Poderia começar por “PORTUGAL RESPIROU”,
após as eleições presidenciais, mas a verdade é que Portugal respira o gostoso
ar da Liberdade há quase meio século. E os resultados de ontem confirmaram a
manutenção desse privilégio.
Não
obstante a projecção dessa boa notícia no panorama internacional, nada se
comparará ao coeficiente de grandeza planetária que significou a vitória
alcançada pelo povo americano, com a ascensão de Joe Biden e Kamala Harris à
Casa Branca, em cerimónia única em toda a história daquele país: sóbria,
humanista, eloquente, poética, multirracial! E mais que todos os predicados
possíveis: a celebração da Democracia no mesmo lugar onde ela, poucos dias
antes, tinha sido profanada e vilipendiada pelas mãos peçonhentas da mais cega
ditadura.
Os
norte-americanos reconquistaram a bandeira equivalente ao “25 de Abril” Português.
Em apenas quatro anos viveram e sofreram
na pele os quarenta e oito anos da nossa ditadura. Depressa concluíram que os
programas e as ‘miraculosas’ promessas eleitorais de 2016, na área económica,
não passaram de embustes e sofisticadas manipulações para fazer entrar o vírus
mortífero da ditadura e do ódio, não apenas na própria casa como no resto do
mundo. Ninguém mais dormia descansado sob a metralha desvairada de um só
fantasma e de uma só família alojadas na Sala Oval, de má memória. Desde o
cidadão comum até às mais longínquas instâncias governamentais, inclusive o
continente europeu, uma espada de Dâmocles estava suspensa sobre as nossas
cabeças, sem sabermos quando e onde poderia desabar.
Mas
fez-se luz e madrugada onde só imperava o terror. E o mundo mudou. E voltou a
respirar. E o cantar da universalidade fez-se coro altíssono, colossal! Na
amplidão de todo o cenário do Capitólio pairava o espírito de Walt Whitman, o
expoente máximo da poesia americana, em cujas pegadas caminhou Fernando Pessoa.
Ele, o poeta, a um tempo sensista,
telúrico e místico, visionário da unidade cósmica, ele estava ali para, ao lado
da jovem afro-americana, cantar o seu apoteótico “O Me, o Life”!
Por
ele, pelo espírito patriótico de Walt Whitman, falou o novo Presidente, que reúne
no mesmo feixe luminoso a enraizada sabedoria dos 78 anos e a sã juventude de
uma mensagem, insistentemente unitária, universalista. De todas as palavras –
mananciais de auspiciosas torrentes de futuro melhor – destaco apenas aquela
que pode tornar-se o Hino do Novo País contra o explosivo e, ainda bem,
efémero, estertor do velho trumpismo: “ A América tem de afirmar-se no mundo
não pelo exemplo da força, mas pela Força do Exemplo”!
Deixo
aqui o meu testemunho de apreço por esse país que, enfim, retoma o merecido
título de “Mundo Novo”. Porque aqui, de muito longe, senti o coração bater de
novo as pulsações de quem se sente bem nesta “Casa Comum”. Durante décadas
imbuído de um certo anti-americanismo vigente, hoje posso abertamente juntar-me ao aplauso de
todos quantos proclamam: “I Am American”!
Voltando
a Portugal, apenas um reparo que terá oportunamente o seu desenvolvimento:
enquanto os americanos aprenderam depressa a libertar-se do trumpismo
açambarcador, é de um obscurantismo retardatário, senão mesmo, deprimente, ver
parte de gente que quer afogar-se nas mesmas águas turvas das quais aqueles
agora se libertaram!...
25.Jan.21
Martins Júnior
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