Dois
barcos. Tão diferentes e tão iguais!
Tão diferentes:
Num deles, a opulência, o lazer e o
prazer a rodos. No outro, a miséria, o medo, a morte iminente. No primeiro, o
mar é azul regurgitando vida e festa. No outro, o mar é pranto de “lágrimas
salgadas” e as ondas são lama cavada de cemitério a abrir. .
Tão iguais:
ambos estão impedidos de desembarcar os passageiros e tripulantes. No primeiro,
são 7.000. No segundo, dezenas, centenas, milhares, somados todos nesta e nas
demais traineiras.
Tão iguais e tão diferentes:
A mesma Itália recusa o desembarque de um e de outro. Mas são diversas as
causas: aquele transporta a suspeita de uma bactéria letal. Este alberga e esconde a dura realidade
de homens, mulheres e crianças foragidas da fome e da guerra. Aquele é o “coronavírus”. Este, uma
estirpe rara, suicida, chamemos-lhe
o “homovírus”.
Para
o primeiro, acciona-se em terra todo
um arsenal material e humano (equipamentos sofisticados,, médicos, enfermeiros,
psicólogos) e tudo acaba num fim feliz, os 7.000 ocupantes desembarcam
radiantes de júbilo. Para o segundo
frágil barco, não há ninguém que o
valha, espera-se sadicamente que o mar os engula a todos.
Oh
desconcerto do mundo e não menos vergonha da espécie humana! Comovemo-nos, lutamos,
extirpamos o “coronavírus”. Ao
mortífero, quotidiano “homovírus”,
porém, habituamo-nos a viver, comer e dormir com ele!
De
que carne ou de que pedra é feito este coração que ainda nos mantém vivos?! É a
degradante e degradada “globalização da
indiferença”!
"Há um vento de loucura que varre o mundo" - desabafou, entre angústia e revolta, o Secretário Geral das Nações Unidas, repetindo o velho Talmud.
Quem
está disposto a extirpar o “homovírus”?
.
Não o “Homo”, mas o “vírus”!
07.Fev.20
Martins
Júnior
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