Passando a ponte do 19 para o 20 de
Fevereiro, batem as badaladas na rua e a rebate estalam trovões, fustigados por
relâmpagos nos corações. No meu também. E por mais dramáticos que se apresentem
os alicerces do mundo aqui e além, não é possível esquecer esta noite que culminou
na tragédia – nas muitas tragédias - de
2010, aqui no coração da ilha. Por isso, revejo e ressinto a elegia que então
curti no mais íntimo de mim mesmo. Fico-me, assim enrodilhado no manto de luto
das vítimas inocentes, mas protestando contra os responsáveis que, em termos de
prevenção, chegam sempre tarde. Acima de tudo, porém, hoje como ontem, espero
que em cada um de nós, todos os dias, renasça o espírito do “Infante de Sagres e do velho Marquês p’ra
levantar dos escombros, de Lisboa ou do
Funchal, um Povo que é português, a
força que é Portugal”!
TRAGÉDIA RODAVANTE
Furor
Das águas bravas
Onde estavas
Ou dormias
Oh Velho Adamastor
Das illhas mansas,
Sadias.
Donde vieste
De qual cerro ou cume
Tume batume tume
Tumescente agreste
Desterrando o velho
Enterrando o menino
Oh belo horrível
Loucura e desatino
Oh caixa de Pandora!
Não chamem Deus
Nem a Senhora
Nem Júpiter nem Zeus
Que o mar e o trovão
Planetário em turbilhão
São amados filhos seus.
Velha matrona, ilha bendita
Tiveste a dita
De voltar à ilha virgem
Do seio furibundo
Da criação do mundo
E … oh prole maldita
Estirpe mole e cobarde
Que chega sempre tarde
Ao tormentoso cabo da vida
Madeirense mareante
Que mesmo gemendo mão teme
Faz-te ao largo agarra o leme
Gente firme Povo atlante,
Rodavante rodavante !
E Machico tem
Machico sabe
Que o Cristo dos Milagres
Não quer que o mar adormeça
Nem quer que o fogo se acabe
Venha um Infante de Sagres
Renasça o velho Marquês
Pra levantar dos escombros
De Lisboa ou do Funchal
Um Povo que é português
A força que é Portugal !
20.Fev.2010
– 19/20.Fev.2020
Fala o coração, fala a razão...lindo!
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