quarta-feira, 11 de setembro de 2019

“600 ANOS” NA VOZ DO POVO


                                                            

     Muito se tem afanado a Comissão Oficial para oferecer aos madeirenses – quase impondo até à exaustão – a épica proclamação dos “600 ANOS” do Achamento da Ilha. Importante seria abrir um espaço de silêncio e  prestar ouvidos  ao eco dessas comemorações junto dos madeirenses. Passaria, então, o Povo ao estatuto de emissor e a Comissão quedar-se-ia no papel de destinatário. Mais que importante ou interessante, seria intensamente enriquecedor auscultar a sensibilidade popular face à Grande Nova do seu nascimento para a História e, muito acima disso, situar a efeméride não apenas no pó dos arquivos ou nas rocambolescas e ruidosas manifestações públicas, mas transplantar para o quotidiano das gentes as mensagens que daí advêm.
         Ora, quem no último fim-de-semana subiu até ao recinto de festas da Ribeira Seca, terá fruído uma das mais gratas sensações ao ver desfilar no grande palco, precisamente, a sensibilidade do genuíno Povo Madeirense face aos “600 ANOS”,  descrevendo a fisionomia dos concelhos desta Região. Numa linguagem limpa de artifícios, ao som de melodias originais, jovens e adultos, adequadamente indumentados, exprimiram em canto e dança episódios marcantes de cada concelho.
Eis alguns tópicos mais identitários:
O primeiro, como ilustra a gravura em epígrafe, enaltece a chegada da nau henriquina, com esta legenda:
Lá vem o navio
Lá fora na barra
Traz uma bandeira
Traz uma guitarra
A canção da vida
Lá fora na barra

                                              

Apresentou-se, depois, a coreografia representativa do concelho de Santana, com esta mensagem, de vincada inspiração telúrica:

Cá nesta ilha
Tudo é regional
A espetada e o vinho e a semilha,
O Governo e o Povo em geral

Santana cidade
Jovem da Madeira
Quem cultiva a terra
É gente de primeira

Lindas maçarocas
Casinhas de palha
Palácios do Povo
Glória a quem trabalha
…………………………………………………………..
                                             

Seguiu-se-lhe  Santa Cruz, “Cidade antiga e famosa, Nossa vizinha e amiga”, com trovas dirigidas a cada uma das suas cinco freguesias, entre as quais:
Santa Cruz já tem
Imagem de marca
Juiz e juíza
Na sua comarca

Alô sr, piloto
Mais a hospedeira
Viva o aeroporto
Porta da Madeira

À nova cidade
Chamada Caniço
Olhem p’rao betão
Cuidado com isso


Somos da Camacha
Somos camacheiros
Cá para o bailinho
Somos os primeiros

Parabéns a Gaula
Gaula do Amadis
Um Povo que canta
É um Povo Feliz
…………………………………………………………..
                                           

Termino esta primeira fase da viagem pelos vários concelhos da Madeira e Porto Santo, com a evocação de Câmara de Lobos, cujos figurantes ostentavam no canto e na coreografia  as duas componentes distintivas das suas gentes: a pesca e a música.
Câmara de Lobos
De lobos do mar
Numa mão a espada
Na outra o cantar

Gente benfazeja na terra a lavrar
Gente destemida que desbrava o mar
Cabo das tormentas
Ilhéu de esperanças
Viva a Juventude
Vivam as crianças

Gente lá bem alto do Cabo Girão
E Povo que sofre colado ao chão
   …………………………………….
         Eis algumas das mensagens que no vale da Ribeira Seca ecoaram em homenagem aos “600 ANOS”, expressões genuínas de uma faixa da sensibilidade madeirense que assim pretende demonstrar a sua interpretação de um acontecimento que se quer dinâmico e actualizado e não apenas artificioso e superficial. Assim se prova que pertencem ao Povo os “600 Anos” da sua história.

11.Set.19
Martins Júnior


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