A
minha primeira saudação para o Prof. André Escórcio tem aquela mesma dimensão
com que termina o seu livro: “Um desabafo”.
Pego
nesta sua deixa e aqui vai o meu
desabafo:
Prof.
André Escórcio, o seu livro deixou-me atordoado, como se uma buldózer esmagasse
todo o percurso escolar de um octogenário formatado
nos velhos manuais. Mas o que para mim foi uma buldózer, depressa interiorizei
que para o universo da propedêutica dita académica o seu livro toma a magnitude
de um tsunami que varre inexoravelmente
entulhos arvorados em monumentos intocáveis, revolve os subterrâneos da inércia
institucional e proclama o advento de uma Nova Era, ou, na expressão dessoutro
visionário, Antero de Quental quando desde as inacabadas “Conferências do Casino”
proclamou a imperiosa necessidade de “Lançar o arco de uma nova ponte”.
Em
que se foi meter o nosso Autor!...
Recorrendo
aos sofisticados monstros da mitologia, o seu livro tem a envergadura de um
Édipo Rei desafiando o enigma da fatal esfinge. Tem a coragem dos valorosos
argonautas lusos derrubando os medos avassaladores dos Adamastores gratuitos
que a sociedade foi alimentando.
Em
que se foi meter, sublinho!...
Quem
ler André Escórcio, ao dobrar a última página, não pode ficar sossegado, a não
ser que tenha deixado embotar até ao último pingo o filão da sua sensibilidade.
Por isso, esta obra poderia ter por subtítulo o Novo Livro do Desassossego.
Porque ele obriga a pensar, a repensar, a interpelar até ao tutano o “porquê” e
o “para quê” do paradigma “sempre foi assim”. Ele aguça os neurónios da nossa
curiosidade, o motor primeiro do conhecimento científico, estribado não apenas
nos abalizados pensadores, filósofos e pedagogos, mas no contacto directo,
quase epidérmico, com o real quotidiano dos seus alunos, dos seus netos, dos
seus colegas. É o saber erudito em articulação perfeita com o saber telúrico,
princípio e fim de todo o método experimental.
Por
isso, esta obra tem a marca do verdadeiro espírito renascentista, justaposto ao
lado de um dos seus lídimos sequazes Luis António Verney no seu “Verdadeiro
Método de Estudar”, precursor das muitas reformas do ensino em Portugal.
Que
mais direi desta sua ousadia, Prof. André Escórcio?...
Mutatis mutandis –
e só o contradiz quem não descer à profundeza do seu pensamento – o contributo
deste livro, nos tempos que correm marcados ainda por réstias de uma
mentalidade medievalista – o seu contributo assemelha-se ao de um Galileu
Galilei que pôs em causa o dogma sacro-profano da interacção entre o Sol e a
Terra. Parafraseando uma canção muito em voga, direi que o Professor demonstra
que a “Escola anda ao contrário… e os rios nascem no mar”. Se o queimarem por isso, renascerá das
próprias cinzas…
Posto
isto, deveria calar-me e dar oportunidade a “quem vier por bem” para mergulhar
no vasto oceano destas páginas onde descobrirá a almejada “Ilha do Outro Mundo”, de que nos
fala Fernando Pessoa, a qual eu denomino de “Educação-Escola”. Atónitos,
descobriremos que a Escola-Educação – mais do que a propalada Economia – ocupa
o Primado da Vida. “Dela advêm todos os bens”, diz o milenar Livro da
Sabedoria. E, acrescento, provêm todos os males, se dela nos afastarmos.
Benvindos,
pois, àquela Ilha que ostenta por título “A ESCOLA É UMA SECA”.
21.Jan.22
Martins
Júnior
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