Fazendo
caminho, ao fim de semana, através das páginas do LIVRO, impossível passar
adiante sem fixar o olhar no alto do Monte. Porque hoje é Dia da Senhora do
Monte – uma designação autóctone e, por isso, só aplicável na Ilha da Madeira.
Em todo o mundo católico, o 15 de Agosto tem uma outra direcção oficial: Homenagear
a Assunção de Maria Senhora.
No entanto, uma diversa antonomásia, de
índole popular, classifica esta mesma data como o “Dia das Sete Senhoras”,
alusão ao número de festas dedicadas à mesma Personagem, mas sob outros tantos
títulos, sendo um deles a “Senhora da Graça” no Porto Santo.
São às centenas as vestes e os apelidos
qualificativos que a imaginação dos crentes, secundada pelo magistério
eclesiástico, atribui à mesma Senhora. Recorrendo a um axioma comum, dir-se-á
que os títulos, a narrativa, alegorias e similares distribuídos à Senhora, Mãe
de Jesus Nazareno, multiplicam-se como cogumelos por tudo quanto é canto. Proponho
a leitura de um bem elucidativo opúsculo, da autoria do franciscano António
Joaquim Dias, edição da ‘Paulus’, denominado ‘Santuários da Mãe de Deus’ .
Aí
vem uma síntese dos incontáveis títulos dados à mesma Senhora. E uma das
conclusões mais impressivas desse estudo é o facto sintomático de que cada país
quer ter uma “Nossa Senhora” exclusiva, só sua, quase produto nacional,
susceptível de exportação para o estrangeiro. Assim, a França tem a Senhora de
Lourdes, o México a de Guadalupe, o Brasil a Senhora da Aparecida (de cor negra),
a Polónia tem a Senhora de Czestochwa, Espanha a Senhora do Pilar, Itália a Senhora
do Loreto, Venezuela a Senhora do Coromoto, Portugal a Senhora de Fátima e,
para não alongar mais, a Madeira tem a Senhora do Monte, a cuja festa nunca
faltam as engomadas e emproadas autoridades regionais, porque Ela também é a
Padroeira da Ilha. É curioso motar que, além das “Senhoras” patrióticas
nacionais, acontece que o povo crente cria outras, de carácter local, como a
Senhora do Almortão, a Senhora do Fastio no alto Minho e, aqui no Funchal, a
famosa “Nossa Senhora do Calhau”, a primeira capela construída na cidade.
Mas
não fica por aqui a criatividade pietista da tradição mriana. O estudo que venho
citando traz um sintético cardápio, ao
gosto popular, para todas as pessoas e circunstâncias da vida, tais como: A Senhora do Sim, a Senhora do Céu
Estrelado, a Senhora do Céu Nublado, a Senhora das Quatro Estações, a Senhora
dos Pobres, a Senhora dos Ricos, a Senhora dos Desempregados, a Senhora dos
Quinze Anos, a Senhora das Lides Culinárias, a Senhora dos Filhos das Ervas, a
Senhora das Brotas, a Senhora do
Engaranho, a Senhora da Agonia. E fico-me
por aqui porque quem me lê saberá de muitos outros nomes. Conta-se que, há 100
anos, o povo madeirense abalou a pé para a freguesia de Santana, porque correu
a fama que Nossa Senhora teria aparecido a uns pastorinhos santanenses. Mas não
pegou. Ao contrário, foi um logro pegado. Senão, teríamos hoje mais uma, a Senhora de Santana.
Reflectindo
sobriamente: todos estes sobrenomes, embora folclóricos alguns deles, têm um
fundo de devoção que não temos o direito de agredir gratuitamente. O problema é
que os crentes ‘perdem-se’ e comovem-se
com as histórias, algumas vezes lendas e visões psíquicas, em vez de procurarem
a verdadeira face de Maria, a autêntica, a sua personalidade íntegra e generosa,
aquela que vem descrita no texto do
LIVRO. E esse é o perigo: desligam da Verdade e preferem correr atrás de ‘novelas’
piedosas. Já Paulo Apóstolo escreveu ao seu colaborador Timóteo, nestes termos:
“Meu caro, mantém-te sempre vigilante, porque virá o tempo em que os homens não
suportarão a doutrina sã e certa, fecharão os ouvidos à Verdade para os abrirem
às fábulas” .
Já
vai longa esta descrição, em tempo da silly
season. E falta o principal, ou seja, a que conclusão pretendo chegar,
admitindo e respeitando (mesmo sem concordar) as opiniões contrárias.
É
o que tenciono fazer no próximo dia ímpar, o do Senso&Consenso.
15.Ago.21
Martins Júnior
Aqui, em Palmital, Brasil, temos a rua "Padre José Martins". Uma justa homenagem....
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