segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

O MUNDO RESPIROU - “I AM AMERICAN”

                                                                     


            

         Poderia começar por “PORTUGAL RESPIROU”, após as eleições presidenciais, mas a verdade é que Portugal respira o gostoso ar da Liberdade há quase meio século. E os resultados de ontem confirmaram a manutenção desse privilégio.

Não obstante a projecção dessa boa notícia no panorama internacional, nada se comparará ao coeficiente de grandeza planetária que significou a vitória alcançada pelo povo americano, com a ascensão de Joe Biden e Kamala Harris à Casa Branca, em cerimónia única em toda a história daquele país: sóbria, humanista, eloquente, poética, multirracial! E mais que todos os predicados possíveis: a celebração da Democracia no mesmo lugar onde ela, poucos dias antes, tinha sido profanada e vilipendiada pelas mãos peçonhentas da mais cega ditadura.

Os norte-americanos reconquistaram a bandeira equivalente ao “25 de Abril” Português.  Em apenas quatro anos viveram e sofreram na pele os quarenta e oito anos da nossa ditadura. Depressa concluíram que os programas e as ‘miraculosas’ promessas eleitorais de 2016, na área económica, não passaram de embustes e sofisticadas manipulações para fazer entrar o vírus mortífero da ditadura e do ódio, não apenas na própria casa como no resto do mundo. Ninguém mais dormia descansado sob a metralha desvairada de um só fantasma e de uma só família alojadas na Sala Oval, de má memória. Desde o cidadão comum até às mais longínquas instâncias governamentais, inclusive o continente europeu, uma espada de Dâmocles estava suspensa sobre as nossas cabeças, sem sabermos quando e onde poderia desabar.

Mas fez-se luz e madrugada onde só imperava o terror. E o mundo mudou. E voltou a respirar. E o cantar da universalidade fez-se coro altíssono, colossal! Na amplidão de todo o cenário do Capitólio pairava o espírito de Walt Whitman, o expoente máximo da poesia americana, em cujas pegadas caminhou Fernando Pessoa. Ele, o poeta, a um tempo  sensista, telúrico e místico, visionário da unidade cósmica, ele estava ali para, ao lado da jovem afro-americana, cantar o seu apoteótico “O Me, o Life”!

Por ele, pelo espírito patriótico de Walt Whitman, falou o novo Presidente, que reúne no mesmo feixe luminoso a enraizada sabedoria dos 78 anos e a sã juventude de uma mensagem, insistentemente unitária, universalista. De todas as palavras – mananciais de auspiciosas torrentes de futuro melhor – destaco apenas aquela que pode tornar-se o Hino do Novo País contra o explosivo e, ainda bem, efémero, estertor do velho trumpismo: “ A América tem de afirmar-se no mundo não pelo exemplo da força, mas pela Força do Exemplo”!

Deixo aqui o meu testemunho de apreço por esse país que, enfim, retoma o merecido título de “Mundo Novo”. Porque aqui, de muito longe, senti o coração bater de novo as pulsações de quem se sente bem nesta “Casa Comum”. Durante décadas imbuído de um certo anti-americanismo vigente,  hoje posso abertamente juntar-me ao aplauso de todos quantos proclamam: “I Am American”!

Voltando a Portugal, apenas um reparo que terá oportunamente o seu desenvolvimento: enquanto os americanos aprenderam depressa a libertar-se do trumpismo açambarcador, é de um obscurantismo retardatário, senão mesmo, deprimente, ver parte de gente que quer afogar-se nas mesmas águas turvas das quais aqueles agora se libertaram!...

 

25.Jan.21

Martins Júnior      

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