quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

A QUINTA IDADE DO HOMEM SOBRE A TERRA: A ERA DO “COVID/19”

                                                                    


Qual o poeta, qual será…aquele que nos séculos XXII e XXIII descreverá, aos soluços e em sobressaltos, esta era em que vivemos? Poeta ou dramaturgo, historiógrafo, cronista ou tragicómico novelista, que nome dará à enigmática trama que nos coube viver nos primeiros passos do século XXI?

Já lá vão mais de dois mil anos que Públio Ovídio Nasão concebeu a sua inspirada cosmogonia a que deu o bem apropriado título  METAMORFOSES, para justificar as quatro fases ou, em sua interpretação, as quatro idades do homem sobre a Terra: a Idade do Ouro, a da Prata, a do Bronze e a do Ferro., cada qual com a sua caracterização diversificada.

Que título dará à nossa época esse privilegiado poeta de amanhã?

Fôssemos nós (agora viventes, mas já então reincarnados) a titular a obra, que outra designação acrescentaríamos senão a mais óbvia e fidedigna: a Idade do Covid/19. Mais óbvia e ajustada nenhuma outra seria – e numa perfeita similitude com o poeta romano – porque é o próprio Ovídio que perscrutou o ventre progenitor das “Quatro Idades” e descobriu qual foi e o nome lhe deu: Cáos!

Nem mais nem menos: Do Cáos, massa amorfa e indisciplinada, saiu o Mundo Novo, o Homem Novo, a Idade Nova em ritmo quaternário de tom épico, imperecível: Ouro, Prata, Bronze, Ferro.

Quem sabe se não estaremos vegetando no seio parturiente de uma Nova Era, acossados por metabolismos caóticos, arfantes,  contrações anárquicas que nos deixam prostrados como náufragos atirados a praias que nunca conhecemos por não serem as do nosso quotidiano?!...

Teremos nós descoberto (ou talvez não, atordoados que estamos no trambolhão civilizacional) que desembarcámos noutro planeta, onde  “tudo é disperso, nada é inteiro”, condenados a viver exilados dentro do nosso território, encarcerados na casa-prisão que construímos com as nossas próprias mãos?!... Ao espelho, algum de nós já se viu no exacto papel de Sísifo que carregou o rochedo até ao alto  e, em lá chegando, desmoronou-se e voltou derrotado ao chão de onde partira?... Com a maldição inexorável de ter de repetir toda a vida a mesma infernal sentença! Não será isto o Cáos eternamente reeditado e sofrido da história humana?!

Amar – agora já não é abraçar, entrelaçar corpos e almas. Amar é afastar, senão mesmo ostracizar para longe. Transparência já não é a nudez franca, púdica, virginal, agora é máscara, escudo, arma, fuga à luz meridiana do rosto que se ama. Positivo já não é ideal que eleva, mas fatídico carimbo de exclusão, como faziam os nazis às vítimas inocentes. Agora o que vale, o que dá garantia é estar Negativo.

Na esfera social, o planeta virou ao contrário: Antes, eram os banqueiros, os empresários, os donos do capital, emproados, chutando de um sopro para a valeta quando o pobre, o operário ou assalariado lhes pedia o aumento de 3 euros. Agora é o mesmo trabalhador a servir de argumento e advogado para o Estado custear os lucros perdidos do hipotético empreendedor. É o pobre que nunca lhe foi permitido aceder a uma “suite num 5 estelas”, é ele que, com os impostos,  tem de contribuir para manter o grande hoteleiro. E é o “servo da gleba” que com os seus descontos tem de tapar os descalabros dos bancos novos e velhos!

Fico-me por aqui. Está dado o mote para que tomemos o pulso da hora que passa. Para que nos conheçamos em meio desta tormenta e agarremo-la decididamente como nossa adversária e nossa companheira de viagem, afim de a suplantarmos na crista da onda. É a METAMORFOSE que nos foi dada, como protagonistas efectivos do mundo futuro.

Trata-se, sem dúvida, de uma nova Idade da Terra, a do Covid/19. Nas outras (até nas epidemias) havia soluções aquém ou além-mar. Nesta, não há buraco por onde sair. Aqui também, o paradoxo deste Cáos: fugir é cair nas  malhas do abismo,  é entregar-se ao algoz que tem sucursais em toda a parte.

Desta prisão, façamos o reino de uma renovada Idade de Ouro!

13.Jan.21

Martins Júnior

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