Porque
nem sempre o título abarca toda a extensão do texto, vou completar, desde já, o
enunciado-supra, acrescentando que um simples feixe luminoso traz dentro de si
a potência propulsora de traçar não só o
projecto de uma vida mas o rumo da própria História.
Eis
a réstia fugaz que nestes dias me tem perseguido:
“Quando há entusiasmo (força
de vontade, convicção) aceita-se de bom grado o que se tem e, na mesma medida,
suporta-se o que se não tem. Completai o plano (de solidariedade) que vós iniciastes
desde o ano passado. Não se trata de vos reduzir à miséria para aliviar os outros. O que ´se pretende á a
igualdade. Na hora presente, o que tendes em
abundância é o que faz falta à indigência dos outros. O importante é
cumprir o que está escrito: Aquele que semeou
e teve a sorte de colher muito não reteve nada em excesso. Igualmente, aquele
que semeou e teve a desdita de colher pouco não sentiu falta de nada. O vosso
supérfluo á o que escasseia aos outros”.
Imensas
e até opostas serão as interpretações deste “panfleto revolucionário”. E esta
é, precisamente, a primeira: trata-se de um programa eleitoralista,
retintamente populista. Outros dirão tratar-se de uma proposta de lei tendente
à justiça distributiva. Alguns forçarão os neurónios e vociferarão anátemas
contra o que classificam de ideologia marxista-leninista, encharcada do mais
obtuso comunismo.
Hoje,
no templo da Ribeira Seca, o Padre José Luís Rodrigues acrescentou-lhe este judicioso
comentário: “Não foi preciso chegar à Revolução Francesa, em 1789, para
proclamar ao mundo os ideais revolucionários da Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Já vêm de muito mais longe”. E
tem toda a razão. Porque o texto citado não tem paternidade político-partidária
nem muito menos qualquer conotação oriunda do Manifesto de Marx, Lenine ou
Engels. Também não pertence aos estatutos de qualquer associação filantrópico-maçónica.
Para
surpresa de muitos e ‘escândalo’ de alguns, o texto tem a assinatura de Saulo
de Tarso, o intrépido Apóstolo São Paulo! Dirigiu-o, há mais de dois mil anos, aos cristãos da cidade de Corinto, louvando-os
pela subscrição que fizeram em benefício dos cristãos de outras regiões
carenciadas. Vem na II Carta aos Coríntios, capítulo VIII. Um espanto! A
iniciativa, decididamente ‘legislativa’, proveio não do Império Romano nem do
Sinédrio Judaico nem sequer da Sinagoga de Jerusalém. Ela radica mais fundo: na
convicção, a que pode chamar-se de entusiasmo evangélico, consciência crística.
Ou talvez, no ADN do próprio direito natural, ao qual o nosso Líder e Mestre
J.Cristo permaneceu estruturalmente fiel.
Confidenciei-vos, acima, que este feixe
luminoso tem-me perseguido nestes dias. Explico: é que no dia 22 de Junho de
1969 foi esta a leitura proposta no calendário litúrgico. Li-a pela primeira
vez aos cristãos da Ribeira Seca, precisamente há 50 anos, ficando desde então
marcados o rumo e o ritmo de uma vida. Sem apelo nem retorno! Enquanto as
forças dominantes deste magro reino ilhéu contorceram-se até às vísceras para
colar a minha luta às matrizes programáticas de partidos ou facções, nada mais
tenho a apresentar senão o texto paulino, daí extraindo as consequências
concretas que ditaram os passos de uma vida, na defesa da Igualdade, em
direitos, deveres e oportunidades, quer na abolição do leonino contrato de
colonia, quer na satisfação das necessidades fundamentais de uma cidadania
comunitária, seja no exercício do múnus pastoral, seja no âmbito da tribuna parlamentar.
Mas
o breve raio de luz que dimana da II Carta aos Coríntios ultrapassa o curto
limite de uma só vida. Infiltra-se na própria história humana e mexe (deveria
mexer!) em todas as estruturas das sociedades. Ficasse apenas um único artigo
(o texto de Paulo Apóstolo) inscrito na Constituição Global do Planeta habitado
– e o Mundo já não seria inferno de rancores ou arena de interesses tribais.
Transfigurar-se-ia no almejado paraíso terreal, onde floresceriam “Liberdade, Igualdade,
Fraternidade” como única e genuína plataforma do Futuro da Humanidade!
23.Jun.19
Martins Júnior
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