sábado, 21 de setembro de 2019

QUANDO SARAMAGO NÃO TERÁ RAZÃO…


                                                                        

Será mesmo neste fim-de-semana, entre 21 e 22 de Setembro/2019. Estivesse vivo entre nós e pediríamos ao “nosso” Prémio Nobel de Literatura falasse connosco:
- Lembras-te, ilustre José Saramago, daquela vez em que apostrofaste a Bíblia Sagrada e solenemente afirmaste que quem a lesse perderia a fé?
- Sim, lembro-me perfeitamente. E reafirmo com a mesma convicção. O Livro Judaico é um estendal de crimes, atrocidades e escândalos capazes de tirar a fé ao mais fanático dos crentes.
-  Como assim?
- Então não vedes vós aquela apologia das guerras, umas fronteiriças, outras fratricidas,  em que é o próprio Deus Jeová armado até os dentes, feito comandante das tropas israelitas até ao cúmulo de o proclamarem “Senhor Deus dos Exércitos”?!... Lede, por exemplo, o bárbaro Salmo 135, onde o  “Santo Rei David”  roga a Deus que premeie com o céu  quem despedaçar  contra a rocha  as crianças de peito, filhas dos combatentes  do exército contrário, só para vingar a derrota infligida às tropas israelitas.   
- Certo, porque é a história dos judeus contada pelos próprios. Mas há outra narrativa, paginas brilhantes, proféticas, em que a justiça distributiva ocupa o topo da revolução social.
- Provem-mo, dêem-mo um único exemplo.
- Nem de propósito. Se estiver atento às leituras bíblicas deste fim de semana, ilustre José Saramago, há-de encontrar o texto do profeta Amós, cap. 8, 4-12:

“Escutai bem, vós que espezinhais o pobre
e quereis eliminar os humildes da terra.
Vós dizeis:
«Quando passará a lua nova,
para podermos vender o nosso grão?
Quando chegará o fim de sábado,
para podermos abrir os celeiros de trigo?
Faremos a medida mais pequena,
aumentaremos o preço,
arranjaremos balanças falsas.
Compraremos os necessitados por dinheiro
e os indigentes por um par de sandálias.
Venderemos até as cascas do nosso trigo».
Mas o Senhor jurou pela glória de Jacob:
«Nunca esquecerei nenhuma das suas obras».

E comina com uma série de maldições os opulentos feitores do capitalismo selvagem:
“Não estremeçará a terra por causa disto?
Cobrirei as vossas terras de trevas sem pleno dia.
Converterei as vossas festas em luto.
Porei uma navalha sobre todas as vossas cabeças.
Os cânticos dos vossos palácios serão gritos de aflição”…

Estas e outras mensagens condenatórias, sublinham os comentadores, têm como destinatários os poderosos de então e, entre estes, na primeira linha, ”o clero e a nobreza”. Compulsando muitos outros lugares paralelos, encontramos nos textos bíblicos episódios de relevo, mesmo no Velho Testamento, portadores de uma veemência arrebatadora contra os exploradores do povo, os ditadores, os soberbos detentores do poder. Só que, ao longo dos séculos, a Igreja escondeu aos olhos dos crentes o embrião revolucionário implícito nas páginas do Livro.
Foram essas sementes escondidas que os mensageiros autênticos desentranharam do subsolo bíblico e lhes deram força e clarividência para entrar decididamente na luta por uma sociedade justa, igualitária em direitos, deveres e oportunidades.
Excelente reflexão para este fim-de-semana!
E perdoe-me o laureado Prémio Nobel  da Literatura esta ousadia de circunstância, explicável apenas pelo que de oportuno e construtivo ela pretende traduzir.

21.Set.19
Martins Júnior

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