa também, cujo caso paradigmático é o de Macron, em França. Fora do espaço
europeu, a tendência reforça-se, como é notório no caso Venezuela, com Juan
Guaidó. Louvável, prima facie, este
surto ascensional das gerações emergentes, pela energia e pelo espírito
generoso com que abraçam tamanhas responsabilidades. E se os eleitores optam
por esta viragem etária, não apenas pelo “fastio do mesmo” ou pelo impulso
imediatista da mudança, mas tão-só em atenção ao potencial promissor dos mais
novos, então serão de aplaudir tais opções.
No entanto, uma outra
onda varre o mundo contemporâneo: o assustador crescendo das ideologias
fascistas ou fascizantes, dos movimentos xenófobos, servidos pelo populismo
primário, de tendência autoritária, quando não terrorista. E é este o segundo
aspecto que, para além da relativa instabilidade da próxima estrutura governativa
espanhola, se me desenhou no olhar e no consciente perante os resultados
eleitorais de nuestros hermanos. Ao
optimismo de um novo cenário político, europeu ou mundial, liderado por jovens,
ajunta-se o espinho de uma dúvida que teima em ficar. Basta para tanto
constatar a arremetida “furiosa” do Vox, de
raiz assumidamente franquista, que no Parlamento espanhol pretende sem
escrúpulos reinstaurar o fascismo e a tortura do “Generalíssimo”, que tantos
milhares de vítimas causou no país vizinho. A este propósito, não é possível
esquecer o ditador português Oliveira Salazar que, tendo sido eleito deputado
pelo Centro Católico em 1921, ministro das Finanças em 1926 (37 anos),
idolatrado como o “Jovem Salvador da Pátria”, acabou por impor durante 48 anos
o regime ditatorial mais repressivo do século XX em Portugal.
Saudamos todos os ideais
que a juventude projecta para o mundo, desde que os seus titulares, uma vez
eleitos, não comecem a envelhecer. É que há corporações e movimentos, onde se
entra jovem e acaba-se caduco e corrupto em pouco tempo.
Bons ventos e bons
andamentos para Espanha e para o Mundo!
29.Abr.19
Martins
Júnior
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