segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O ABRAÇO QUE LIBERTA A DIVERSIDADE NA UNIDADE

                                                                    


Seria sem título o nosso encontro de hoje. E sem limites de tempo nem fronteiras de espaço. Se me entenderem como confidência pessoal, falaremos a sós, em estreito convívio, tal qual “uma viagem à volta do meu quarto”. Se, porém, for mais longínquo o eco deste conteúdo, então estaremos todos em ‘sinal aberto’ num amistoso e transparente debate global. No que houver de pessoal, consideremo-lo uma confidência. No que se referir a um âmbito mais vasto, será uma hipótese de foro geral. Por isso, sintetizarei o caso em linhas gerais.

O caso tem a ver com a Unidade da Igreja (mais precisamente, das igrejas), enquanto marca distintiva e condição sine qua non da autenticidade evangélica, tal como ardentemente sonhou o seu Fundador, na Última Ceia.

No tocante à confidência pessoal, tem sido dado como exemplar o novo olhar do actual bispo Nuno Brás para com a igreja da Ribeira Seca. Tecem-se os melhores elogios à sua decisão, bem como às duas visitas que, no espaço de um ano, fez a esta comunidade, em contraste com os outros três antecessores que, durante 50 anos, nenhuma vez exerceram a sua missão pastoral neste templo. Motivos há, superabundantes, para festejar este abraço de Unidade, sobretudo se nos lembrarmos dos sucessivos ataques  perpetrados pela hierarquia diocesana em conluio com a governação política da Região. Entre outros, a ocupação ‘terrorista’ da igreja, em 1985, por 70 efectivos da PSP - sem mandado judicial – e, em Maio de 2010, a proibição da entrada da Imagem Peregrina no adro da Ribeira Seca, a única paróquia que “não mereceu”  tal visita.

Justificadas e desejáveis, pois, todas as manifestações de gentileza, colaboração e simpatia entre comunidade e diocese e respectivos titulares. No entanto, a Unidade não implica unanimismo. Pelo contrário, é na diversidade que mais brilha a Unidade. Na linha do Concílio Vaticano II e do seu corajoso impulsionador João XXIII, bem como o seu continuador, o enérgico Paulo VI, as comunidades de base devem fomentar e manter a criatividade da sua inspiração espiritual e evangélica, como células vivas do Corpo Místico e não apenas  amorfas ‘correias de transmissão’ ou extensões autómatas do centralismo administrativo da Igreja.

É o caso da Ribeira Seca. Durante 50 anos (e, com maior furor, pós-25 de Abril/74) foi vítima da mais degradante perseguição político-religiosa, cujos maquiavélicos contornos um dia serão contados. Apesar disso – e também por causa disso! – esta comunidade fez o seu caminho, aproximou-se da pureza evangélica, redescobriu as raízes que o seu Mestre Jesus Cristo doou aos seus Apóstolos e, da mesma forma e veemência com que estes responderam aos Sumos Sacerdotes do Sinédrio, também esta comunidade afirmou, por palavras e obras: “Mais vale obedecer a Deus que obedecer aos homens”! (Actos, 5, 29).  

E continuou a sua marcha, desobedecendo aos hierarcas da diocese, porque viu-os aliados e serventuários do regime político, homens do poder do mundo e não mensageiros de Deus. Não obstante as prisões arbitrárias, as ocupações, os anátemas, a recusa de Crismas e afins, os baldões injuriosos disseminados por certa comunicação social, apesar de todo o ostracismo a que nos votaram, não baixámos os braços, pelo contrário, purificou-se e enrijeceu-se a nossa Fé: esclarecida, adulta, madura!

  Por isso, o abraço da Unidade não significará nunca o apertar do centralismo autoritário dos obscuros tempos da ‘Regional Aliança’ sacro-política. Ao invés, o abraço da Unidade brilhará cada vez mais na diversidade criativa das comunidades cristãs, a da Ribeira Seca, inclusive. Como foi abertamente verbalizado, há mais de um ano,  na presença do ilustre Prelado: “Gratos pela presença, declaramos a V.Ex. Rev.ma que vamos continuar a aprofundar os motivos e os desenvolvimentos da nossa Fé”!

Afinal, hoje fiquei-me  apenas pela ‘confidência’. Os tópicos fulcrais desta reflexão – Unidade e Diversidade na Igreja Universal – deixarei para outra oportunidade.

 

21.Set.20

Martins Júnior

1 comentário:

  1. Diz o autor desta reflexão que, o encontro de hoje, é uma "conversa" sem título. Para mim, tem todos os títulos nomeadamente os que escorrem de dentro para fora, do coração e da mente de todos aqueles que se esforçam e que caminham pela unidade da igreja(s) na diversidade de pensamento e de ação. Mais uma reflexão que acresce a outras tantas deste e de outros pensadores desinteressados, contribuintes líquidos, para uma igreja madeirense renovada e inspirada na pureza das primeiras águas, modelo incondicional, para a sustentação dos pilares de um mundo melhor.

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