O Planeta volta a estar vulcanizado. Se não
damos pelas placas geotectónicas que revolvem a profundidade, chegam-nos quase
à pele as lavas que escorrem à nossa beira, seja em Marrocos e Ceuta, seja em
Israel, seja por terra ou por mar.
Mas
o que nunca se esperaria neste primeiro quartel do século XXI é a trepidante insegurança
no ar que nos cobre e nos envolve. Os actos de pirataria aérea remontam ao
reino das ditaduras, contra as quais os terroristas – assim taxados pelos
regimes totalitários – afrontavam quase suicidariamente os detentores do poder
absoluto. Hoje, porém (e ontem foi, em
24 de Maio!) é outro o terrorismo, o de
um Estado, dito democrático, porque eleito pelo povo, um Estado pertencente à
nossa família europeia, sentado à nossa mesa, comendo do nosso orçamento. Para
onde fugiremos, se nem no azul dos céus nos achamos seguros?...
É
incrível o desaforo de desumanidade reinante no ditador pró-soviético Lukashenko
que não tem um pingo de remorso em mandar ‘sequestrar’ 121 pessoas, de 18
nacionalidades, que pacificamente se
dirigiam ao aeroporto de Vilnius, na Lituânia, e fá-las aterrar de emergência
em Minsk (BieloRússia), sob a assustadora escolta de um MiG-29, da era soviética.
Tudo
porquê?... Na versão oficial, devido a uma suspeita de bomba a bordo, a mesma
que engendrou o gélido Bush para justificar os bombardeamentos no Iraque. Na
versão real, a prisão de um jovem de 26 anos, jornalista anti-regime, que
viajava no mesmo avião!!! Como é possível? Em que mundo, em que Europa estamos
nós?
Transcrevo
aqui o pensamento da filósofa americana Judith Butler, em recente entrevista ao
jornal Le Monde: “Com a morte de George
Floyd, operou-se uma reviravolta a nível cultural e será preciso observar
atentamente as consequências e comportamentos institucionais que daí resultam”.
Os
órgãos máximos da EU já tomaram medidas severas, como as que já conhecemos.
Ninguém, sobretudo nós europeus, poderá ficar indiferente a uma barbaridade
tribal de um indivíduo, vigia de uma quinta sob o regime soviético e, depois da
independência, apoiado nas eleições para a presidência da Bielorússia, a qual
detém desde 1994, com o manifesto apoio de Putin.
Um
vulgar guardião-vigia de quinta do regime, catapultado a ditador desenfreado
numa Europa restituída à Liberdade e à Paz desde 1945! Onde é que eu já vi
coisa semelhante?... Ocorre-me à memória
o caso de um obscuro sargento do exército alemão, mais tarde transformado no
maior assassino da história. “Se bem me lembro” (parafraseando Vitorino
Nemésio), também não consigo esquecer
que, nos primórdios do 25 de Abril de 1974, numa minúscula Bielo-MAD-RAM aconteceu, entre
outras, esta cena precursora de um tal vigia-de-quinta Lucashenko: um
competente professor, distinto escultor, foi mandado coercivamente para o
aeroporto, tomar o avião e, sem mandado judicial nem processo formado, foi literalmente expulso da ilha!
Onde
quero eu chegar com estas aproximações à tômbola da história?
Simplesmente
a isto: não bastam as retaliações da EU e do mundo civilizado para refrear os
instintos maquiavélicos dos ditadores. É preciso mais. Aliás, as sanções
institucionais nem seriam necessárias, se houvesse esse ‘mais’. Qual será esse ‘mais’
adicional, estrutural? O Povo, o
Eleitor, o Cidadão comum, enfim, a consciência colectiva de que a soberania
está no Povo! O resto deixo à consideração de quem me acompanha nestas páginas.
Apenas,
uma última precaução: em tempo de confinamentos preventivos (e necessários à
saúde pública) cuidado, muita vigilância, porque sob o manto protecionista,
pode estar embuçado o pró-ditador Bielo-COVID que, sem escrúpulos, visa sub-repticiamente
anestesiar a consciência e a força soberana da identidade de um Povo!
Repetindo
Judith Butler: “É preciso observar
atentamente os comportamentos institucionais”!
25.Mai.21
Martins Júnior
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