É
de Amor que continuamos a conversar. E o que hoje trago fica estreitamente
junto ao que, de propósito, deixei escrito ontem. Ponto, parágrafo. No final
descobrir-se-á o porquê desta opção.
Mas
o escopo nuclear do enigma proposto é chegar mais além.
Em
palco e na vida, duas personagens – afastadas na crença, mas geminadas no mesmo
vértice existencial - discorreram,
declamaram mesmo, sobre o mais belo e transcendente poema: o Amor. Cada qual
sentiu-o e tentou defini-lo. Consultando a página anterior, nela sugeria-se que
se descobrissem as semelhanças e diferenças entre os dois: Paulo de Tarso,
Apóstolo, e o Ateu confesso. E eis que o mistério se dissipa: entre o crente e
o descrente não há diferença alguma, só unanimidade de conceitos e programas de
acção. Basta cotejar algumas das citações descritas:
“O
Amor tudo desculpa, tudo espera, tudo suporta”.(Paulo).
“O
Amor é dádiva, amor oblativo, generoso” (Coimbra de Matos).
“O
Amor não é ambicioso, não procura os próprios interesses”. (P.)
“O
Amor não é egoísta, é altruísta, traduz uma necessidade gregária, social” (C.M.).
Decifrando
o enigma, esclareço que as citações 2.3.6.7.9 pertencem a Paulo de Tarso, na 1ª
Carta aos Coríntios, cap.13). As restantes são do Prof. Dr. Coimbra de Matos, in
“Do Medo à Esperança”, em co-autoria com Raquel Varela.
Onde
pretendo chegar com este exercício de paralelismo ideológico?
Simplesmente
a isto: “Há muitas moradas na Casa do Meu Pai” – afirmou um dia o Nazareno. (Jo,
XIV, 1-3).E - concluímos nós - se há muitas moradas, há também muitos caminhos
para lá chegar. Paulo Apóstolo e Coimbra de Matos, por vias diametralmente
opostas, chegaram à mesma vivência, ao mesmo vértice interpretativo da
realidade “AMOR”.
Subindo
à fonte original desta conclusão, descobrimos que o Ser Humano é o repositório
vivo de sentimentos inatos, fabulosas projeções imanentes. Há um fundo comum,
ínsito na condição humana, jazidas estruturais de ordem ética, estética,
lógica, espiritualista, que importa desvendar e desenvolver, sem ser preciso
recorrer a terceiros gurus transcendentais. É sobejamente conhecido o velho
axioma da filosofia: Non sunt multiplicanda entia sine necessitate (não devemos
multiplicar os entes ou entidades sem necessidade). Aplicando ao caso em
apreço, compreendemos bem por que razão chegou Coimbra de Matos à mesma
conclusão de Paulo Apóstolo. Porque o Amor está inscrito no ADN da condição
humana. O problema é “que poucos dão por isso”, tal como “o binómio de Newton é
tão belo como a Vénus de Milo”, diria Fernando Pessoa.
Tenho
para mim que muito se usa e abusa de Deus, incomodando-O por tudo e por nada.
Mais: desconfio até que há quem procure n’Ele aquilo que já possui dentro de si
mesmo - e a si mesmo deve exigir. É a inércia, a lei do menor esforço a
sobrepor-se à dinâmica da criatividade genética de que somos dotados. Volto a
afirmar: a maior glória do Criador é a autonomia da Sua criatura.
E
já que estamos numa maré de afectos estivais (com uma pitada de humor duvidoso)
reproduzo aqui o depoimento daquela mulher quarentona, inibida por complexos
religiosos e, por isso,
auto-constrangida na sua relação conjugal: “Eu evitava sentir prazer,
por pecado. Só comecei a senti-lo intensamente quando alguém (?) me disse que
Deus achava bem o meu orgasmo”. Foi no programa televisivo “Prós&Contras”.
Ridicule,
mais charmant”!
Festejemos
o Amor! Como em Fanhais, da Batalha e Aljubarrota, cantaram Raquel e Beto a Vitória do Amor, entre poemas e canções,
tendo por fundo as mensagens que serviram de mote a esta trilogia do
“Senso&Consenso”. Viva o Amor “oblativo, generoso, dádiva suprema”!
09.Jul.19
Martins
Júnior
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