sábado, 5 de outubro de 2024

COMO PODE TER NORTE UM BARCO COM COMANDANTE DESNORTEADO?!...

 

Tão cedo interrompo o propósito de, nestas páginas, só dar guarida ao lado positivo dos acontecimentos, tal como aquela lua cheia subindo ao céu por sobre o inferno das montanhas a arder. Por isso, quero reduzir a  poucos parágrafos o espectáculo deprimente  de uma dobadoira rolante, sem direcção, que tem sido dado aos portugueses nestes dias últimos.

Que o mundo anda em transe neurótico é a evidência que começa no chão trágico de Gaza, do Líbano, do Sudão e entra nas nossas casas. Mas o que não se esperava é que fosse dos pacíficos jardins de Belém que rebentassem os fluidos gazes de desestabilização, tremores públicos, “instabilidade social”, numa palavra, de neurose colectiva. Tudo porquê?... “ Alerta, Portugueses! Aí vem o monstro, o furacão assassino, o Armagedon do Fim do Mundo”. E tem um nome híbrido: Dissolução do Parlamento-Convocação de Eleições.

Lá anda, por Seca e Meca, o Inquilino de Belém, entre Profeta da Desgraça e Velho do Restelo, como suprema testemunha de jeová, a ameaçar de porta em porta, de praça em praça, de feira em feira, “Por amor de Deus, evitem a catástrofe nacional”, o dilúvio europeu, que vem arrasar Portugal. Vade retro, abrenuntio!

Mas não é este o mesmo?, que há uns anos andou a pintar por quanto é muro da opinião pública os ferozes dinossauros da mesma Dissolução, campanha nauseabunda , repetida, ensandwuichada, nos media, até na tomada de posse de um governo legitimamente votado  pela população. Afogueado como um combatente e enxuto como um bacalhau, não hesita: desfaz mesmo o Parlamento Nacional composto de uma maioria absoluta, constitucional, segura, imbatível. No gabinete belenense, ele e só ele derruba o estável para dar lugar ao instável, o certo pelo incerto, enfim, a paz institucional pela guerrilha eleitoral, na paranoica sofreguidão de levar ao trono os seus gémeos partidários: ele, pai, parteiro e padrinho deste feitiço, que agora se volta contra o feiticeiro e do qual não pode livrar-se, tirando-lhe o pouco sono que ainda lhe resta, mendigando, rastejando “não caiam na loucura de chumbar o Orçamento”, até chegar ao cúmulo de faltar ao compromisso internacional assumido com a Letónia e a Polónia. Não pode abandonar o país, por dois ou três dias, porque julga-se Luís Vaz de Camões salvando com os braços no ar o Lusíada Orçamento da AD do ciclone que ele próprio desencadeou.

Por aqui me quedo, sem o mínimo interesse de entrar nessa hilariante arena ‘Orçamento ou Morte’, mas apenas para exprimir o que um qualquer  português  médio sente: não nos tomem por parvos e não projectem em nós o desconcerto que abala a(s) cabeça(s) mandante(s) em fim de ciclo.

E, sobretudo, para penitenciar-me por também ter votado no desconexo Dissolutor de Parlamentos.

 

05.Out.24

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