Pode
o pequeno arbusto romper a terra onde nasceu, que nem um ai se lhe sente em
redor. Cresce, avoluma-se o tronco, alarga os braços, sobe ao cimo das torres
seculares, torna-se gigante da montanha… e nem um leve sopro se levanta na
construção da enorme pirâmide verde que domina a floresta.
Na diversificada orografia da paisagem
humana, casos há que valem não pelo fragor atordoado que produzem, mas pela
silenciosa ascese da seiva que sobe das raízes subterrâneas e alcança as
nervuras das folhas distantes. Não há peças de artilharia sonante, nem
passadeiras vermelhas à entrada, nem sequer palavras… A alma das coisas e das
gentes sobrepuja o corpo de onde saiu.
Ocorreu ontem neste exíguo vale,
incrustado no grande vale de Machico. Para o grosso da multidão, “nada de novo
a leste”. A leste da ilha. Mas no vasto terreno da história – uma história
semi-secular – aconteceu apenas isto: a Assembleia mensal do presbitério
pertencente ao Arciprestado de Machico-Santa Cruz. Todos os párocos desta
circunscrição diocesana marcaram presença: Caniço e Eiras, Assomada, Gaula,
Achada de Gaula, Santa Cruz, Água de Pena, Machico, Piquinho e Preces, Ribeira
Seca, Caniçal e Santo António da Serra. Sob a presidência do Bispo da Diocese,
assessorado pelo Vigário Geral.
Palavras dispensam-se para qualificar o
evento.
Foi emocionante a Oração de “Tércia”
naquela igreja – antes, igreja amaldiçoada pelo poder religioso e pelo poder
político da Madeira… e, agora, templo de Oração Sacerdotal. Padres – antes, implicitamente proibidos de oficiar na igreja da Ribeira Seca…
e, agora, em paz fraterna, debaixo do mesmo tecto, unidos “numa só alma e num
só coração”!
Prosseguiu a Ordem de Trabalho, no
salão-biblioteca, sob os ‘olhares’ inspiradores do (para mim, santo) Padre António Vieira e os
não menos veneráveis Nelson Mandela, Luther King, Mahatma Gandi, Teresa de
Calcutá e a ‘supervisão’ do Papa Francisco.
Assim
como dispenso mais palavras, também passo ao largo dos considerandos e
relevantes interpretações que este, aparentemente, mero caso de rotina suscita
e merece , sobretudo tendo em conta o cenário de fundo que lhe está associado.
Ficarão, por enquanto, ao critério de cada observador.
De tudo, porém, solta-se esta onda
luminosa e apaziguadora: a agressão reiterada durante quase meio-século contra
esta porção do “Povo de Deus” deu lugar ao abraço. A Paz, uma paz dinâmica e
esclarecida, dissipou enfim as sombras paralisantes de uma guerra injusta.
Em tempo de pandemia, esta é uma
variante da vacina que cura o espírito.
11.Nov.20
Martins Júnior
Um bem haja a todos os que contribuiram para que esse momento fosse vivido.
ResponderEliminarQue Deus os abençoe.