domingo, 7 de junho de 2020

CORTEJO INCOMPLETO


Ao Colega e Amigo  que, partindo, nunca se apartará de nós
                                         

                                                                                         Foto-DGomes


     
Fosse maior que o mundo
Esse barco que te leva
Nele não caberia  teu corpo escasso
Porque mais largo e alto e fundo
Foi o teu espaço
Onde habitava todo o universo

Filho das raízes milenares
Foste Mário, foste Mária, o pleno de Todos os Mares
No coração Francisco de Assis
Na alma Teilhard de Chardin
Em cada ser que vias estava o teu país
E era tua a Terra-Mãe, a Terra-Irmã
Quanto mais agarrado a ela
Mais alto vogava a alma tua caravela

Pó caído nunca foste nem és
(Perdoe-me Vieira ‘Imperador´)
Pó erguido sempre
Bíblico rochedo contra ventos e marés
Na voragem das noites e dos dias
Davídico pastor serrano
Venceste sempre a caterva de todos os Golias

Vais para a tua casa
Dormir na tua  cama, a cama que fizeste
Os lençóis de verde vinha que teceste
Erva cidreira, flor da laranjeira
Almofada doce fruto da Figueira
E nos sete palmos do teu trono terreal
O perfume e o sabor daquele Sercial
Que trataste como quem ama
O filho a sua mãe, o amante a sua dama

Hoje é o teu cortejo triunfal
Que em vida sempre rejeitaste

Também vou contigo
Mas antes que eu vá, fica sempre comigo
Fica  connosco

E lá por onde caminhares
Feliz octogenário de sorriso infantil
Faz que cresçam  mil cravos de Abril
Faz que renasçam mil Padres Tavares
  
O7.Jun.20
Martins Júnior

4 comentários:

  1. Comungo, em pleno, este "retrato". Um abraço de saudade ao P. Tavares e um de amizade ao P. Martins.

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  2. Muito lindo, fraterno e profundo, este poema de amor universal, dedicado a quem partiu, cheio de Vida e nos deixa saudosos no Mundo! Paz à sua alma!

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  3. Muito bonito este poema bem verdadeiro e merecido ao SR PADRE MÁRIO TAVARES

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  4. Nem Eugénio de Andrade, nem Sofia de Mello Breyner conseguiriam escrever e declamar desta maneira, como fez o autor deste poema, na ocasião da cerimonia litúrgica de despedida ao saudoso Pe. Tavares. Na verdade, só a poesia tem esta magia encantadora de nos libertamos do arresto da morte. Parabéns Pe. Martins.

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