terça-feira, 18 de março de 2025

40 ANOS DE LIBERTAÇÃO

                                                                              


Faz hoje 40 anos! Foi uma madrugada de Abril em Março quase primaveril. A Páscoa antecipada.

Após 18 dias e 18 noites de ataque de forças governamentais invasoras contra um pequeno aglomerado rural indefeso habitando a periferia serrana de Machico – um atentado russo a um pobre rincão ucraniano – os olhos dessa noite vigilante viram fugir os invasores, armas no coldre, peso e vergonha no coração, vencidos pela coragem e pela disciplina cívica do povo sitiado. Povo, templo, quintal e casa comum.

O cenário terrorista, horda tribal, golpe de mão nocturna, antes que o sol abrisse, já foi descrito vezes sem conta – e múltiplas deverão ser sempre repetidas, para que o mundo não esqueça – tudo aconteceu quando no lusco-fusco da manhã 70 policiais, às ordens do governo regional e do bispo do Funchal, sem mandado judicial, invadiram o adro da Ribeira Seca, assaltaram  a residência paroquial e a igreja, de onde sacaram o que lhes apeteceu, inclusive, livros de registo, alfaias litúrgicas, objectos de culto e adereços logísticos.

Felicito o Mestre em Gestão Cultural pela UMa, Severino Olim, por ter assinalado recentemente nas redes sociais e na imprensa diária o rasto viscoso dessa campanha inenarrável, nunca vista em 600 anos da história insular.

Desde o 27 de Fevereiro ao 18 de Março de 1985, o tempo há-de proclamar ao mundo o  fosso tenebroso e, sobre ele, a cúpula triunfal da condição humana: o fosso da aliança incestuosa dos dois poderes, o político e o religioso, sem escrúpulo nem pudor. E, em contradição suprema, a cúpula do poder popular (não haja complexo em dizê-lo, porque foi o povo desarmado o obreiro deste triunfo) um poder caldeado no sofrimento de gerações e gerações amordaçadas pelos senhorios e pelos eclesiásticos. Ainda estão por contar os contornos e, sobretudo, a génese desta epopeia que as autoridades e a comunicação social madeirense de então tudo fizeram para esconder e silenciar.

A religião, tantas vezes usada e  abusada pelos oligarcas, foi nessa altura um esteio libertador, tendo em conta o êxodo dos hebreus escravizados após 40 anos pelo faraó do Egipto . E no Novo Testamento,   a palavra do senador Gamaliel no Sinédrio, cujos juízes se preparavam para mandar matar os apóstolos. Disse Gamaliel:

Não vale a pena, porque se a mensagem desses homens não vem de Deus, ela vai consumir-se por si mesma. Mas se vem de Deus, não há poder que a destrua.  

O povo da Ribeira Seca venceu, porque teve resistência, autodomínio e vigilância sem termo.

Merecia digna comemoração uma efeméride desta grandeza. Atendendo, porém, ao momento de barafunda das naturais diatribes eleitorais, não se deva misturar com isso uma luta genuína, tão limpa e verdadeira, pelos valores superiores da dignidade do homem e da civilização.

 

17-18.Mar.25

Martins Júnior

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Porque no 30º aniversário do acontecimento, saudei-o com o poema alusivo, aqui o reproduzo e ofereço a quem o ler:

 

“ODE PEQUENA PARA UM POVO TÃO GRANDE”

                                               


Vieram os lobos primeiro

Sangue de verniz

No pelo e nas unhas

Sem falas nenhumas

Devoraram num triz

Chaves portas e gonzos

Do Templo  do Povo

 

Mas a sua alma

NÃO !

 

Vieram depois abutres

Beberam com o pão

O vinho novo

Do altar sagrado

 

Mas a sua Fé

NÃO !

 

Vieram negrejandas garras

De bárbaros salteadores

Mais feros que etarras

Arrancaram as luzernas

Que alumiavam o chão

De um Povo sem luz

 

Mas o sol que havia dentro dele

NÃO !

 

Vieram padres da Inquisição

No corpo e nas armas

Da soldadesca sem culpa

Em tortura e de arrastão

Homens jovens mulheres

Atirados à prisão

Só pelo crime

Do amor sublime

Àquilo que é seu

“A mim podes prender-me”

Dizia cada qual

 

“Mas o Povo com razão

Não vais prender

NÃO” !

 

Trinta anos dobrados

Trinta cânticos moldados

De luta

E fogo novo

Bebendo a cicuta

Da taça peçonhenta

Que os facínoras preparam

Para afogar o Povo

Nessa tormenta

 

Mas nem “Vigia” nem “Mitra”

Nem Roma nem Meca

Apagarão a história

E o facho da Vitória

De um Povo – RIBEIRA SECA !!!

                               Fev-Mar. 2015

sexta-feira, 14 de março de 2025

AQUELA FATÍDICA TERÇA-FEIRA, DIA 11: O GOLPE, O ASSASSINO E O SUICIDA-PROVOCADOR

                                                                         


Fosse vivo Almeida Garrett e reescrevesse as suas  VIAGENS NA MINHA TERRA, teria substituído Aquela aziaga sexta-feira, dia 13, pelo texto enunciado em epígrafe: Aquele dia aziago, 11 de março.

O ‘viajante’ do Senso.&Consenso é convidado a fixar em pano de fundo três vezes o 11 (onze) de Março da nossa história recente. São eles todos iguais qualitativamente. E todos diferentes quantitativamente.  

          Comecemos a viagem.

          11 DE MARÇO de 1975 – O PODER DAS ARMAS  

          Era terça-feira.

          O homem forte, general do exército português, medalhado comandante das campanhas coloniais na Guiné e precursor ideológico do “25 de Abril”, enquanto promotor da via diplomática contra a decisão  bélica – pois, esse mesmo, honra e prestígio da Pátria e Primeiro Presidente de Portugal libertado – ele, o próprio, general António de Spínola, convoca numa semi-clandestinidade oficiais do exército e lança a Unidade de Paraquedistas de Tancos contra o RAL 1, de Lisboa, onde estava o capitão Dinis de Almeida com os militares fiéis ao espírito do “25 de Abril” de 1974. Passado menos de um ano, estava o Povo Português à  beira de uma guerra civil sangrenta.  

A ânsia do poder pelo poder das armas!

Felizmente, fez-se a reconciliação. Não por obra dos oficiais superiores, mas pela visão directa dos subalternos e da intuição moderadora do jornalista da RTP em serviço, Adelino Gomes. Militares ‘invasores’ de Tancos abraçam-se radiosos, até com lágrimas nos olhos, aos militares ‘sitiados’ do RAL 1. O cabecilha da revolta abortada foge, de helicóptero, para Espanha.

O dia aziago transformou-se em dia de festa.

11 FEVEREIRO DE 2020 – O PODER ASSASSINO DO “COVID”                      


Abria-se a manhã e, oficialmente em Portugal, logo nos assaltaram as garras do dragão chinês que saltara a grande muralha e, cego de ira silencioso de armas, veio tragar milhares, milhões de vítimas   indefesas, sem olhar a cor, estado, crença ou continente, desde o idoso em fim de marcha até à criança de berço que vê a primeira luz do sol nascente. Malfadado dia 11 que fez de todo o mundo um interminável corredor da morte diante dos nossos olhos derrotados e  impotentes.

  Mas, de outra face e outro olhar - auspicioso e feliz DIA 11 DE MARÇO DE 2020! Foi o abraço de gerações, as verdadeiras nações unidas do planeta! Todos os cientistas e todos os laboratórios de todos os continentes sentiram o clamoroso apelo  da solidariedade global até encontrar a taumatúrgica vacina, arma silenciosa  que pela mão humana      derrotou a morte e restaurou a vida!

          11 DE MARÇO DE  2025 – O PODER DO SUICIDA DENTRO DE CASA E PROVOCADOR NA RUA

                                     


          Foi também uma terça-feira. Aziaga, diria Garrett. Fatídica, mortífera, suicida, dizem os factos.  Que viperina poção letal têm as terças-feiras nascidas na capicua nº 11?!  

O corpo de delito em três lances:

1º - O governo AD, escasso de corpo, débil de forças diante dos adversários, nunca se sentiu seguro no fio onde caminhava. Era minoritário. E o trauma da insegurança veio logo à entrada:

a)   O Programa do Governo, na iminência de ser liminarmente rejeitado pelo plenário da Assembleia da República, foi salvo pelo PS.  

b)   O Orçamento do Estado, também à beira do colapso, foi reabilitado pelo PS e aguentou o governo. Mais tarde, o partido da extrema-direita faz cheque-mate  com a arma fatal da

c)    Moção de Censura, pela qual o governo cairia.  E, mais uma vez, foi o PS que não o deixou bater no fundo do abismo. Mas a ameaça de morte não ficou por aqui. Logo depois, pela margem esquerda vem o PCP e atira o míssil balístico infalível, com uma repetida

d)   Moção de Censura, atiçando o plenário para mandar borda fora toda a equipa  do governo. Bastava um simples clic. Mas, pela quarta vez, o PS disse  Não! Não o deixou naufragar. Pelo PS, o governo fica. Tem carta branca para continuar a governar.

 

2º - E quando se esperava que o governo regozijasse de vitória e, porventura, esboçasse um gesto de congratulação e até de gratidão ao PS, eis que ele surge na sua própria face, tocado pelo síndrome do suicida compulsivo: “Matem.me, senão sou eu mesmo que vou montar a forca para me matar”.

3º - Conhecendo desde o início os propósitos do plenário, prepara a corda, dependura-a regimentalmente em plena Assembleia Regional. A corda foi buscá-la dentro de casa – a Menção de Confiança – e, pronto, vai ser hoje. ‘Hoje vão fazer-me a vontade’.

Dito e feito.

“O governo suicidou-se” – afirmou peremptoriamente o historiador e analista Pacheco Pereira, ao comentar na CNN/Portugal a capciosa armadilha da AD, porque excedentária (o governo tinha tudo para governar) contraditória, numa palavra, suicidária.

A quem se há-de comparar um tão abstruso contorcionismo psico-

-político da AD?... São imensas as hipóteses. Deixo duas apenas: a do incendiário que decide pegar fogo à sua própria casa e lança culpas ao vizinho que não veio apagar o incêndio. Ou a do terrorista  que escapou das duas bombas que  os adversários lhe puseram em casa, mas agora é ele mesmo a colocar debaixo da mesa a bomba atómica, na mira que o Seguro lhe faça uma suite.

          Aqui, o Seguro é o Povo, milhões de portugueses que o suicida provocador  obriga a eleições desnecessárias. Saiba o Seguro analisar e segurar-se.

          Fatídica terça-feira, 11 de Março! Oxalá acabe em bem e a bem do grande Segurador – o Povo Português!

         

          11-15.Mar.25

          Martins Júnior