Na
moleza da estação dormente deste ano de 2021 coube-nos a dádiva de um
acontecimento ímpar, cuja materialidade objectiva – o desporto atlético nas
suas múltiplas dimensões – remete-nos para um estádio supra-humano,
estruturalmente universal no tempo e no espaço. Falta ainda fazer a merecida
apologia do esforço épico da civilização nipónica na organização dos Jogos
Olímpicos 2020/2021. Sublinho os qualificativos “épico” e “civilização nipónica”,
precisamente expressos na abertura de um país que empenhou o melhor dos seus
recursos numa iniciativa que, em virtude da ausência de público e das
restrições da ‘covid’, não viu o habitual retorno financeiro no seu tecido
económico.
A festa multicolor de todos os povos e
etnias ali representados faz das Olimpíadas o abraço planetário da Fraternidade
Global, a proclamação universal dos Direitos Humanos, maior e mais eloquente
que todos os discursos de todos os areópagos internacionais. Na mão e na alma de
todos e cada um dos onze mil participantes que responderam à chamada – mesmo os
que não conseguiram subir o pódio vitorioso – brilhava o facho incandescente da
harmonia entre os povos. E isso, para além dos resultados obtidos, constitui a
medalha maior da sua participação.
Neste enquadramento interpretativo, sobreleva-se
o nome de Portugal. Não pelo somatório dos galardões (outros países conseguiram
muitos mais) mas pela tonalidade dos troféus, reveladores do espírito
civilizador da identidade lusa, agregador de culturas e valores autónomos,
venham de onde vierem e seja qual ou tal a sua proveniência étnica. Suponho que
a nenhum português passou desapercebido (ou “impune”) o fenómeno singular da miscigenação dos mesmos
troféus, patente nos três títulos maiores, o de Pichardo ouro, Mamona prata e Fonseca bronze, a que se
juntou, entre outros, o de Pimenta bronze.
As
suas raízes não são portuguesas nem sequer europeias. O quanto de riqueza sociológica,
política e humanista tudo isto encerra! O quanto de investimento altamente
retributivo resulta do acolhimento dado ao ‘problema’ migratório! No Japão,
Portugal consolidou a epopeia camoniana de um Povo, ‘valente e imortal’, que deu novos mundos ao Mundo e, em
contrapartida, o Mundo deu novos mundos a Portugal!
A todas as tentativas ‘rascas’ (é o
termo certo) de acirrar hostilidades e azedumes rácicos com que o radicalismo
populista de certos grupos tenta manchar o universalismo da nossa bandeira,
opõe-se a tríplice coroa do louro vencedor por sobre a paisagem lusa, que tanto
enobrece o seu Povo.
Perdoem-me a emoção, mas isto toca-me.
Sobretudo, depois de ter conhecido em terras Moçambicanas a cabana-catedral da
arte de Malangatana Valente e o olhar-verbo poético de José Craveirinha.
Assim como António Gedeão, após análise
química, descobriu que a lágrima da
mulher negra era em tudo igual às lágrimas de todo o mundo (e que tão bem sabe
ouvir essa canção na voz do saudoso
Adriano Correia de Oliveira) assim também
os troféus portugueses alcançados nos Jogos Olímpicos 20/21, analisados no
cadinho da Razão, revelam a amplitude da
mais lídima portugalidade em todo o planeta!
11.Ago.21
Martins
Júnior
Quando somos tocados por momentos que tanto nos emocionam, a arte do luar da poesia encarrega-se de fazer o resto... Excelente.
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