É
a vantagem de ser ímpar - a ‘imparidade’ numérica, a cujo denominador obedecem
os “dias ímpares” do SENSO&CONSENSO. Permite uma vasta,
ímpar versatilidade de temas e problemas à consideração de quem escreve e de
quem lê.
Hoje
vou por aí. No turbilhão dos casos-notícia que fazem correr os ‘media’, opto
por um outro, tão antigo como o tempo e tão actual como o sol que desponta
todas as manhãs. Aliás, vem precisamente na linha directa do último escrito,
primeiro de Fevereiro. Assistiu-se ao episódio de uma mulher judia, ainda
jovem, apresentar o recém-nascido filho primogénito às supremas instâncias do
Templo de Jerusalém, como definia e obrigava a intocável “Thorah”.
Um
pormenor, porém, terá escapado à maioria dos ouvintes e/ou espectadores: o
cômputo dos dias entre o parto e a citada apresentação no Templo: 41 dias, no
calendário judaico. Era inapelável o normativo ou cânon da “Thorah” na observância dos prazos legais para que a
jovem-mãe levasse nos braços o primogénito ao Santuário.
Ninguém
terá questionado o porquê de tão austero preceito. Mas é esse mesmo o cerne da
questão ou até o pomo da discórdia. E é também sobre ele que me debruço. Trata-se
de uma das mais deprimentes nódoas da
civilização judaico-cristã, que marcou não só as religiões monoteístas mas toda
a história da humanidade, com notórios resquícios nos nossos dias. Falo da Mulher,
a sua condição, o estatuto e tratamento que lhe deram as diversas civilizações
que povoaram o planeta.
Abramos
o “LIVRO”, “Biblos” ou Bíblia e encontraremos a chave do enigma, isto é, a
razão do rigor jurídico-canónico dos prazos supra-citados. Vem tudo bem explicado
no Livro do “Levítico”, capítulo XII:
“Tornou o Senhor a falar a Moisés, dizendo:
Fala aos filhos de
Israel e dir-lhes-ás:
Se uma mulher, tendo
concebido, der à luz um filho varão, será considerada imunda (impura) durante sete dias, como nos dias da separação
menstrual. E no oitavo dia será o menino circuncidado.
Ela,
porém, permanecerá 33 dias a
purificar-se, não tocará coisa alguma
santa, nem entrará no santuário, até se acabarem os 33 dias da purificação.
Mas
se tiver uma menina, a mulher ficará
imunda duas semanas, segundo o rito
do fluxo menstrual e permanecerá 66 dias
a purificar-se.
Completados
que forem os dias da purificação, levará à porta do tabernáculo, para
holocausto pelo pecado um cordeiro
de um ano e um pombinho ou uma rola que entregará ao sacerdote”.
Mulheres-mães que me ledes, considerai o
texto do “Levítico” e respondei se puderdes:
Será crime uma mulher dar à luz, para
merecer tanto ónus e repressão?
Onde está o homem, o pai da criança? Não
comparece em nada, não responde por nada? Só ela, a mulher?
Por dar à luz um filho, torna-se pecadora?
E é só ela que tem de pagar pelo “pecado”?
Triste condição ser mulher, segundo a
Bíblia. E que estranha maldição nascer mulher! Se for menino, a mãe tem 1
semana e 33 dias de castigo, mas se for menina paga o dobro do castigo; 2 semanas
e 66 dias sem entrar no Templo.
Em conclusão: A Bíblia, (sobretudo o
Velho Testamento) decididamente, não é amiga da Mulher. Pelo contrário, rebaixa
a condição feminina, logo no início, desde a criação do mundo, quando Moisés
refere que a Mulher só ‘vale’ uma costela do Homem. Por outro lado, este e
outros episódios e prescrições não poderiam nunca ser normas emanadas de Deus,
mas exclusivamente preceitos oportunistas feitos pelos homens, legisladores de
então, no seu próprio interesse. Finalmente, foi essa badalada e famigerada
civilização judaico-cristã que enformou o mundo e quis impor-se como modelo às
sociedades, a europeia inclusive.
Em dia ímpar, vale a pena assinalar este
registo.
03.Fev.20
Martins Júnior
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