Vi-os entrar
Braçados de flores nas mãos
Lágrimas no rosto enxugadas
E breves
Só lhes senti o peso das passadas
Caídas nos meus ombros
Quando o silêncio falou
Eram preces, vagidos, soluços
Promessas não nascidas
Juras interrompidas
E tantas tantas que ficaram por dizer
E eram palmas éclogas vilancetes
madrigais
Adágios e Allegros triunfais
Que a saudade tudo cria e nutre no seu
seio
Por um instante
Descobri-me infinito Campo-Santo
Onde morrem sobrevivem ressuscitam
Homero e Camões Petrarca e Pessoa
Da Vinci Vieira e Pascal
Levou-me a lanterna de Diógenes
À campa rasa dos heróis
Corpos de argila braços salgados do mar
Levou-me à cerca-violeta das mulheres
Trigueiras Divas do Povo
E às algemas ainda não quebradas dos
escravos
Não acompanho a romagem-espectáculo
Do dia dos finados
Porque em meu cérebro correm
Os rios subterrâneos de todos os
cemitérios
Vencidos e vincendos
Não há lousa maior nem mausoléu
Como este imenso e meu
Estreito panteão
Que aperto entre uma e outra mão
Gótico verde na interior alameda dos
ciprestes
No cemitério desconfinado que eu sou
Só me falta encontrar
Os sete palmos de terra
Onde toda a noite morro
Para todo o dia ressuscitar
02/03Nov.20
Martins Júnior
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