Permitam-me abrir este ‘mono-diálogo’ consigo, colocando uma pergunta vulgar: “Quem é capaz de entrar a gosto em Agosto?... Neste Agosto/24?... Diante deste circo planetário, circo cercado de pólvora, encharcado em sangue, apertado entre cordas de aço rolado, quem será o extra-terrestre capaz de rasgar a cortina de ferro em que nós, terráqueos, estamos condenados a viver?...
Agosto,
Setembro ou Dezembro, já cá estamos desde que nascemos. E assistimos, impávidos
mas não serenos, ao que por aí vai. Por laços de afinidade familiar ou social,
toca-nos mais de perto o sub-mundo (há
quem lhe chame o poço da morte) denominado Venezuela - um nome que, para os madeirenses,
tem tanto de riqueza e glória, como de miséria e morte.
Não
vou ocupar-me desse ‘bunker’ autofágico em que se transformou aquela que foi ‘Terra de Promissão’, sobretudo
para a diáspora ibérica. Apenas vou responder a uma incógnita que me persegue
desde a primeira hora da subida de Maduro ao
trono venezuelano: Será que cada terra
tem o seu ‘MADURO’? Uma cordilheira de ilhas tem um ‘MegaMaduro’ e uma pequena ilha pode
ter um ‘Mini Maduro’, um madurete? Ou
seja: um grande continente pode ter um Tirano e uma pequena aldeia um tiranete!
Na mesma equação até se fala de um ‘Grand-Hitler’ e de um ‘petit-hitler’ ou de
um ‘Super-Salazar e de um ‘petit-salazar’. São todos iguais, diferindo apenas
no aspecto quantitativo, mas são os mesmos qualitativamente, isto é, agem da
mesma forma, actuam com as mesmas ganas e as mesmas garras predadoras,
sufocantes, arrasadoras.
E
nestas cogitações lembrei-me de uma Ilha - a nossa, a Madeira – e um restrito
concelho, Machico. Acudiram-me logo as semelhanças:
PRIMEIRO.
Lá fora, Maduro proibiu a fiscalização na contagem de votos, até expulsou
observadores internacionais convidados para testemunhar a veracidade eleitoral.
Cá dentro, numa freguesia nortenha, pertencente ao concelho, os delegados da
principal lista concorrente eram insultados nas mesas de voto, com tal
veemência que, terminada a votação às 19 horas, viam-se forçadas a sair da sala
sob pena de espancamento. Aconteceu o insólito, selvático: quando uma vez
ousaram os delegados ficar até ao fim, tiveram de fugir, saltando poios e
valados, valeu-lhes o delegado da lista do CDS que lhes deu boleia até Machico.
SEGUNDO: Passam-se agora vários anos, quando numerosas
camionetes cheias de excursionistas de Machico, mais precisamente da Ribeira
Seca, (que o M.A.D.U.R.O. regional
invectivava publicamente de ‘terceiro mundo’ e comunistas) ao regressarem do
tradicional arraial de Ponta
Delgada, Madeira, e
passando pela freguesia citada no parágrafo anterior, único
percurso obrigatório, foram barbaramente apedrejadas. Embora se subentendam,
para quem teve conhecimento na altura, os nomes de locais e figurantes,
dispenso-me de citá-los, porque não foi o povo o autor desses atentados, mas
sim o ‘Madurete’ da ilha.
TERCEIRO:
Sucedeu comigo mesmo. Decorriam as eleições autárquicas de 1989. Era eu cabeça
de lista à Câmara Municipal, com o direito legal de entrar na sala das
votações. Ora, estando dentro, avançou contra mim um sujeito, bigodes largos,
sertanejos – era um emigrado, recém-vindo de Caracas, com um estabelecimento
ainda fresco numa pequena freguesia, contígua à anterior e, por via disso,
candidato à respectiva Junta – pois o homem empurra-me, grita “Sai já daqui
p’rà rua, já”, mostrei-lhe a credencial – qual credencial! – agarra-me pelos
braços e eu não tive outro recurso senão chamar a PSP de Machico, ficando então
o ‘venezuelano’ acalmado. Tive pena dele. Mais ainda, quando fui eu eleito para
a presidência da Câmara. O homem, depois dos resultados, veio à Câmara
desfazendo-se em mil desculpas “Senhor presidente, eu fiz aquilo sem conhecer a
lei, mandaram-me fazer aquilo”, perdone-me!) e ficámos amigos, ele
presidente da Junta e eu presidente da Câmara em listas opostas. Curioso: Lá na
Venezuela, ainda não havia Maduro, mas cá na ilha já nascera e imperava um
M.A.D.U.R.O, ‘petit-salazar’!
QUARTO:
Aconteceu na Escola Secundária de Machico, onde disputavam o Conselho Directivo
duas listas, uma das quais afecta e mandatada pelo governo regional. Ganhou a
lista contrária, à qual pertencia, entre outros, o dr. Bernardo Martins. Na Venezuela, o
Maduro de lá jurou, ameaçou que a Oposição nunca ganharia as eleições. Mas o
M.A.D.U.R.O. de cá não ameaçou nem teve com meias medidas: “Essa lista não
fica. Fica a outra”! Houve discussões, pequenas escaramuças, transferências de
professores. Mas ficou a outra. Entre os dois – o Maduro e o Madurete, entre o
Tirano e o tiranete – descubram as diferenças e muito mais as semelhanças…
QUINTO:
“E se for necessário voltar à ‘botas cardadas’, não hesitaremos” – palavras
proferidas em plena Assembleia Regional. Botas cardadas são expressões
indiciárias dos ataques à bomba perpetrados pelos terroristas da FLAMA. Na
década de 70, com destruição e mortes à mistura. Maduro de Caracas falava em
‘banho de sangue’. Aqui, na Madeira Madureira, a palavra acesa era de violência
nua e crua. Ainda na Assembleia Regional, ouvi eu: “E se a diocese precisar de
ocupar e tomar conta daquele campanário (referia-se à igreja da Ribeira Seca)
estarei pronto a fazê-lo”. E fê-lo, entre 27 de Fevereiro e 17 de Março de
1985, com 70 agentes policiais, sem mandado judicial !!! Qualquer semelhança
não é pura coincidência. Mas perdeu a guerra, porque o povo, sem armas, continuou dono do seu templo, até hoje!.
SEXTO:
Quando o governo regional perdeu a autarquia de Machico para a oposição,, o
Madurete , num antecipado quanto tresloucado resfolegar, idêntico ao Maduro
venezuelano, não teve freio nem pingo de pudor, explodiu: “Para Machico, nem um
tostão”. E fez pior que isso. Mas Machico levou de vencida!
SÉTIMO:
Para manietar a população, Maduro tem como suporte de vida ou de morte, as forças armadas, a comissão eleitoral e os
regimentos policiais. O arvorado M.A.D.U.R.O. teve como aliado o trio mitrado
da diocese, três bispos, qual deles o mais subserviente, o mais invertebrado e o
mais colaboracionista. Esta tríade político-religiosa foi muito mais perigosa e
eficaz que os ‘gendarmes’ da República Bolivariana de Caracas.
Os
sete ‘items’ elencados são uma pequena amostra de um passado que deixou
estigmas vincados na população, embora militantemente apagados pela grande
maioria da comunicação social madeirense. Mas outros há, vividos e sofridos por
cidadãos nossos que têm muito que contar. Trago-os à consideração geral nos
tempos actuais, porque para interpretar
o presente e construir o futuro é incontornável conhecer o passado e o
porquê de estarmos onde estamos.
Para
entrar a gosto neste Agosto/24, fica de pé a verdade insofismável: Se isto não
descambou para a ditadura das ‘botas cardadas’ e para o império Madurete,
tiranete, ‘petit-salazarento’ deve-se à firmeza de princípios da Oposição
Madeirense que, assim espero, continuará a merecer a solidariedade reciproca do
seu povo!
O1-03.Ago.24
Martins
Júnior
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