domingo, 13 de setembro de 2020

UM DIA NOVO!

                                                                                


Imagens há que valem mais que mil palavras. E breves episódios que condensam uma longa história. E também lugares tão exíguos na sua dimensão geográfica quanto imensos e eloquentes na sua semântica  territorial..

Passaram-se na Ribeira Seca a imagem, o episódio e o local E conta-se em três parágrafos.  Breves na escrita, mas opulentos de análise. É como o demonstra a gravura.

1960 – desenhado no chão embutido de calhau roliço da ilha. Atesta, como em rico pergaminho, a data da descentralização da matriz de Machico, por decreto do bispo diocesano David de Sousa. Podemos afirmar que foi o ano da emancipação da Ribeira Seca, onde desde 1692 Francisco Dias Franco mandara erigir a pequena ermida de Nossa Senhora do Amparo. Foi o grande salto, em termos administrativo-canónicos, para a autonomia das gentes rurais, conferindo novas centralidades e focos de desenvolvimento.  À semelhança de outras novas paróquias então criadas, o exíguo território ribeira-sequense, marcado por três séculos de colonia quase esclavagista, ganhou consistência, valor, lugar no mapa. Foi a Igreja madeirense quem logrou tal feito, de consideráveis consequências de ordem sociológica.

Um bispo – que veio apagar o rasto viscoso e sujo dos seus antecessores pós-Abril. Há quase cinquenta que o  prelado madeirense , responsável por toda a diocese – e  já lá foram três – sempre                                                                                                                                                     se recusou a visitar os diocesanos da Ribeira Seca, um historial de contornos  miserandos, escandalosos. O bispo, na foto, no espaço de um ano já efectuou duas visitas, que o povo registou e agradece.

Um pároco –precisamente o da igreja-mãe, a matriz de Machico. Foi ontem empossado como novo pároco da cidade. Tal como a do bispo, a sua presença sublinha um avanço civilizacional e religioso, visto que, desde a mesma altura (há quase cinquenta anos) foram nomeados vários párocos para a Ribeira Seca e nunca nenhum deles  lá pôs os pés, agravando-se este fosso com diatribes, imprecações e anátemas contra o templo e contra o povo da Ribeira Seca. A concelebração realizada entre as personagens da foto-acima abriram uma nova era no atribulado percurso desta localidade  e da própria diocese, dado que hoje pregou-se – e mais que isso – concretizou-se o sonho da unidade: a Diocese e Machico deram uma prova assertiva do que é ser cristão!

Apesar da chuva,  houve festa – não arraial, por respeito às orientações das autoridades sanitárias. Mas houve festa verdadeira, em que o espírito, a alegria, a paz e a concórdia foram protagonistas, pela mão da juventude bem presente no desempenho das canções alusivas ao acto.

Omiti propositadamente os nomes dos intervenientes, (já conhecidos) co-autores deste feito. Porque o seu gesto ultrapassa a individualidade pessoal da sua identidade, para alcançar horizontes intemporais e necessários ao mundo e à Vida. E à crença. E à espiritualidade. O que se passou na Ribeira Seca, em 13 de Setembro de 2020, ficará como um marco histórico nesta escassa localidade, mas poderá também arvorar-se como bandeira de amor fraterno e como proposta de paz entre as Religiões e entre as Nações.

Definiu-o já o génio teológico de Hans Kung: “Enquanto não houver paz entre as Religiões, não haverá paz entre as Nações”!

 

13.Set.20

Martins Júnior

1 comentário:

  1. Mesmo longe, alegro-me por tal concretização. As pessoas mereceram-na e a Igreja vai abrindo o seu verdadeiro rosto. Um abraço a todos.

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