Longe de mim estava o sentar-me
à mesa do telónio canónico para apontar no rol o “deve e o haver” da Fé dos madeirenses.
Até porque e apesar de todos os constrangimentos, a euforia natalícia é aquela vistosa onda em
que todos nós surfamos rumo à praia
do Mar da Galileia, onde já nos espera o Menino.
Essa não foi, porém, a
opção do Prelado Regional. Nesta atmosfera envolvente de optimismo e esperança,
‘eis senão quando’ o nosso Bispo surge na ogiva gótica da toda a arquitectura
sacra madeirense – a Sé Catedral – e proclama o que nunca tinha sido dito: “O
enfraquecimento da Fé”. E, não se sabe se por efeito da pandemia, se da
fosforescência da muita luz que ilumina o Funchal, o líder diocesano qualifica
(ou requalifica) o enfraquecimento antepondo-lhe o adjectivo “claro”. Claro
enfraquecimento da Fé ! – ipsis verbis.
Devo dizer que subscrevo a análise em causa e mais relevo a
coragem de quem a proferiu sem rodeios diante de uma assembleia bem composta na
Festa da Imaculada Conceição. E acrescento: Até que enfim, começo a vislumbrar
ao fundo do túnel uma chama bruxuleante daquilo que deveria seriamente afirmar-se
como “O estado da Religião (ou da Fé) na Madeira”.
Não será difícil descortinar nas palavras do Antístite uma
abordagem da Religião ou da Fé em todo o mundo. Com efeito, a Igreja Católica
tem vindo a sofrer, parece que em paralelo com a chamada “Democracia Cristã”,
sucessivos revezes e notória perda de activos em todos os continentes, mormente
na Europa. Mas o desabafo inserido na Casa-Mãe dos crentes ilhéus, mais a mais
feito presencialmente à comunidade participante no solene acto litúrgico, não
pode ter destinatário mais directo do que a Religião na Madeira.
Dois anos após a sua
chegada, o responsável da Diocese está a dar-se conta da verdadeira dimensão da
realidade regional, nesta área. Volto a congratular-me pela nova “Descoberta” da paisagem regional, no
tocante à vivência cristã e seus valores. Muito mais congratular-me-ia se fosse
convocada essa magna assembleia, não apenas clerical, mas de todos os quadrantes
sociais, para debater “O estado da Fé (ou da Religião) entre nós”. Ousaria
propor que, no prosseguimento desta época da Sinodalidade, seria o dealbar de
uma nova estação primaveril a realização do, chamemos assim, Sínodo estrutural
da Igreja Madeirense.
Se tal acontecer e se tal
me for permitido, carrearia alguns vectores incontornáveis para o cabal
esclarecimento do “claro enfraquecimento da Fé” neste arquipélago.
Entretanto vou reflectindo sobre temas de um quotidiano não
muito distante. Para isso, seria necessário “puxar para trás”, rebobinar o
filme e ver a subserviência da Igreja regional ao poder político, fazedor de
templos, capelas e casas paroquiais, mas
destruidor da identidade cristã dos praticantes. O domínio político foi ao
ponto de açambarcar o único órgão diário de comunicação social da Igreja e
fazer dele um pasquim de propaganda partidária. O devocionário popular
madeirense esteve (ou estará) sobejas vezes misturado com a espectacularidade e
o folclore, subalternizando o cerne interior do exercício ou das festas
alegadamente litúrgicas. A sobrecarga de várias paróquias para um só sacerdote
faz dos párocos (dizia-nos um colega) tarefeiros ou “bombeiros de serviço”,
escasseando o tempo para a leitura e para a sustentabilidade cultural e
espiritual dos próprios. Por outro lado, será de evitar uma certa exclusão latente
de pastores, cuja experiência pastoral
constituiria ouro fino na pedagogia dos cristãos.
Estas preocupações estarão decerto inclusas no SOS do
Prelado Diocesano. Muitas outras poderiam acrescentar-se-lhes. Serve o presente
escrito para assinalar a clarividência e a frontalidade dos seus conteudos,
aguardando que, mediante o aprofundamento das causas a montante, venham a
curar-se as feridas de um passado recente, de olhos postos num amanhã mais
firme e transparente, em que para além do devocionismo folclórico, se fortaleçam
os valores crísticos, esses que não são mensuráveis a olho nu, mas cujos
efeitos transformam os indivíduos e as sociedades.
09.Dez.21
Martins Júnior
Parabéns, padre..... Sempre frontal! Lembro-me de quando foi ordenado e, nessa mesma Sé, cheia de fiéis, pois era uma esperança renovadora para toda a Igreja, fez um sermão cujas palavras iniciais eram: Juventude portuguesa, juventude desgraçada! om toda a eloquência de um Vieira, cujo sermão contra "as arma de Holanda" deixou a Bahia de todos os santos.... kkkk apavorada mas querendo dar a volta por cima e expulsou os tais holandeses do mal, assim o senhor dará início a uma revolução serena e alicerçada na Fé.... Para isso tem um Bispo que pensa igual.... Feliz Natal.... mas cuja prioridade não seja os comes e bebes, mas a verdadeira essência do Cristo....
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