segunda-feira, 7 de outubro de 2024

FATÍDICO DIA 7 – ENTRE SETEMBRO E OUTUBRO !!!

                                                                               


Estranha contradição:  “7” na numerologia bíblica é símbolo de perfeição, acabamento, cúpula do ser – os Sete dias da Criação do mundo, os Sete candelabros do Templo de Jerusalém. Nos tempos que correm, o SETE entre SETEmbro e Outubro fala-nos de destruição, cheira a sangue e prenuncia morte.

         Nem me demoro na evidência bárbara que nos entra em casa a toda a hora: o massacre de 1.200 vítimas do terrorismo do ‘Hamas’ e os 42.000 assassinatos perpetrados pelo bombismo de ‘Israel’. Um avatar sangrento, cujos autores terão fim sem verem o fim do monstro que fabricaram!

         Em dia oportuno, prefiro recordar o 7 de Setembro de 1972, quando senti ‘ao vivo’ o patriotismo genuíno do povo brasileiro na comemoração da sua independência em 1822. Estando eu em Olinda e Recife, assisti a um espectáculo estruturalmente popular nas instalações e  jardins do Paço Episcopal, entregue à população  pelo Arcebispo Helder da Câmara, o tal, apelidado de “bispo vermelho, comunista”, defensor acérrimo da dignidade do ser humano em todas as latitudes e de quem ouvi este corajoso pregão, em tempo da ditadura militar e perante a grande multidão que ali estava: “Dizem os ditadores que eu não quero o progresso do Brasil. Falso! Eu quero o progresso do meu país, mas com os brasileiros, pelos brasileiros e para os brasileiros”. Uma Igreja, uma Religião pelo Povo e contra a ditadura.

         E, ainda no Brasil, trago à página o ocorrido em São Paulo, mais precisamente  no triângulo ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano), com maior incidência em São Bernardo do Campo, onde as eleições para a prefeitura dominam ontem e hoje os seus 810.000 habitantes. Cidade metalúrgica por excelência, “terra sagrada da classe operária”, como lhe chamou o presidente da maior central sindical do Brasil, Moisés Selerges, reconhecendo ele próprio o declínio da esquerda, uma bizarra conjuntura que o jornalista Meyerfeld, na edição de Le Monde de anteontem, resume nestes termos: “Durante cinco décadas consecutivas Lula e São Bernardo do Campo formavam um só. E na segunda volta das eleições presidenciais de 2018, foram 59,57% os sãobernardenses que votaram Jair Bolsonaro”.  

         Perante tão anómala situação, uma outra lhe dá o tom: o candidato indicado por Lula não é um cidadão afecto à esquerda e ao lulismo, mas um pastor evangélico, Luiz Fernando Teixeira, empresário de sucesso, fotografado entre fiéis da sua igreja e outros pastores ultraconservadores. Seu lema é “pela vida e pela família”. E proclama o seu ideário: “Leio a Bíblia todos os dias. A prioridade da minha vida é Cristo e depois o meu próximo”.  Está à vista de todo o mundo uma inquietante inversão de metodologias  sociológicas que se disfarçam numa tal mistela de opções, que o próprio Moisés Selerges comenta, não sem uma nesga de desilusão: “Os pobres acreditam e recorrem mais ao pastor do que ao delegado sindical”.

         Por seu lado, nos Estados Unidos da América, Luís Cabrera, pastor evangélico de uma considerável comunidade latina ( de antigos imigrantes) e fanático apoiante de Ronald Trump, declara abertamente que é dever da Igreja fazer campanha pelo ex-presidente. E fá-lo sem apelo nem agravo – e sem um pingo de pudor – nas homilias do ritual litúrgico a que preside: “Deus está a espera do voto dos eleitores. E não pode ser outro”.

         Enigmática, invertebrada e camaleónica religião que tanto dá para canonizar a vítima e o assassino, erguendo altar-cadafalso onde ao mesmo tempo se adora Deus e o Diabo!  Insuportável deturpação dos valores religiosos e deplorável inversão da estratégia libertadora da acção que ao homem – e só a ele – é devida e exigida.

         Dia “7”, da Senhora do Rosário. Em Roma, o Papa Francisco bem se esforça por chamar a Senhora para acabar a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Podem esperar sentados, porque a casa de Maria, segundo a lenda feita história, já não está lá. Foi transportada pelos anjos para o Loreto de Itália.

          Faz agora um mês, também no dia “7”, que outros “cinco maléficos magníficos”, os do crime organizado, evadiram-se da cadeia de … Vale dos Judeus. Os judeus de Israel, os palestinianos do Hamas, os Lulas e Bolsonaros, os evangélicos da América invocam o seu deus, será o mesmo? O Papa Francisco apela à Senhora do Rosário. E a que deus ou a que  deusa terão prometido vela os celerados para saltar os muros de Vale de Judeus?...

         Até quando viveremos numa cegueira de fabrico próprio e, por isso, incurável ?!

         Quando aprenderemos a lição de um Profeta do século XX, Hélder da Câmara ?!     

    

         07.Out.24

         Martins Júnior

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