sábado, 3 de agosto de 2024

EU JÁ VI “M.A.D.U.R.O” … NA MADEIRA … EM MACHICO… HÁ QUASE 50 ANOS !!!

                                                                         


    Permitam-me abrir este ‘mono-diálogo’ consigo, colocando uma pergunta vulgar: “Quem é capaz de entrar a gosto em Agosto?... Neste Agosto/24?...  Diante deste circo planetário, circo cercado de pólvora, encharcado em sangue, apertado entre cordas de aço rolado, quem será o extra-terrestre capaz de rasgar a cortina de ferro em que nós, terráqueos, estamos condenados a viver?...

            Agosto, Setembro ou Dezembro, já cá estamos desde que nascemos. E assistimos, impávidos mas não serenos, ao que por aí vai. Por laços de afinidade familiar ou social, toca-nos  mais de perto o sub-mundo (há quem lhe chame o poço da morte) denominado Venezuela - um nome que, para os madeirenses, tem tanto de riqueza e glória, como de miséria e morte.

            Não vou ocupar-me desse ‘bunker’ autofágico em que se transformou  aquela que foi ‘Terra de Promissão’, sobretudo para a diáspora ibérica. Apenas vou responder a uma incógnita que me persegue desde a primeira hora da subida de Maduro ao  trono venezuelano: Será que cada  terra tem o seu ‘MADURO’? Uma cordilheira de ilhas   tem um ‘MegaMaduro’ e uma pequena ilha pode ter um ‘Mini Maduro’, um madurete?  Ou seja: um grande continente pode ter um Tirano e uma pequena aldeia um tiranete! Na mesma equação até se fala de um ‘Grand-Hitler’ e de um ‘petit-hitler’ ou de um ‘Super-Salazar e de um ‘petit-salazar’. São todos iguais, diferindo apenas no aspecto quantitativo, mas são os mesmos qualitativamente, isto é, agem da mesma forma, actuam com as mesmas ganas e as mesmas garras predadoras, sufocantes, arrasadoras.

            E nestas cogitações lembrei-me de uma Ilha - a nossa, a Madeira – e um restrito concelho, Machico. Acudiram-me logo as semelhanças:

            PRIMEIRO. Lá fora, Maduro proibiu a fiscalização na contagem de votos, até expulsou observadores internacionais convidados para testemunhar a veracidade eleitoral. Cá dentro, numa freguesia nortenha, pertencente ao concelho, os delegados da principal lista concorrente eram insultados nas mesas de voto, com tal veemência que, terminada a votação às 19 horas, viam-se forçadas a sair da sala sob pena de espancamento. Aconteceu o insólito, selvático: quando uma vez ousaram os delegados ficar até ao fim, tiveram de fugir, saltando poios e valados, valeu-lhes o delegado da lista do CDS que lhes deu boleia até Machico.   

             SEGUNDO: Passam-se agora vários anos, quando numerosas camionetes cheias de excursionistas de Machico, mais precisamente da Ribeira Seca, (que o M.A.D.U.R.O.  regional invectivava publicamente de ‘terceiro mundo’ e comunistas) ao regressarem do tradicional  arraial de Ponta Delgada,  Madeira,  e  passando  pela  freguesia citada no parágrafo anterior, único percurso obrigatório, foram barbaramente apedrejadas. Embora se subentendam, para quem teve conhecimento na altura, os nomes de locais e figurantes, dispenso-me de citá-los, porque não foi o povo o autor desses atentados, mas sim o ‘Madurete’ da ilha.

            TERCEIRO: Sucedeu comigo mesmo. Decorriam as eleições autárquicas de 1989. Era eu cabeça de lista à Câmara Municipal, com o direito legal de entrar na sala das votações. Ora, estando dentro, avançou contra mim um sujeito, bigodes largos, sertanejos – era um emigrado, recém-vindo de Caracas, com um estabelecimento ainda fresco numa pequena freguesia, contígua à anterior e, por via disso, candidato à respectiva Junta – pois o homem empurra-me, grita “Sai já daqui p’rà rua, já”, mostrei-lhe a credencial – qual credencial! – agarra-me pelos braços e eu não tive outro recurso senão chamar a PSP de Machico, ficando então o ‘venezuelano’ acalmado. Tive pena dele. Mais ainda, quando fui eu eleito para a presidência da Câmara. O homem, depois dos resultados, veio à Câmara desfazendo-se em mil desculpas “Senhor presidente, eu fiz aquilo sem conhecer a lei, mandaram-me fazer aquilo”, perdone-me!) e ficámos amigos, ele presidente da Junta e eu presidente da Câmara em listas opostas. Curioso: Lá na Venezuela, ainda não havia Maduro, mas cá na ilha já nascera e imperava um M.A.D.U.R.O, ‘petit-salazar’!

            QUARTO: Aconteceu na Escola Secundária de Machico, onde disputavam o Conselho Directivo duas listas, uma das quais afecta e mandatada pelo governo regional. Ganhou a lista contrária, à qual pertencia, entre outros,  o dr. Bernardo Martins. Na Venezuela, o Maduro de lá jurou, ameaçou que a Oposição nunca ganharia as eleições. Mas o M.A.D.U.R.O. de cá não ameaçou nem teve com meias medidas: “Essa lista não fica. Fica a outra”! Houve discussões, pequenas escaramuças, transferências de professores. Mas ficou a outra. Entre os dois – o Maduro e o Madurete, entre o Tirano e o tiranete – descubram as diferenças e muito mais as semelhanças…

            QUINTO: “E se for necessário voltar à ‘botas cardadas’, não hesitaremos” – palavras proferidas em plena Assembleia Regional. Botas cardadas são expressões indiciárias dos ataques à bomba perpetrados pelos terroristas da FLAMA. Na década de 70, com destruição e mortes à mistura. Maduro de Caracas falava em ‘banho de sangue’. Aqui, na Madeira Madureira, a palavra acesa era de violência nua e crua. Ainda na Assembleia Regional, ouvi eu: “E se a diocese precisar de ocupar e tomar conta daquele campanário (referia-se à igreja da Ribeira Seca) estarei pronto a fazê-lo”. E fê-lo, entre 27 de Fevereiro e 17 de Março de 1985, com 70 agentes policiais, sem mandado judicial !!! Qualquer semelhança não é pura coincidência. Mas perdeu a guerra, porque o povo, sem armas,  continuou dono do seu templo, até hoje!.

            SEXTO: Quando o governo regional perdeu a autarquia de Machico para a oposição,, o Madurete , num antecipado quanto tresloucado resfolegar, idêntico ao Maduro venezuelano, não teve freio nem pingo de pudor, explodiu: “Para Machico, nem um tostão”. E fez pior que isso. Mas Machico levou de vencida!

            SÉTIMO: Para manietar a população, Maduro tem como suporte de vida ou de morte,  as forças armadas, a comissão eleitoral e os regimentos policiais. O arvorado M.A.D.U.R.O. teve como aliado o trio mitrado da diocese, três bispos, qual deles o mais subserviente, o mais invertebrado e o mais colaboracionista. Esta tríade político-religiosa foi muito mais perigosa e eficaz que os ‘gendarmes’ da República Bolivariana de Caracas.

            Os sete ‘items’ elencados são uma pequena amostra de um passado que deixou estigmas vincados na população, embora militantemente apagados pela grande maioria da comunicação social madeirense. Mas outros há, vividos e sofridos por cidadãos nossos que têm muito que contar. Trago-os à consideração geral nos tempos actuais, porque para interpretar  o presente e construir o futuro é incontornável conhecer o passado e o porquê de estarmos onde estamos.

            Para entrar a gosto neste Agosto/24, fica de pé a verdade insofismável: Se isto não descambou para a ditadura das ‘botas cardadas’ e para o império Madurete, tiranete, ‘petit-salazarento’ deve-se à firmeza de princípios da Oposição Madeirense que, assim espero, continuará a merecer a solidariedade reciproca do seu povo!

 

            O1-03.Ago.24

            Martins Júnior

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