Em
plena Aula Magna da Faculdade de Medicina, no Hospital de Santa Maria, abriu-se
o Magno Livro da Eutanásia, os “Prós & Contras”, ali representados por
personalidades oficialmente e/ou oficiosamente identificadas com uma e outra
interpretações do problema. Digo “ uma e outra interpretações” porque, ao fim e ao cabo, os conteúdos e objectivos
mediatos a alcançar não se afiguram tão antitéticos ou tão hostis como à primeira
vista podem parecer.
Com
efeito, sobre a mesma mesa estão os
conceitos de Dignidade da Pessoa, Liberdade e Equidade, Justiça e Ética,
Autonomia e Dependência, Referendo e Petição à AR, Igreja, Política, Compaixão
e Entre-Ajuda, Economia e Cuidados Paliativos. De ambas as tribunas, viu-se
nitidamente que os seus defensores pegaram nas mãos e pretenderam defender as mesmas bandeiras, as retro-mencionadas:
Dignidade, Autonomia, Ética, Referendo, inclusive. Nalguns casos até, a ala “Pró-Eutanásia”,
não se opôs terminantemente à realização da consulta pública, enquanto plena expressão
de Democracia. Aliás, as duas horas do debate sabiamente moderado pelo
jornalista da Antena 1, António Jorge, decorreram com civismo exemplar, sendo
repetidamente sublinhada pelos intervenientes a expressão: “Pronto, respeitamos
a vossa opinião”, conforme a questão prévia posta por um dos assistentes: “Esta
questão deve ser tratada sem quaisquer pressupostos de ordem política,
religiosa ou outra. Aqui, o que importa é debater a Humanidade”.
Fora
de dúvida a procura dos mesmos desideratos, quer dos “Pró”, quer dos “Contra”.
DIFEREM – E AÍ COMEÇA O GRANDE DILEMA – NA CARGA SEMÂNTICA E OPERACIONAL DE
CADA CONCEITO.
Noutras
circunstâncias, o que é Autonomia da Pessoa, enquanto detentora do valor
da Vida e da sua inviolabilidade, para
outros Autonomia significa respeitar a liberdade de opção de cada um, pois
que “Quem sou eu e Quem é Quem para opor-se
ao livre direito do outro, sem prejuízo de terceiros?”,
argumentou um dos intervenientes.
Quanto
ao Referendo, insistiu a ala do “Contra” que nos países pioneiros da Eutanásia,
realizaram~se Referendos. E especificou: 3 no Oregom, 2 na Irlanda. Do lado
oposto, sem negar a possibilidade da consulta pública (não só das elites, mas
das bases populares) objectou-se que “sem uma correcta informação, não há
liberdade de opção”, constatando-se que a nomenclatura “Eutanásia” toma
diversas conotações conforme o lugar, usos e costumes, cultura, resultando
então muito duvidoso o apuramento do
voto expresso. “Se fosse sujeita a Referendo, a abolição da pena de morte, não passaria”,
foi dito. “Há pulsões e paixões que intervêm e prejudicam a visibilidade plena
da questão proposta, seja ela qual for”.
Muitos
outros problemas, uns laterais, outras integrantes deste magno problema, como a
legitimidade da guerra, do martírio voluntário, da justiça social, do papel das
religiões, mas que não cabem neste breve nota descritiva. Enfim, “é o drama
deste mundo: todos têm razão ou parte dela”. Pode resumir-se neste axioma de
Gilbert Cesbron o balanço do encontro.
No entanto, o princípio orientador no meio da encruzilhada de opiniões será
aquele, expresso por um dos juristas presentes: “A hierarquia de valores,
direitos e obrigações”.
Temos
todos o direito e o dever de pensar, opinar, decidir!
17,Fev.20
Martins Júnior
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