Imagens
há que valem mais que mil palavras. E breves episódios que condensam uma longa
história. E também lugares tão exíguos na sua dimensão geográfica quanto imensos
e eloquentes na sua semântica
territorial..
Passaram-se
na Ribeira Seca a imagem, o episódio e o local E conta-se em três parágrafos. Breves na escrita, mas opulentos de análise. É
como o demonstra a gravura.
1960 – desenhado
no chão embutido de calhau roliço da ilha. Atesta, como em rico pergaminho, a
data da descentralização da matriz de Machico, por decreto do bispo diocesano
David de Sousa. Podemos afirmar que foi o ano da emancipação da Ribeira Seca,
onde desde 1692 Francisco Dias Franco mandara erigir a pequena ermida de Nossa
Senhora do Amparo. Foi o grande salto, em termos administrativo-canónicos, para
a autonomia das gentes rurais, conferindo novas centralidades e focos de
desenvolvimento. À semelhança de outras
novas paróquias então criadas, o exíguo território ribeira-sequense, marcado
por três séculos de colonia quase esclavagista, ganhou consistência, valor,
lugar no mapa. Foi a Igreja madeirense quem logrou tal feito, de consideráveis
consequências de ordem sociológica.
Um bispo – que
veio apagar o rasto viscoso e sujo dos seus antecessores pós-Abril. Há quase
cinquenta que o prelado madeirense ,
responsável por toda a diocese – e já lá
foram três – sempre se recusou a visitar os
diocesanos da Ribeira Seca, um historial de contornos miserandos, escandalosos. O bispo, na foto,
no espaço de um ano já efectuou duas visitas, que o povo registou e agradece.
Um pároco –precisamente
o da igreja-mãe, a matriz de Machico. Foi ontem empossado como novo pároco da
cidade. Tal como a do bispo, a sua presença sublinha um avanço civilizacional e
religioso, visto que, desde a mesma altura (há quase cinquenta anos) foram
nomeados vários párocos para a Ribeira Seca e nunca nenhum deles lá pôs os pés, agravando-se este fosso com
diatribes, imprecações e anátemas contra o templo e contra o povo da Ribeira
Seca. A concelebração realizada entre as personagens da foto-acima abriram uma
nova era no atribulado percurso desta localidade e da própria diocese, dado que hoje pregou-se
– e mais que isso – concretizou-se o sonho da unidade: a Diocese e Machico
deram uma prova assertiva do que é ser cristão!
Apesar
da chuva, houve festa – não arraial, por
respeito às orientações das autoridades sanitárias. Mas houve festa verdadeira,
em que o espírito, a alegria, a paz e a concórdia foram protagonistas, pela mão
da juventude bem presente no desempenho das canções alusivas ao acto.
Omiti
propositadamente os nomes dos intervenientes, (já conhecidos) co-autores deste
feito. Porque o seu gesto ultrapassa a individualidade pessoal da sua
identidade, para alcançar horizontes intemporais e necessários ao mundo e à
Vida. E à crença. E à espiritualidade. O que se passou na Ribeira Seca, em 13
de Setembro de 2020, ficará como um marco histórico nesta escassa localidade,
mas poderá também arvorar-se como bandeira de amor fraterno e como proposta de paz
entre as Religiões e entre as Nações.
Definiu-o
já o génio teológico de Hans Kung: “Enquanto não houver paz entre as Religiões,
não haverá paz entre as Nações”!
13.Set.20
Martins Júnior
Mesmo longe, alegro-me por tal concretização. As pessoas mereceram-na e a Igreja vai abrindo o seu verdadeiro rosto. Um abraço a todos.
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