Será
o mote para uma interminável glosa.
Aceite-a
quem quiser e trate-a com a profundura das raízes milenares e com a altitude
que excede as galáxias vencidas e vincendas, alcançadas e alcançáveis. Porque o
grito másculo deste dia ultrapassa-o, projecta-se, dilui-se e não descansa
enquanto não se consubstanciar na sua real totalidade genesíaca.
E
a mensagem é esta: Tudo quanto nasce traz consigo o maravilhoso enigma do
Hermafrodita.
Explico-me:
podem cortar em dois os hemisférios, podem colocar em cada um deles
um homem e uma mulher. O oiro, a prata, o diamante podem superar-se em brilho
autónomo, cada qual ostentando o preço singular da sua espécie. Pode o fruto
maduro separar-se da mãe-árvore que o trouxe nos braços verdejantes. Tudo é
divisível, tudo é sinónimo e tudo é antónimo. Mas algo existe que não pode
manter-se na luta de género, de sexo, de fertilidade ou de supremacia. Um nunca
poderá subsistir sem o outro. E se o tentarem, anulam-se irremediavelmente.
Reexplico-me:
Não há Pai sem Mãe! E não há Mãe sem Pai!
Poderá
haver homem sem mulher e mulher sem homem, mas o que se afirma estruturalmente
indissociável é a união – chamarei hipostática – entre maternidade e
paternidade. Uma nunca verá a luz do dia sem a outra.
Mãe
só ganhará estatuto essencial se houver Pai. E Pai só ganhará essa sua
identidade se houver Mãe. Poderá, pois, dizer-se que a Natureza procriadora é biologicamente
Hermafrodita. Só existe se for portadora, na sua génese, das duas forças conjuntas:
masculinidade-feminilidade. As duas no mesmo plano e no mesmo berço. Não há volta
a dar: desde a mais rasteira violeta aos mais possantes dinossauros, sobrepujando-se
no vértice real da Criação, o Ser Humano! Razão
têm, pois, certas cosmogonias orientais, ao conceber o Demiurgo, o Deus
Criado na figura de um Homem-Pai e de uma Mulher-Mãe.
No, oficialmente cognominado, Dia do Pai,
trago a presente reflexão que gostaria de tê-la transformado em poema épico, se
a tal chegasse a minha inspiração. Para vencer a dissonância desta efeméride.
Não deveria haver Dia do Pai que não fosse Dia da Mãe. A Mãe, como definição,
só existe se houver Pai – reafirmo. E o seu reverso também!
Sem
distanciar-me da leitura biológica do mote que hoje propus-me apresentar, permitam-me
extrapolar para um âmbito maior, no relacionamento sócio-pedagógico decorrente
da condição familiar – Pai e Mãe - citando o veredicto do Nazareno: “Que o homem não
separe aquilo que Deus uniu”.
19.Mar.21
Martins Júnior
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