Seria
sem título o nosso encontro de hoje. E sem limites de tempo nem fronteiras de
espaço. Se me entenderem como confidência pessoal, falaremos a sós, em estreito
convívio, tal qual “uma viagem à volta do meu quarto”. Se, porém, for mais longínquo
o eco deste conteúdo, então estaremos todos em ‘sinal aberto’ num amistoso e
transparente debate global. No que houver de pessoal, consideremo-lo uma
confidência. No que se referir a um âmbito mais vasto, será uma hipótese de foro
geral. Por isso, sintetizarei o caso em linhas gerais.
O
caso tem a ver com a Unidade da Igreja (mais precisamente, das igrejas),
enquanto marca distintiva e condição sine
qua non da autenticidade evangélica, tal como ardentemente sonhou o seu
Fundador, na Última Ceia.
No
tocante à confidência pessoal, tem sido dado como exemplar o novo olhar do
actual bispo Nuno Brás para com a igreja da Ribeira Seca. Tecem-se os melhores
elogios à sua decisão, bem como às duas visitas que, no espaço de um ano, fez a
esta comunidade, em contraste com os outros três antecessores que, durante 50
anos, nenhuma vez exerceram a sua missão pastoral neste templo. Motivos há, superabundantes,
para festejar este abraço de Unidade, sobretudo se nos lembrarmos dos
sucessivos ataques perpetrados pela
hierarquia diocesana em conluio com a governação política da Região. Entre outros,
a ocupação ‘terrorista’ da igreja, em 1985, por 70 efectivos da PSP - sem
mandado judicial – e, em Maio de 2010, a proibição da entrada da Imagem
Peregrina no adro da Ribeira Seca, a única paróquia que “não mereceu” tal visita.
Justificadas
e desejáveis, pois, todas as manifestações de gentileza, colaboração e simpatia
entre comunidade e diocese e respectivos titulares. No entanto, a Unidade não
implica unanimismo. Pelo contrário, é na diversidade que mais brilha a Unidade.
Na linha do Concílio Vaticano II e do seu corajoso impulsionador João XXIII,
bem como o seu continuador, o enérgico Paulo VI, as comunidades de base devem
fomentar e manter a criatividade da sua inspiração espiritual e evangélica,
como células vivas do Corpo Místico e não apenas amorfas ‘correias de transmissão’ ou extensões
autómatas do centralismo administrativo da Igreja.
É
o caso da Ribeira Seca. Durante 50 anos (e, com maior furor, pós-25 de Abril/74)
foi vítima da mais degradante perseguição político-religiosa, cujos
maquiavélicos contornos um dia serão contados. Apesar disso – e também por
causa disso! – esta comunidade fez o seu caminho, aproximou-se da pureza
evangélica, redescobriu as raízes que o seu Mestre Jesus Cristo doou aos seus
Apóstolos e, da mesma forma e veemência com que estes responderam aos Sumos Sacerdotes
do Sinédrio, também esta comunidade afirmou, por palavras e obras: “Mais vale
obedecer a Deus que obedecer aos homens”! (Actos,
5, 29).
E
continuou a sua marcha, desobedecendo aos hierarcas da diocese, porque viu-os
aliados e serventuários do regime político, homens do poder do mundo e não
mensageiros de Deus. Não obstante as prisões arbitrárias, as ocupações, os
anátemas, a recusa de Crismas e afins, os baldões injuriosos disseminados por
certa comunicação social, apesar de todo o ostracismo a que nos votaram, não
baixámos os braços, pelo contrário, purificou-se e enrijeceu-se a nossa Fé:
esclarecida, adulta, madura!
Por
isso, o abraço da Unidade não significará nunca o apertar do centralismo
autoritário dos obscuros tempos da ‘Regional Aliança’ sacro-política. Ao invés,
o abraço da Unidade brilhará cada vez mais na diversidade criativa das
comunidades cristãs, a da Ribeira Seca, inclusive. Como foi abertamente
verbalizado, há mais de um ano, na
presença do ilustre Prelado: “Gratos pela presença, declaramos a V.Ex. Rev.ma
que vamos continuar a aprofundar os motivos e os desenvolvimentos da nossa Fé”!
Afinal,
hoje fiquei-me apenas pela ‘confidência’.
Os tópicos fulcrais desta reflexão – Unidade e Diversidade na Igreja Universal –
deixarei para outra oportunidade.
21.Set.20
Martins Júnior
Diz o autor desta reflexão que, o encontro de hoje, é uma "conversa" sem título. Para mim, tem todos os títulos nomeadamente os que escorrem de dentro para fora, do coração e da mente de todos aqueles que se esforçam e que caminham pela unidade da igreja(s) na diversidade de pensamento e de ação. Mais uma reflexão que acresce a outras tantas deste e de outros pensadores desinteressados, contribuintes líquidos, para uma igreja madeirense renovada e inspirada na pureza das primeiras águas, modelo incondicional, para a sustentação dos pilares de um mundo melhor.
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