Julho – antecipado sol de
Abril em terras de França! Em 14 de 1789,
a heróica “Tomada da Bastilha”, baluartde olímpico do derrube do ‘Ancien Régime’
e do absolutismo reinante. E em 19 de 1885 nasce um português que em terras da
Gália libertou dos fornos da morte dezenas de milhares de seres humanos presos à
fila dos condenados ao genocídio nazi.
19
de Julho de 2024! Em Cabanas de Viriato renasce um velho palácio, antes mudo e
quedo, agora iluminado com o timbre das madrugadas estivais. Quem o fez, qual o
mago reformista, que pôs alma e lume novo nas cinzas de um chão proscrito?
Quem
foi?... Um filho clonado do Proto-Viriato, aquele que nos primórdios da
portugalidade ousou afrontar a soldadesca do imperialismo romano. Foi ele, o
novel Viriato, não na guerrilha das montanhas, mas na mais sangrenta ditadura
urbana. Tem um nome que, a partir de hoje, ilumina todas as noites viseenses e
todos os meandros da história: ARISTIDES DE SOUSA MENDES!
Ele
– diplomata e humanista, esposo exemplar e pai de quatorze filhos, visionário e empreendedor e, no apogeu da ascensão
existencial, um Herói!
Mas,
por mais encomiásticos panegíricos que lhe dediquem os historiadores, faltar-lhe-á
sempre o principal, o único exponencial: UM DESOBEDIENTE !!! Marginal,
desalinhado, refractário, fora-de-lei, provocador, revolucionário - todos os
sinónimos, que houve e que os houver no dicionário dos povos. Mas todos
reconduzir-se-ão ao único estruturalmente definidor deste homem: DESOBEDIENTE.
Ele
subverteu a anquilosada semântica do vocábulo “Desobediência”, até então carregada
de rebeldia, contradição, destruição e até loucura. Ele demonstrou que
Desobedecer é um Dever quando as leis e os seus agentes afrontam a dignidade humana.
Em tempos de cegueira generalizada, Desobediência é Lucidez. E quando a
anestesia colectiva assiste e assina a destruição, a morte lenta de um povo,
Desobedecer é Re-Viver, voltar à Vida, Ressuscitar.
Desobedeceu
ao regime salazarista. E pagou caro a coragem de ter restituído à Vida gerações
vindouras, descendentes dos milhares de homens e mulheres sem outro futuro além
do crematório hitleriano. Pagou com a miséria, a fome e a desonra pública, a
sua e a dos quatorze filhos inocentes, alguns ainda no regaço da própria mãe.
Ele pertence àquela estirpe liderada pelo Nazareno Mártir, ao lado de Joana d’Arc,
Álvares de Nóbrega, (madeirense) Luther King, Navalny e tantos outros que os
regimes totalitários mandaram a terra comê-los e esquecê-los.
É
belo, é justo, intemporal o agora palácio-museu de Cabanas de Viriato. Mas
fica-nos no peito a poção amarga que o poeta Reinaldo Ferreira escreveu em
Moçambique: “O Herói serve-se morto”! Até quando?!...
Não
consigo reprimir o apelo interior quando medito em Aristides de Sousa Mendes e
em todos os desobedientes vítimas da sua Lucidez pró-Humanidade. Esse apelo,
mote inspirador de subsequentes reflexões, consiste no seguinte dilema: Muito
se apregoa o ‘heroísmo’ dos mobilizados para a guerra colonial – eu fui um
deles – e até se defendem prebendas para aqueles que, embora forçados, foram em
terras africanas apoiar e, se possível, perpetuar o regime da ditadura
salazarista. Eu pergunto: E os que se recusaram a combater, os que foram atirados
ao fosso mortuário de Caxias, Peniche, Tarrafal, os que viram a sua vida social
e familiar barbaramente destruída? Estes, a quem devemos o derrube do totalitarismo
português e a conquista da Alvorada de Abril? Estes, os Desobedientes, genuínos
descendentes de Aristide de Sousa Mendes?...
São
os Desobedientes que fazem mover a História !!!
19-21.Jul. 2024
-Martins Júnior
"São os Desobedientes que fazem mover a História!!!", diria que são os que fazem, já fora do seu tempo, os triunfos da História.
ResponderEliminarAristides de Sousa Mendes, foi herói em plena guerra, um Schindler para muitos, um desobediente por sacrifício é seu nome lacrado nos livros e na história. Foi dele o processo de salvar pessoas.
ResponderEliminar