Neste
mar assustado de vagas duplicadas e vagalhões triplicados – ele é o adamastor das Américas , ele é o ‘coronado’ tubarão pandémico, ele é o cortejo fúnebre de
proscritos da vida – surge um lampejo de bonança a haver, transfigurado em
rosto de mulher, verbalizado em acordes sonoros de uma palavra de ordem, que se abre em manhãs de esperança e
de verdade.
Vimo-la nós, portugueses, em solo
pátrio e ouvimo-la hoje mesmo, na
apresentação do “Plano de Recuperação e Resiliência”. Não é sem um imediato ictus de emoção que se ouve, alto e bom
som, e se vislumbra no grande teatro do mundo este – até há pouco tempo – estranho,
incomodativo pregão: “Resiliência”. Era um dos tais vocábulos atirados, quase
por desdém, à barriga de um outro não menos ‘escandaloso’: Revolução.
Resilientes eram os revoltosos, os insatisfeitos, os desestabilizadores da
letargia pública, os resistentes à ditadura dos usos e costumes. Até que enfim,
viu-se personificada a “Resiliência”,
entronizada em sede própria, pela mão das superiores entidades do país e da
Europa.
Refiro-me
a Úrsula van der Leyen, Presidente da
União Europeia, entre nós, semeando punhados de estrelas e punhos de exigências
para afastar o “espesso negrume” que avança sobre Portugal e sobre toda a Europa. Em suma,
sobre todo o planeta. A leveza da palava e a feminil elegância do gesto não impediram
Úrsula van der Leyen de marcar linhas firmes de conduta político-social para os
tempos que se avizinham,
De todo o discurso, em que enumerou os milhares de milhões outorgados
a Portugal (onde também se inclui a Madeira) permitam-me destaco em alto-relevo
este normativo, soberano, intemporal:
QUE SIRVAM PARA DAR AO PLANETA
MAIS DO QUE SE TIRA DO
PLANETA.
Auspicioso, mas sobretudo duradouro e
irrevogável imperativo que deveria inscrever-se no alçado frontal de todos os
parlamentos, de todos palácios executivos, de todos os tribunais, de todos os bancos,
de todas as fábricas, de todos os empreendimentos!
Deixarei apenas esse pensamento solto,
universal, para que cada um o desenvolva e o concretize:
Dar
mais à terra do que dela se tira.
Dar
mais ao mar do que se lhe rouba.
Dar
mais aos rios do que deles se desvia ou inquina.
Ao
operário – seja qual o seu ramo ou especialidade – dar mais do que se o
explora.
Enfim,
dar mais à vida do que a vida nos dá.
E
retribuir aos outros mais do que eles nos dão!
Sonho impossível, ambição desmedida,
num mundo onde roçamos os dedos e os cotovelos nas esquinas dos ‘tostões’,
enquanto outros, cuja obesidade nem cabe
na esfera dos ‘milhões’, arrastam-se lânguida e sofregamente até explodirem, um
dia, como a rã da fábula que quis usurpar o lugar do boi.
Palavra de ordem da Mulher-Europa:
DAR
AO PLANETA MAIS DO QUE DELE SE TIRA!
29.Set.20
Martins
Júnior
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