Onde
há muros há pontes. Porque não há pontes sem muros. Eles são os pilares, são as
guardas e os guias atentos para quem tem de atravessá-las em segurança.
Entre
Janeiro “velho” e um Fevereiro “novo”, precisamos de um guia que nos ajude a transpor
sem medo essa estreita e movediça passagem. E não só essa, mas todas as outras,
porque a vida outra coisa não é senão ganhar ânimo para ultrapassar quantos
arcos se nos deparam no percurso.
Líderes,
guias, seguranças – eis o que o mundo procura e tão raro encontra. Eu achei-o,
ao aproximar-me da Fonte – o LIVRO – como é propósito meu em cada
fim-de-semana. Achei-o, em primeira abordagem, no Deuteronómio (um dos cinco
livros do Pentateuco, atribuído a Moisés), remetendo o leitor para a sua melhor
interpretação, onde se conta que para
evitar que o povo morresse de pavor, como no Monte Sinai, quando Iahweh falou
no alto da montanha em chamas e a toda terra
a tremer, foi passado o testemunho ao profeta, com este solene e drástico
pré-aviso (Deut. 18, 15-20) :
‘Porei as minhas palavras
na sua boca e ele dirá ao povo só aquilo que Eu lhe ordenar. Contudo, se o
profeta ousar proferir alguma palavra em Meu nome, que Eu lhe não tenha mandado
falar, esse profeta será réu de morte’.
Tremendo
paradoxo! O povo liberta-se do medo terrífico do Monte Sinai, mas o procurador
de Iahweh, o Seu mensageiro exercerá a liderança mantendo-se fiel à matriz
original, sob a ameaça de pena capital!...
Só
pode ser líder e guia nas periclitantes passagens de nível da vida quem mantiver
a lucidez no olhar e a corajosa frontalidade de remover os obstáculos adversos.
Sem tibieza, sem híbridos subterfúgios diante dos poderosos. Como Moisés frente
ao Faraó. Como Pedro e Paulo perante o Sinédrio. Como Jeanne d’Arc no tribunal
dos bispos inquisidores. Como Luther King e Mandela. Como tantos heróis
desconhecidos na turva noite dos ditadores.
E
a Igreja?... As Igrejas?... Pesado, inexorável Tribunal da Consciência!...
Quantas vezes os auto-proclamados procuradores do Além falaram, decretaram,
impuseram normas e pesadelos aos ombros dos crentes, como se fossem preceitos divinos,
quando não passavam de grosseiros interesses classistas, requintados
privilégios mundanos, cedências sacrílegas no altar dos poderosos, dos
exploradores, príncipes do capital e do obscurantismo!!!
Protótipo
perfeccionista, ao mais alto nível, de líder e libertador do ser humano,
traz-nos também o LIVRO neste fim-de-semana:
‘Que nova forma de
ensinar! – diziam, extasiados, os judeus ao ouvir o
Nazareno na sinagoga de Jesrusalém – E que
autoridade nas suas palavras. Tão diferente dos nossos doutores da Lei’. (Mc.1,21-28).
Com
que “Autoridade”!
A
condição incontornável do líder é dirigir com “Autoridade”. Coloco entre comas,
porque Autoridade não é, como usualmente se diz, não é sinónimo de Poder. Há
uma diferença abissal entre Potestas e Auctoritas. Potestade-Poder apoia-se nas armas, na força, na tortura, no
dinheiro. E com esta armadura produz a guerra, o medo. A “Autoridade” é algo
intrínseco à liderança, ao espírito com que se dirige, ao humanismo inerente a
cada palavra e a cada decisão. E aí nasce a paz, floresce a liberdade. De entre
as muitas aproximações deste ideal programático, cito a mensagem de Joe Biden,
na tomada de posse, em 20 de Janeiro p.p.: ‘A
América deverá afirmar-se no mundo não pelo exemplo de força mas pela Força do
Exemplo’!
Excelente
paradigma comportamental em tempos de pandemia!
Para
isso e só com isso se consegue realizar a optimização das relações sociais,
expressa na assimilação dos dois polos opostos: governantes e governados. Grau
máximo na cotação da liderança mundial seria quando os actuais responsáveis das
nações não precisassem de ser autoritários para exercer a verdadeira “Autoridade”
diante do seu povo. Mas aqui é o povo quem subecreve e confirma a “Autoridade”.
Sem ele, campeia o autoritarismo inútil.
Antes
de chegar à outra margem – Fevereiro à vista – quero erguer o monumento da
gratidão global a esse enorme, gigante da verdadeira “Autoridade” que produz a
educação cívica da Humanidade: João Bosco, o pedagogo, o Santo, o condutor da
juventude, sobretudo nesta ilha, onde chegou a sua inspiração, com a fundação
da Escola Salesiana. Também por ele, no seu dia, é grande e memorável o 31 de
Janeiro!
31.Jan-01.Fev.21
Martins Júnior
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