segunda-feira, 29 de junho de 2020

O TRIUNFO DA BIPOLARIDADE = SOMOS TODOS BIPOLARES


                                                             
     
           E todo o mundo é bipolar! De um polo a outro, entre dois hemisférios opostos, a bipolaridade inscreveu o seu ADN em tudo quanto existe: no género, na terra e no mar, no dia e na noite, no corpo e na alma, no coração e na mente. Se “todo o mundo é feito de mudança”, também é-o  não só de bipolaridades, mas de multipolaridades.       O alfa e o ómega, o promontório e o abismo, a montanha e o vale, o belo e o feio, o positivo e o negativo.  E, decididamente, é nesta ambivalência estrutural que está o germe do crescimento e da luz que ilumina o presente e o futuro, tal como do chispe frontal entre a tese e a antítese surge a desejada síntese, enquanto instrumento de inovação científica.
Transposto para o campo experimental dos comportamentos humanos, o princípio da bipolaridade saudável, diversa da bipolaridade patológica, deverá constituir o manual iniciático do pedagogo, construtor de personalidades. O educador, seja ele no seio familiar, seja no meio escolar, se não souber diagnosticar a sintomatologia estrutural e as virtualidades insertas nos comportamentos bipolares do educando, jamais cumprirá o nobre desígnio do seu estatuto. Nisso vai a marca distintiva dos autênticos pedagogos que constroem a história e fazem singrar a humanidade nos caminhos da plena realização humana.
Vêm estes considerandos a propósito dos dias 28 e 29 de Junho, tecidos de policromias, liturgias, litanias diante de uma imagem que é a denegação do seu original, a contradição mais absurda entre o representante e o representado. O protagonista era o pescador da Galileia, a imagem é de um titular da mais requintada aristocracia, cone acilindrado na cabeça com três coroas especiosas a que chamam tiara, vara banhada em ouro de tríplice cruzeiro, que dá pelo nome de báculo do poder pontifício. Melhor seria se trouxesse nas mãos a cana de pesca, as redes de emalhar  e na cabeça o chapéu-salitre dos velhos lobos do mar.
É este, o pescador, que há muito interiorizei e de quem hoje me ocupo. Simão Pedro, quase anónimo na companha do barco pertencente a Zebedeu, pai de João e Tiago. É a este Pedro que designo como bipolar, o qual transitou depois para outra Nau, a do Nazareno. Precisamente na bipolaridade dos seus comportamentos vou encontrar a grandeza e a fragilidade da condição humana. Um igual a cada um de nós! Nesta semântica, um homem do povo e, só por isso, um santo popular.
Pedro, rude como os rochedos, bravo e  generoso como as ondas do mar, tímido como a criança que não sabe nadar. No entanto, um homem de mão do Mestre. Foi Ele quem lhe mudou a sorte e o nome: deixou de ser Simão para tornar-se Pedro e Pedra de alicerce. Ninguém tocasse no seu Mestre, que logo desembanharia o navalhão de cortar o pescado e com ele arrancaria a orelha e muito mais ao eventual agressor de Jesus, como fez no Jardim das Oliveiras a um dos guardas da autoridade oficial. Pedro, o maior, o mais corajoso, o fidelíssimo!
Passou-se uma hora, pouco mais ou menos, após ter jurado dar a vida pelo Mestre. E a bipolaridade aparece em toda a nudez e horror: acossado pelo medo no meio de alguns marginais mercenários contra Jesus, jura – uma, duas, três vezes! – Nunca  vi esse homem à minha frente, Não o conheço de lado nenhum.
Tremenda traição, inqualificável, degradante! Onde está Pedro, o incondicional e ardente defensor do seu Amigo e Mestre?! Motivo mais que suficiente para ser irradiado do grupo dos Doze e merecer o desprezo total do Nazareno!
A tanto chegam os extremos da bipolaridade humana! Pedro, um de nós que somos frágeis, tímidos, bipolares!
Mas não acaba na fossa punitiva o comportamento de Pedro. O Grande Pedagogo, o Psicólogo promotor da metamorfose humana, o Mestre da História, aceita o doloroso pedido de perdão do ‘traidor-bipolar’ e coloca-o na liderança da sua Nau, à frente de todos os seus apóstolos. Inigualável, inexcedível, supremo o gesto do Nazareno que, para além da fragilidade humana, intuiu a grandeza e as virtualidades renascidas das próprias cinzas.
É neste pescador que me revejo. E é a este Mestre que cultuo.
Em 28/29 de Junho: em todo o dia, em todo o mês, em todo o ano!

29.Jun.20
Martins Júnior

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