quarta-feira, 5 de maio de 2021

DE ONDE SE FEZ AO LARGO A UNIVERSAL LÍNGUA MIGRANTE

                                                                            


        Quis o calendário gregoriano – e assim coincidiram os fastos nacionais e locais – que o “Dia da Língua Portuguesa” ganhasse o pódio central da semana maior da Capitania-Concelho de Machico, a Primeira da Diáspora Lusa, por outorga directa do Infante de Sagres a Tristão Vaz Teixeira, em 8 de Maio de 1440.

         Precisamente, hoje, 5 de Maio, hasteia-se a bandeira multicolor do nosso Portugal: “A Minha Pátria é a Língua Portuguesa”, já a definiu Fernando Pessoa. Por isso, outra lauda mais alta não haveria como esta de anunciar os “Anais do Município da Antiga Vila de Machico”. Porque as bucólicas “ Cantigas de Amigo” da poesia trovadoresca, a “Menina e Moça” de Bernardim Ribeiro, as crónicas de Fernão Lopes, o “Leal Conselheiro” de D. Duarte e. mais tarde, o génio de Camões e a eloquência  de Vieira ficariam confinados ao rectangular cadeado continental, se nas barcaças dos velhos lobos do mar e no seu bojo arrancado ao do pinhal de Leiria não viajasse o verbo atlântico e não balanceasse  o ritmo canoro da Língua-Mãe da nossa nacionalidade.

         De onde se pode inferir que, ao mesmo tempo que a Madeira se afirmou como baluarte e diocese de aquém e além-mar, até África, Brasil, Índia, também se deverá sinalizar Machico como epicentro propulsor do idioma português transmitido e multiplicado por esse mundo fora. Por aqui passou o rio subterrâneo do linguajar da gente lusa na demanda dos vastos horizontes do planeta.

         Merece, pois, redobrado aplauso a iniciativa da edilidade machiquense em dar à estampa o ‘Livro de Ouro’ do nosso Município, da autoria do escrivão municipal José António de Almada, publicado no periódico A Flor do Oceano, no cumprimento do Alvará Régio de D. Maria II (1819-1891) e determinação do Governador José Silvestre Ribeiro (1807-1891) Será o culminar das comemorações do “Dia do Concelho”, em boa hora reposto no seu galarim histórico (data da sua nascença oficial no quadro administrativo de Portugal) após largo debate e apreciação pública nas cinco freguesias do Município.

Por hoje, limito-me a este apontamento casual, permanecendo o intuito de reproduzir uma visão global dos “ANAIS”, em cujo  Prefácio deixei exarada a síntese do histórico documento. Entretanto, não resisto a sublinhar um dos aspectos mais impressivos do referido Prefácio:

“Uma nota peculiar perpassa, desde o início, nas páginas da obra identitária de Machico, o seu espírito autonomista e a indefectível resiliência da população na defesa dos seus direitos e legítimas prerrogativas, fosse contra a prepotência dos governantes, fosse nos conflitos jurisdicionais e/ou fronteiriços inter-concelhos, fosse ainda na reconstrução da sociedade local pós-epidemias e catástrofes naturais. Agradecemos ao autor José António de Almada o ter vincado este honroso carácter genético para os vindouros, também para nós, hoje, construtores de um Município evolutivo”.    

         Ficaria severamente claudicado este breve apontamento se não prestasse homenagem ao intenso trabalho de criteriosa análise dos Professores e Investigadores Ana Cristina Trindade, Carlos Barradas, Luisa Paolinelli, Paulo Perneta, Rui Carita, Naidea Nunes, Thierry Proença dos Santos.

         Justas saudações ao Presidente do Município Ricardo Franco e à sua equipa pelo manifesto serviço prestado à História e ao Povo de Machico.

 

         05.Mai.21

         Martins Júnior

1 comentário:

  1. LÍNGUA PORTUGUESA
    Última flor do Lácio, inculta e bela,
    És, a um tempo, esplendor e sepultura:
    Ouro nativo, que na ganga impura
    A bruta mina entre os cascalhos vela...

    Amo-te assim, desconhecida e obscura,
    Tuba de alto clangor, lira singela,
    Que tens o trom e o silvo da procela,
    E o arrolo da saudade e da ternura!

    Amo o teu viço agreste e o teu aroma
    De virgens selvas e de oceano largo!
    Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

    Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
    E em que Camões chorou, no exílio amargo,
    O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

    OLAVO BILAC
    Publicado no livro Tarde (1919).

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