quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

A CEREJA ADIADA EM CIMA DO BOLO DE MEL: DESCONFINAR!

                                                                           


Entre o finar e o desconfinar, é longo o caminhar. Mas fizémo-lo desde as seis da manhã de todos os dias até alcançarmos o cume da montanha. Foi hoje o dia de içar bandeira – a bandeira do Desconfinamento.

         O Natal da Saudade veio primeiro  e trouxe-nos o verbo ‘finar’. Com ele vieram todos quantos, antes de nós, abriram caminho e alcatifaram o chão macio que hoje pisamos, enquanto o deles fora coalhado de espinhos e abrolhos.

         Com eles também aprendemos a ‘afinar’ os nossos passos, a nossa língua, o nosso paladar  pelo Código da Vida, perpetuando a honrosa memória dos antepassados.

         Outras vezes, fomos levados a ‘desafinar’ dos nossos maiores e, por isso mesmo ficámos menores, sempre que o fizemos. Em contrapartida, tivemos a coragem de ‘desafinar’ de uma sociedade corrupta quando nos obrigava a baixar a cerviz, como servos da gleba. Honrámos também a  memória dos antepassados quando dissemos NÃO  aos ditadores, os grandes, os médios e os pequenos!

         Ao longo do percurso, ficámos a saber o que era ‘confinar’. Quantas gerações viveram e ainda vivem irremediavelmente confinadas à miséria mais horrenda! Mas, se alguma vez confinar significou condenação e ferrete escravizador, outras vezes, ‘confinar’ foi ‘condição sine qua non para chegar mais além.

         Em dias e horas de confinamento social, descobrimos que o momento é de metamorfose e metanóia: tempo oportuno de ‘refinar’, de refundar o passado, o presente e o futuro. É neste refinamento que está o ganho. Chamem-lhe transformação, conversão, mudança, que eu prefiro classifica-lo de fenómeno bio-cultural de fotossíntese essencial à vida, Mudar de caminho, enrijecer os joelhos frouxos, endurecer a fibra visceral que nos mantém unidos e resilientes – eis o refinamento que se nos impõe para o sucesso dos nossos passos e para o êxito da sociedade a que pertencem­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­os.

         E chegámos ao topo. Desfraldamos a bandeira vitoriosa, onde se lê em caracteres gigantes: DESCONFINAR. Por ironia dos tempos, está-nos vedado o desconfinamento físico. Mas não nos podem “cortar a raiz ao pensamento”. Desconfinar  é aprender os caminhos da liberdade e da autonomia. Para lá chegar é necessário percorrer as seis estações que visitámos nas madrugadas que nos levam à Festa da Vida.

         Per angusta ad augusta – ensinavam os antigos. É através  dos desfiladeiros pesarosos que alcançamos os píncaros augustos da paisagem.

         Para início do almejado Desconfinamento (tão perto e tão longe!) aprendamos a respirar fundo. Na respiração começa a saga da Liberdade! É como nascer de novo em cada instante – é viver o Natal, o Feliz Natal.

 

         23.Dez.20

         Martins Júnior

  

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