Da fresta verde laurissilva entre tis e folhados
Vejo-lhe assomar a proa mordida sacudida
Por seiscentos oceanos-anos de vencida
Ei-la a Nau São Lourenço, a da Travessa e da Tormenta,
Rasgando o ventre da encosta lenta
Roçando a quilha
Desde os baixios do cais
Até ao mais abraçado vale da ilha
Na amurada içaram velas, tangeram alaúdes
Dizem também que vieram escravos no porão
As canções juntaram-nas às fontes e açudes
Mas o sangue de escravos não!
Não foram agronautas,
mesmo curvados ao chão,
Vergados à enxada
Escavando da terra o magro pão
Nunca venderam, não, à fé nem à coroa danada
A alma livre de quem não teme o Mar
Longa a viagem, dobrados os tornados
Ficaram mastros partidos nas arribas
Remos e braços decepados
Na voragem da montanha
E na crueza medonha, estirpe estranha
Dos donos de uma selva-ilha da velha cidade
Mas ei-la de novo, proa ao vento norte
Quanto mais duro, mais forte
Faz a nossa gente
Ficou-nos o leme
O astrolábio e a torre de menagem
Além-terra e aquém-mar
E enquanto houver viagem
E horizontes a alcançar
Argonautas agronautas supernautas
Reergamos os mastros, abramos as velas
Por Machico – 8 de Maio – de outras eras
Por um Povo nobre e audaz
Herdeiro de Tristão Vaz
7/
8.Maio.21 – Dia do Concelho de Machico
Martins
Júnior
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