Como
é saudável a transparência dos contrastes! E que brilho de alma acender una vela no antro da
nocturna escuridão. Tal como ver
recrutarem-se à luz do sol nascente os verdes plúmbeos da montanha ou o negrume
basso do nosso basalto. Há mais verdade e cor dentro e fora de nós!
Foi
o que me foi dado ver e seguir, passo a passo, nas comemorações do Achamento da
Ilha, entre 1 e 2 de Julho. O dia
primeiro apresentou-se opado com recheios de gente de fora – Bem-vindo quem
vier por bem - e adereços de fino
artifício. A “glória de mandar, a vã cobiça a que chamamos fama”, diria Camões.
O dia segundo, porém, modesto mas pleno, em aberta praça pública e democrática
partilha da população de Machico. Sem desdourar o primeiro, manda a verdade
dizer que o segundo ganhou-lhe a palma. Porquê?...
A
evidência não deixa dúvidas. No 2 de Julho, as gentes de Machico sentiram o
pulsar histórico do seu “Dia”. E fizeram a festa, Os poemas, as canções, as
emoções. Tudo quanto foi servido à mesa de Tristão e Zargo, 600 anos depois,
foi tudo manufacturado, vivido, assimilado pelo povo da terra. Na expressão
plástica do baixo-relevo, da autoria de um homem de Machico, o escultor Luis
Paixão, condensa de forma iniludível a fidelidade deste Povo fiel à verdade
histórica do seu nascimento para os Anais do Tempo.
Insofismável,
porém, foi a prova que, em jeito de pré-anúncio, apresentou o Presidente da Junta de Freguesia ao revelar
em primeira mão a decisão de reeditar a colectânea “AQUELE ESPESSO NEGRUME”,
uma obra editada em 1982 pela Junta de Freguesia, então presidida por quem
escreve estas linhas. Trata-se da recolha de textos dos autores iniciáticos que
perpetuaram por escrito a evocação do Grande Feito de 1419. O mérito da obra
reside na energia porfiada de um punhado de jovens estudantes que, há 37
anos(!), pesquizaram e reproduziram os primeiros testemunhos de cronistas
coevos, desde Francisco Alcoforado, Gomes Eanes de Azurara, João de Barros,
Gaspar Frutuoso, Luís Vaz de Camões, a que seguiram poetas e romancista que,
nos séculos seguintes, versaram o mesmo tema. Jovens audazes do concelho, rapazes
e raparigas que abraçaram entusiasticamente a minha sugestão e deixaram para o futuro uma autêntica memória
científica.
Será,
talvez, a coroa que faltava nestas comemorações, a qual saúdo efusivamente na
pessoa do Presidente da Junta de Freguesia de Machico, Alberto Olim, com votos
de que seja o bandeirante dessa iniciativa, esta sim, feita em Machico, por
Machico e para Machico. Um Bem Haja!
03.Jul.19
Martins Júnior
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