quarta-feira, 31 de março de 2021

ANATOMIA DO MAIOR CRIME DA HISTÓRIA

                                                         


Hoje, devolvo a palavra ao detective.

Da minha parte, apenas esta convicção: insistir exclusivamente no ‘Suicídio de Cristo’  apenas para desagravar um Pai ofendido por terceiros não é mais que uma misera estratégia de branquear um crime.

Na lousa fria da morgue da História está um morto… de  morte  violenta. Impõem-se três pistas ao detective: Quem, Porquê, Como?

Por mais extrapolações que fizermos (que, no dizer de Pierre Emmanuel Dauzat, pertencem ao receituário da “gelatina mística”) importa dissecar o Processo: Quem o matou? Porquê e Como?

O detective, hoje, é cada um de nós.

Na ponte que une os dois ‘Dias Ímpares’ – 31 de Março e 1 de Abril – assentarei a minha objectiva e farei a anatomia do, talvez, maior crime da História.

Aguardo também as conclusões do vosso trabalho de pesquisa.

Deixo apenas uma hipótese de investigação, a de Leonardo Boff:

         “A condenação de Jesus, historicamente considerada, foi consequência da sua mensagem de universal libertação e das suas práticas perigosas para a ordem vigente do seu tempo”.

31.Mar.21

Martins Júnior

segunda-feira, 29 de março de 2021

SEMPRE O ENIGMA: ASSASSINATO OU SUICÍDIO?

                                                                     


De quarentena pesada esta semana!, assim defini os dias e as horas que preenchem o itinerário da tragédia que abalou o mundo, desde há dois milénios. Assassinato ou Suicídio é a grande incógnita que ocupa a semana de pesada quarentena.

Por que estranha razão há-de preocupar-se a mente humana, a este propósito, quando se sabe que todas as correntes vão dar à mesma foz, ou seja, à dúvida insolúvel e, na tese mais optimista, tudo aconteceu em prol do bem comum?... Seja como for, há um morto na morgue da História e, precisamente  em nome  da razão e da justiça, interessa saber qual ou quais os autores.  Ao menos, para ‘dar o seu a seu dono’ e, sobretudo, para tentar desmistificar preconceitos que enublam gratuitamente o pensamento de indivíduos e gerações.

Do Nazareno – esse paradigma intocável da verticalidade e da transparência, a toda a prova – têm-se criado, recriado, desmultiplicado versões tamanhas, as mais desdobráveis e multifacetadas, quase a torná-lo tão complexo quanto irreconhecível, enfim, um oximoro perfeito. E esta pesquisa em torno sua morte é uma das pistas adequadas à descoberta da sua personalidade.

Estamos perante um dilema posto à consideração do detetive atento: por onde se  prova o suicídio?… e/ou onde pairam os vestígios do assassinato?... Trabalho árduo, que à primeira vista, desaconselha começar, justamente porque não se sabe como acabar, mais a mais, no curto formato deste expositor virtual. Tentemos.

 A defesa da tese suicidária está envolta numa enorme nebulosa que atravessa o equador de todos os tempos, formalmente designado pelo Antes de Cristo e o Depois de Cristo, desde as concepções judaico-cristãs, herdeiras do Velho Testamento., as quais navegam num mar supra-oceânico, quase lunar. Passo a descrevê-lo, em termos gerais:

  Deus, que criou o Mundo, achou-se traído pelo rei da criação, o Homem, desde a alegoria do paraíso terreal e do fruto proibido. No decurso dos tempos, os descendentes inquilinos do planeta Terra reincidiram na senda dos mesmos atentados/pecados contra o Criador. Para reparar a afronta a Deus, foi o próprio Deus, o Juiz Supremo, quem ditou a sentença e o preço do resgaste: nada mais, nada menos que a morte do próprio Filho. Portanto, a ira furibunda do Pai só poderia refrear-se se lhe servissem, em audiência solene, o Filho morto, o Filho Único. Ele próprio, o Deus-Pai, em forma de visão premonitória, exigira a Abraão – o pai do judaísmo – o sacrifício cruento do filho único Isaac. (Génesis,22).

Dada a sentença, seria forçoso encontrar o corpo de resgate e, daí, toda a casuística necessária à sua concretização. O Filho, sem culpa formada, sem crime algum (assim o reconheceu Pilatos) deveria oferecer-se como vítima reparadora ao Pai. Na lógica deste processo, todos as ferramentas de tortura, os carrascos, a cruz, inclusive o traidor Judas, foram os meios logísticos que o Filho inelutavelmente optou para cumprir o mandato do Pai.

São imprevisíveis, quase fantasmagóricas (para não dizer, aberrantes, iconoclastas) as conclusões lógicas que daqui se podem extrair. No entanto, ainda hoje se repete que “Jesus entregou-se à morte pelos nossos pecados”, inclusive pelos de uma criança recém-nascida!!!... São Paulo afirma perentoriamente que “Jesus aniquilou-se a si mesmo até à morte”. (Filipenses,2,7).

A mentalidade dos primeiros cristãos foi povoada pela entrega voluntária de Cristo, protótipo do brilho que sobredoura a face dos mártires. Falava-se do êxtase da morte, êxtase de amor”. Cito, por todos Pierre Emmanuel Dauzat: “Esta ideia não é nova. Encontra-se já desde o século II em Tertuliano e, pouco depois, em Orígenes, aplicado a ‘desconstruir’ o Evangelho de João. Desde então, este tema da morte voluntária de Cristo, ou mesmo do suicídio, permanecerá omnipresente na reflexão dos teólogos, para assumir um particular relevo em São Tomás ou John Donne”…

Mais incisivos, nestas conclusões, são G. Minois e A.Alvarez quando afirmam: “O acontecimento fundador do cristianismo é o suicídio”… “O suicídio, mal disfarçado em martírio, é a rocha sobre a qual a Igreja foi edificada”.

Questões fundamentais sob as quais muitos rios de tinta já correram e muitos mais hão-de correr! Tentaremos descobrir o caminho, nesta semana pesada e inspiradora.

 

29.Mar.21

Martins Júnior

 

sábado, 27 de março de 2021

UM FORTE LIDER FAZ FORTE A GENTE FRACA – O DIA EM QUE O POVO PERDEU O MEDO

                                                                        


No Dia Mundial do Teatro sei que nos palcos, nas telas plásticas e nas telas cinematográficas estão, desde há séculos, espelhados em estilo soberbo os episódios que antecederam a tragédia que, poucos dias depois, se consumou em assassinato ou suicídio, questão magna que tem ocupado os meus/os nossos ‘Dias Ímpares’. Mas o que me domina e fascina não está nas configurações que desses episódios conceberam os artistas, está sim no original, “ao vivo”, naquela explosão incontida que abalou as poderosas estruturas de Jerusalém.

         Sempre foram de gala estrondosa os rituais protocolares com que os vencedores entravam nas cidades-capitais do Império após a vitória sobre os exércitos beligerantes, seus inimigos, chegando ao cúmulo de trazer os despojos, por vezes os próprios corpos dos vencidos arrastados aos cavalos de guerra. De gala faustosa, ruidosa, também os cortejos aristocráticos por ocasião das tomadas de posse dos monarcas e presidentes eleitos.

Mas nenhum deles se abeira, em volume e genuinidade, daquele acontecimento que a nomenclatura oficiosa dá pelo nome de Domingo de Ramos, Domingo de Palmas.

No ambiente soturno e opressivo que o poder romano do Império e o poder religioso do Templo traziam todo um povo submisso e acabrunhado, surge um líder decidido a dar ao seu povo a hipótese de respirar o ar puro de uma vida digna do estatuto humano. É desse Mestre que nos estamos ocupando nesta semana e na que se lhe segue.  Oriundo da zona mais rebelde da Palestina, a Galileia, de onde tinham emergido outros bandeirantes da libertação dos palestinianos face ao invasor de Roma, este Galileu, a um tempo pacífico mas vigoroso, condescendente mas radical perante as linhas vermelhas, combatente sem tréguas da prepotência hierárquica mas defensor acérrimo do direito dos ‘sem vez nem voz’ concitou o ódio dos ‘Donos Daquilo Tudo’. Ele sabia que estava iminente a trucidação dos seus ideais e da sua própria existência física.

Por isso, afrontou os poderes reunidos em sociedade secreta, ao princípio, mas depressa despudorada e compulsiva. Ele que não dispunha de armas, de finanças ou de privilégios recomendados, tinha na mão a arma mais forte que uma muralha intransponível: o Povo – uma multidão de pobres, de pescadores, assalariados rurais, artesãos e de muitas mulheres, gente tolhida pelo medo dos ditadores mas ansiosa pela sua hora de emancipação político-social.

E aconteceu nessa manhã de Domingo. Remeto para a leitura dos quatro autores dos textos propostos para este fim-de-semana. A cidade ficou alvoroçada, escreveram eles. Homens, mulheres, jovens, idosos, crianças encheram as ruas e as praças de Jerusalém, a ponto de porem em sentido (e muito inseguros) os inquilinos dos palácios governamentais e o próprio Sinédrio.

(Perdoem-me ter de encerrar, pois o apagão geral da Ilha (devido à tempestade e à trovoada desta noite) embora fugitivamente restabelecida a energia eléctrica, corremos o risco de novo corte. Por isso, termino com a citação do ‘Imperador da Língua Portuguesa’, Padre António Vieira, em discurso proferido neste mesmo dia, na Baía, Brasil, 1634):

“Eles (os poderosos sumos sacerdotes do Templo) queriam crucificar a Cristo, mas Cristo crucificou-os a eles. Aquelas aclamações do povo eram os pregões que iam diante publicando o delito da sua injustiça,  aquelas palmas que levavam na mãos eram as cruzes em que invisivelmente eles iam crucificados na alma”...                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             

  O povo perdeu o medo, ganhou personalidade e fez-se respeitar perante o poder instituído. Incluo neste cortejo imponente, genuíno, todos aqueles que ontem, hoje e amanhã são gente “de um só rosto e de uma só fé, de antes quebrar que torcer”, diante das ditaduras de todos os tempos.

E “se um fraco rei faz fraca a gente forte”, também o seu oposto é verdadeiro: Um líder forte faz forte a gente fraca”.

Bem vindo, Domingo de Ramos!

 

27.Mar.21

Martins Júnior

quinta-feira, 25 de março de 2021

ASSASSINATO OU SUICÍDIO? – O TESTEMUNHO DOS FACTOS

                                                                          


         Já que decidi entrar por aqui, não posso voltar atrás -  como quem entra numa vereda alcantilada e até perigosa, na esperança de encontrar a grande paisagem oceânica da Verdade. Chame-se “dúvida metódica”, a cartesiana, ou diga-se como Régio: “Sei que não vou por aí”, o desejo maior é ver  (“ver como um danado”, já o exprimira Fernando Pessoa) sobretudo no emaranhado das crenças, mitos, ilações acomodatícias e quejandos em que nos tem mergulhado a questão formulada anteriormente: “Assassinato ou Suicídio?”.

         Toda esta preocupação vem definida no comentário que alguém fez ao último escrito: “Tantos mistérios: espero que alguém tenha a coragem de contar toda a verdade sobre o que está acontecendo. Já duvidamos de tudo”.

         Tentar encontrar a Verdade dos factos. Imperioso, incontornável! Porque de divagações, interpretações místicas, voos piedosos, construções melodramáticas, de tudo isso estamos cansados, anestesiados. Nada melhor que citar Octávio Castelo Paulo:

         Como alguém disse, “Jesus não era um meteoro caído do céu”, mas sim um homem real, nascido em determinado ambiente social, político e económico, sem nunca esquecer o religioso. Desligar Jesus da época turbulenta em que viveu, com a sua terra sob a ocupação romana, perturbada com as acções guerreiras de outros galileus pobres que, como consequência das suas acções revolucionárias, eram mortos pelos ocupantes inimigos e, muitas vezes, crucificados como escravos, é o mesmo que criar um Jesus desligado da vida, é imaginar um ser mitológico e irreal.

         Quem o afirma é um homem do Direito, antigo Juiz Desembargador, no conceituado estudo: O Processo e a Morte de Jesus, onde faz a análise  paralela à pergunta acima formulada: Assassinato ou Suicídio?

         Embora não caiba nos estreitos limites deste formato a observação descritiva da real circunstância em que viveu o Nazareno, o certo é que sem esse exercício nunca entenderemos “a sua doutrina, a sua execpcional personalidade  e os actos que praticou, ao menos, como são narrados nos evangelhos”, refere o mesmo ilustre jurista.

         Pelo exame das “fontes”, desde o LIVRO até aos historiadores coevos  Flávio Josefo, Tácito, Suetónio e aos Apócrifos, a Palestina – autodesignada ‘Povo Eleito’ -  era um território dilacerado, desde tempos imemoriais, por sucessivas lutas fronteiriças e, interiormente, dividida por acirradas assimetrias sociais. De um lado, a classe dos nobres, adstrita ao clero, por sua vez subdivididos em saduceus, fariseus, essénios. Do outro lado, os camponeses pobres, assalariados, artesãos, pastores nómadas, pescadores. A dominar todo o sistema político-religioso estava o Procurador ou Governador, Representante do Imperador de Roma. Não obstante respeitarem o culto das tradições judaicas, as autoridades romanas na Palestina negociavam com os titulares do Templo de Jerusalém a nomeação do Pontifex, o Sumo Sacerdote dos Judeus que presidia ao Sinédrio, tribunal judaico com jurisdição para julgar questões do foro da religião.  Por onde se conclui da aliança entre os dois poderes: político e religioso, aqueles que condenaram Jesus à morte. Imperava a dupla ditadura, reforçada com o veredicto da Divindade, fonte originária de todo o poder humano, assim se escrevia e decretava.

         Era inevitável o ambiente de animosidade latente contra o regime ocupante da Palestina e entre as próprias classes locais. Cito: A Galileia dos gentios era a região da Palestina, onde existia maior agitação popular, com o aparecimento de novos combatentes inconformados com a situação que viviam, gerando-se nesse meio um ambiente propício aos movimentos contestatários, de teor político-religioso e, por isso, favoráveis ao messianismo e à ideia de que Deus viria ajudar o ‘Povo Eleito’, enviando um Messias salvador, um Ungido, verdadeiro representante do Deus vivo, para instalar o seu Reino.

         É neste ‘caldo’ efervescente que surge “o filho do carpinteiro”, também ele galileu, em quem o povo (e secretamente as próprias autoridades) identificavam o messianismo almejado desde séculos e anunciado pelos profetas do Velho Testamento. Aliás, seria Ele o líder predestinado para vingar a derrota de dois históricos revoltosos – um certo pastor de nome Atronges e um destemido combatente chamado Judas, O Galileu – cujos exércitos populares foram esmagados pelo poder imperial.

         Segundo o testemunho do historiador de então, Flávio Josefo, o citado Judas Galileu foi o fundador da seita dos Zelotas, a qual defendia como regra básica que “a única submissão do homem só poderia ser a Deus, não aos outros homens e muito menos aos romanos pagãos”.

         Como ter-se-á portado Jesus (que recrutou os seus militantes precisamente na Galileia) em toda esta conjuntura, para merecer a simpatia do povo e o ódio das autoridades?

         É o que vamos continuar a descobrir.

 

         25.Mar.21

Martins Júnior

        

terça-feira, 23 de março de 2021

ASSASSINATO OU SUICÍDIO? – DUAS SEMANAS DE QUARENTENA PESADA

                                                                           


De quarentena, sim. Não daquela que paralisa ou encarcera o corpo, mas de uma outra, a que, primeiro, comprime e aperta os neurónios para, depois, libertar o espírito. Até 4 de Abril, não serão passeio fácil os dias e as noites que medeiam esta ponte que separa as duas margens da primavera. Acompanhe-me quem achar por bem e tiver coragem de olhar o sol da realidade factual, sem preconceitos e sem fúteis misticismos.

O caso é mais duro que a crueldade ocorrida com George Floyd, lá longe nos EUA, mais hediondo que o de Ihor Homeniuk, afogado às mãos do SEF, aqui tão perto. O mundo estalou de indignação, porque dois homens foram assassinados sob o ‘império’ das autoridades oficiais. No protesto das populações eram patentes, gritantes, três veementes questões e tão  urgentes quanto as respostas: Quem?... Como?... Porquê?...

         O caso é mais cruel, mas parece apenas de protocolo anual, se não apetecido, ao menos pacificamente consentido:

Um outro cidadão, de pleno direito do reino de Israel (já lá vão mais de dois mil anos) foi barbaramente torturado e assassinado no mais humilhante patíbulo da época: a Cruz.

E ninguém acorre, a perguntar: Quem matou?... Por que o matou?... Quais o processo e a forma de execução da  pena?..

A quarentena interrogante balança entre dois polos antitéticos, dificilmente conciliáveis: Assassinato ou Suicídio?... Jesus foi morto ou foi Ele próprio que se matou, entregando-se directamente aos algozes?

Como foi dito acima, a pergunta é tão pesada quanto ou mais que a quarentena. Mas é preciso formulá-la com racionalidade e frontalidade, perscrutá-la, até encontrar (talvez o impossível!) uma resposta minimamente satisfatória à inteligência humana. Porque, aqui também, ‘a culpa não pode morrer solteira’.

 Dois autores ajudar-nos-ão a um esclarecimento plausível:

O primeiro é Jacques Paternot, engenheiro, industrial, economista, escreveu um livro e títulou-: “O assassinato de Jesus”. Por outra o lado, o analista e teólogo Pierre-Emanuel Dauzat optou pela designação mais cruenta, em sua obra: “O Suicídio de Cristo”.

Da extensão e compreensão da resposta, dependerá a nossa visão da realidade factual e, mais do que isso, ditará o nosso posicionamento (activo, passivo ou quase folclórico) sobre como comemorar tão trágico  e criminoso acontecimento.

 

23.Mar.21

Martins Júnior  

 

domingo, 21 de março de 2021

“NEM PADRES NEM CHEFES” … SUGERE JEREMIAS PROFETA

                                                                           


Consumidor habitual e cultor compulsivo do LIVRO,  no trânsito hebdomadário entre uma semana e outra, desta vez impressionou-me o pensamento desse velho sábio Jeremias, quando teve a ousadia de proclamar uma Nova Ordem Mundial, começando pela cidade e pelo país que habitava. Falava ele, como intérprete do Juiz Supremo, Iahveh:

Hei-de fazer um Pacto com o Meu Povo (dar-lhe-ei uma Nova Constituição com um Artigo Único): Não mais precisarão de quem lhes ensine a Minha Lei, porque Eu Próprio vou inscrever no mais íntimo da sua inteligência e no mais fundo do seu coração os meus preceitos. Do maior ao mais pequeno, todos conhecer-Me-ão (e saberão conduzir-se autonomamente) e com tal evidência que  ninguém precisará que outrem (guru ou mestre)  lhes diga: Faz isto ou faz aquilo. Hei-de colocar neles toda a Minha Lei. E é assim que quero o Meu Povo. (Jer. 31, 31 sgs).

Que intuição tamanha e que perspicácia sócio-pedagógica  do conceito de liberdade e autonomia integrada! Interpreto-a esta ‘Nova Ordem’  como o estádio maior a que pode ascender uma sociedade civilizada. Conferir a cada cidadão o estatuto plenamente interiorizado de que ele sabe encontrar os parâmetros exactos da Lei Natural, que é o mesmo que dizer da Lei Divina impressa na sua carne, no seu sangue, nos seus instintos, nas suas motivações!!!

Há mais de 2.700 anos, Jeremias, conhecedor exímio da comunidade em que vivia, estaria sem dúvida saturado de gurus, juristas, comentadores, opinadores, pregadores pseudo-profetas, alguns deles talvez perorando em nome de Deus e impondo preceitos humanos como se fossem divinos, apenas para confundir a opinião pública e servir os seus mais obscuros interesses. Daí o seu veredicto desassombrado, restituindo ao cidadão a sua dignidade, obrigando-o a responder perante o tribunal da sua consciência.

A este propósito, cito Guerra Junqueiro, (1885) num excerto dos seus fulgurantes alexandrinos, do poema O CRIME:

… É como o olhar dum tigre o olhar da consciência…

É este o julgamento e é este o tribunal:

Reside dentro de nós toda a sanção penal,

É o crime e o remorso, a causa com o efeito.

A sociedade tem um único direito:

Exigir do assassino uma reparação.

Eduquem-no: é meter a escola na prisão,

Transformem esse monstro num ser inteligente

Façam-no livre, isto é, façam-no consciente.

Consciência quer dizer responsabilidade.

Um assassino verga os ferros duma grade

Mas não pode vergar a consciência austera.

Introduzi a luz no crânio dessa fera.

 

É de um tratado de superior Academia Cívica, Holística  (cabe aqui a polémica questão das aulas de Cidadania) a proclamação que Jeremias sugere e poderíamos dissertar longamente sobre esta dimensão. Tremendamente actual. Deixo à consideração de cada um. De cada educador, de cada responsável. De cada jovem. Sei que, nas circunstâncias presentes, será algo de utópico, longínquo. Mas é este o melhor caminho para fechar cadeias, aliviar tribunais, corrigir religiões.

Traduzi o pensamento do Profeta por uma expressão avocada dos movimentos anarco-revolucionários, desde o Maio/68 e afins. Foi de propósito. Porque o batente “Nem Padres nem Chefes”, sendo aparentemente anárquico, ultrapassa essa interpretação simplista. Pelo contrário, releva e acentua a necessidade de uma educação personalizante, deveras exigente, precisamente na linha do texto bíblico que proponho para esta semana.

Porque daqui também se caminha para a Poesia e para o Anti-racismo!

 

21.Mar.21

Martins Júnior      

sexta-feira, 19 de março de 2021

TUDO O QUE É VIDA É HERMAFRODITA: POSTAL CONTRIBUTIVO PARA UM CONTÍNUO DIA DO PAI

                                                                        


Será o mote para uma interminável glosa.

Aceite-a quem quiser e trate-a com a profundura das raízes milenares e com a altitude que excede as galáxias vencidas e vincendas, alcançadas e alcançáveis. Porque o grito másculo deste dia ultrapassa-o, projecta-se, dilui-se e não descansa enquanto não se consubstanciar na sua real totalidade genesíaca.

E a mensagem é esta: Tudo quanto nasce traz consigo o maravilhoso enigma do Hermafrodita.

Explico-me: podem cortar  em dois  os hemisférios, podem colocar em cada um deles um homem e uma mulher. O oiro, a prata, o diamante podem superar-se em brilho autónomo, cada qual ostentando o preço singular da sua espécie. Pode o fruto maduro separar-se da mãe-árvore que o trouxe nos braços verdejantes. Tudo é divisível, tudo é sinónimo e tudo é antónimo. Mas algo existe que não pode manter-se na luta de género, de sexo, de fertilidade ou de supremacia. Um nunca poderá subsistir sem o outro. E se o tentarem, anulam-se irremediavelmente.

Reexplico-me: Não há Pai sem Mãe! E não há Mãe sem Pai!

Poderá haver homem sem mulher e mulher sem homem, mas o que se afirma estruturalmente indissociável é a união – chamarei hipostática – entre maternidade e paternidade. Uma nunca verá a luz do dia sem a outra.

Mãe só ganhará estatuto essencial se houver Pai. E Pai só ganhará essa sua identidade se houver Mãe. Poderá, pois, dizer-se que a Natureza procriadora é biologicamente Hermafrodita. Só existe se for portadora, na sua génese, das duas forças conjuntas: masculinidade-feminilidade. As duas no mesmo plano e no mesmo berço. Não há volta a dar: desde a mais rasteira violeta aos mais possantes dinossauros, sobrepujando-se no vértice real da Criação, o Ser Humano! Razão  têm, pois, certas cosmogonias orientais, ao conceber o Demiurgo, o Deus Criado na figura de um Homem-Pai e de uma Mulher-Mãe.

 No, oficialmente cognominado, Dia do Pai, trago a presente reflexão que gostaria de tê-la transformado em poema épico, se a tal chegasse a minha inspiração. Para vencer a dissonância desta efeméride. Não deveria haver Dia do Pai que não fosse Dia da Mãe. A Mãe, como definição, só existe se houver Pai – reafirmo. E o seu reverso também!

Sem distanciar-me da leitura biológica do mote que hoje propus-me apresentar, permitam-me extrapolar para um âmbito maior, no relacionamento sócio-pedagógico decorrente da condição familiar – Pai e Mãe -  citando  o veredicto do Nazareno: “Que o homem não separe aquilo que Deus uniu”.

 

19.Mar.21

Martins Júnior

quarta-feira, 17 de março de 2021

ELEIÇÕES NO VATICANO

                                                                                  


Em se aconchegando a primavera para entrar em cena, com todo o viço e o bulício da estação primeira do ano, também pairam no ar os ventos que prenunciam as eleições, essas agitadas monções primaveris que umas vezes rejuvenescem um país e outras vezes mergulham o povo em atribuladas convulsões sociais, como recentemente em Mianmar.

Por coincidência, na semana transacta celebraram-se oito anos sobre uma outra eleição, a do argentino Jorge Mario Bergoglio para Bispo de Roma, Chefe de Estado do Vaticano e Pontífice Máximo da Igreja Católica. Uma eleição pacífica, promissora e já com provas dadas na requalificação, não só da vetusta orgânica da cúria romana, como sobretudo da renovada face da Igreja no mundo.

Achei, por isso, oportuno e útil, ao menos numa linha de conhecimento histórico, espreitar tanto quanto possível os labirintos, os processos, a casuística, enfim, a engenhosa e poliédrica máquina que produz o mais influente e poderoso monarca da Europa e, quiçá, do mundo. Por mais estranho que pareça, a escolha do Supremo Magistrado da Igreja em pouco difere da emaranhada malha de interesses sócio-políticos e financeiros que se infiltram na maioria das refregas eleitorais das sociedades profanas. A história demonstra-o, sem margem para dúvidas.

É precisamente no panorama discursivo da história da Igreja que se desenham os diversos perfis dos ‘papábiles’ e dos meandros para lá chegar. Nos primeiros 300 anos, a Igreja cristã viveu intensamente a mística do seu Fundador e, por isso, foi de sangue sofrido o percurso dos mártires sob o jugo dos Imperadores de Roma. Os seus líderes, bispos ou papas, surgiam da própria comunidade que os propunha e escolhia. Todos os papas foram perseguidos, deportados ou assassinados, segundo refere o cardeal Joseph Hergenrother, primeiro director do Arquivo do Vaticano, na sua obra Album dos Papas, escrita em 1885. 

Após o ano de 313, com a ardilosa paz que o Imperador ‘deu’ aos cristãos, a Igreja paulatinamente foi-se tornando de subjugada a dominadora, de perseguida a perseguidora. Foi-lhe oferecido o trono em vez da cruz, o reino do mundo em lugar do reino de Deus. O Papa passou a rivalizar com o Imperador e impunha-se aos próprios Reis. Já o referenciei num dos meus últimos blog’s.

Neste cenário, logo se conclui que o Papado tornou-se um sonho apetecido pela nobreza e, a partir daí, eram candidatos os familiares dos condes, dos duques, os potentados, sobretudo, da Itália. Condição sine qua non   para que o candidato, ainda que eleito em consistório eclesiástico, ascendesse oficialmente ao trono pontifício consistia na concordância do soberano ou imperador, requisito essencial - o chamado agreement régio. (Nada de estranho para nós, portugueses, visto que durante o regime salazarista, só seria bispo quem obtivesse o parecer favorável do governo). Escandalosas, sangrentas foram as rixas e as intrigas entre as candidaturas com as quais as diversas facções da nobreza pretendiam, em certas épocas, fazer eleger o seu favorito. Casos houve em que pontificavam na Igreja três Papas em simultâneo.

Breve resenha histórica:

Só a partir do século X, mais precisamente em 1139, o Colégio Eleitoral ficou reservado aos titulares do cardinalato. O eleito deveria reunir uma maioria de dois terços dos votos dos eleitores. Acresce a circunstância de que, à semelhança dos cardeais (que não careciam de receber ordens sacras), também para ser eleito Papa bastava ser cristão-homem. Só as mulheres e os hereges eram considerados inelegíveis. Daí que  as sessões prolongavam-se desmesuradamente. Para eleger o Papa Gregório X, em 1268,  os cardeais levaram dois anos e nove meses, o que motivou um decreto do novo Pontífice (Ubi Periculum) a exigir que futuramente os conclaves durariam só três dias, findos os quais, seria cortada uma determinada  ração  alimentar aos cardeais; após cinco dias, nova redução da ementa, chegando mesmo ao corte total se ultrapassassem os limites. Foi a decisão tão acertada e eficaz que, após a morte de Gregório X, o conclave durou um só dia. Ridicule mais charmant!  

No escrutínio formal têm um papel nuclear os três escrutinadores e os três infirmarii, encarregados de aceitar e confirmar os votos dos cardeais doentes que não possam exercer o voto presencial. É devotamente capciosa a declaração de cada votante junto à urna, em latim clássico: “Testor Christum Dominum … Cristo Senhor é minha testemunha que elejo aquele que, segundo Deus, penso que deve ser o eleito”.

Enfim, digamos que a eleição do Supremo Magister ou Magistrado da Sé Apostólica e do Estado do Vaticano é, de há muito, idêntica à que realizam os Estados Unidos da América: está entregue a um sofisticado Colégio Eleitoral.  Digo “sofisticado”, visto que (ao contrário dos EUA), os eleitores cardeais não são eleitos pelo povo cristão, mas nomeados antecipadamente, o que faz correr o sério risco da falta de transparência ou de equivalência fidedigna ao ‘voto’ de toda a Cristandade. Caso a ponderar!

No entanto, permanece de pé, o veredicto da primitiva Cristandade, dos primeiros séculos da Igreja, conforme cita o grande teólogo e historiador Yves Congar: “O povo tem o direito de rejeitar o bispo que não escolheu”.

  Grandes e sérias questões, postas à Igreja do século XXI. Ouso acrescentar: Grandes e sérios problemas que o Papa Francisco quereria esclarecer e decidir!

 

17.Mar.21

Martins Júnior

   

 

 

 

segunda-feira, 15 de março de 2021

MACHICO: BANDEIRANTES COMBATENTES DO COVID

                                                                   


Às competentes, simpáticas e dedicadas profissionais de saúde – por serem tais e serem de Machico – a minha homenagem e os meus pessoais agradecimentos pela forma exemplar como administraram a vacina Pfizer aos seniores desta segunda-feira.

 

 

Diante de mim a arma, o feitiço, a linfa cuspideira

Olham dentro de mim a invisível morte anunciada

Segura-as a mão frágil

De Diana Caçadora, maga, pitonisa-curandeira

 

Oh sempre nascente e sempre intermitente duelo

Entre o ser e o não sê-lo

Entre a barriga de mulher

E o seio de terra qualquer

De onde todos despidos saíram sairão

E onde todos despidos caíram cairão

 

Na alcova mínima cor de alvaiade

Senta-se o homem das cavernas

 Éden terreal, Babilónia cidade

Tronos de reis, escravos das cisternas

Tiaras papais e perdidas almas infernas

A todos os conheço e convido

‘Sentai-vos à mesa comigo

Está chegando Dom Convide

Matai-o antes que ele vos mate’

 

Octogenários sortudos, sisudos e  mudos

Vêm pelo braço jovem de suas candidatas

Lá chegarão delas também lugar e vez

Na mesma alcova, as mesmas luvas brancas, as mesmas batas

Batendo o monstro-outro, com a mesma altivez

 

 Marulhos da morte, alleluias da vida

Como as ondas do mar à nossa frente

Suaves mãos, alvura de Páscoa repetida

Ficai erguidas sempre sem medida

De arma ou feitiço jorrando a milagreira

Canção da Fénix que ilumina a Ilha inteira

 

         15.Mar.21

         Martins Júnior

 

sábado, 13 de março de 2021

ASCENSÃO E QUEDA – RECAÍDA E RESSUNÇÃO

                                                                


Se, Depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,

Não há nada mais simples.

Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.

Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.

 

         Assim decretou Fernando Pessoa, nos seus POEMAS INCONJUNTOS, (1913-1915). É o imenso e único ritmo binário da grande partitura da vida. Quisera eu penetrar no último verso e aproximar-me do génio criador do poeta para decifrar aquele enigma: Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.

         É aí, precisamente aí, que se transcreve a enorme sonata, talvez a bela ópera,  dos dias que são meus, dos dias que são nossos. E é dentro desse amplo compasso binário que desliza o ritmo quaternário da história de tudo quanto mexe: do indivíduo, da aldeia. do burgo, da nação, numa palavra, a tessitura de todo um Povo, sejam quais o tempo, o lugar ou a circunstância que lhe coube viver. Poderia repuxar dos sucessivos impérios e civilizações, das mais próximas às mais longínquas, este filão ancestral e lá encontraria invariavelmente os quatro movimentos pendulares em que se alterna a biogénese da sua história: Ascensão e Queda – Recaída e Ressunção!

         No entanto (“como hoje é sábado e amanhã domingo”) vou inspirar-me sempre no LIVRO e daí trazer o conflito hebraico-babilónico. O Povo Hebreu, vaticinado para astro-rei das civilizações orientais – a Ascensão – conheceu o tombo – a Queda - naquela “casa de escravidão”, o Egipto, durante 40 anos, até regressar, pela mão de Moisés,  à sua pátria, a Terra da Promissão, “onde corria leite e mel”. Mais tarde, VI-V século A.C., Nabucodonosor II  esmagou o Povo Eleito de Iahveh e fê-lo escravo na Babilónia (actual Iraque) durante 70 anos – a Recaída -  até que Ciro, rei persa, após derrota de Nabucodonosor II, deu  aos hebreus cativos a liberdade de voltarem para Jerusalém  – a Ressunção – ou seja, o poder de reassumir o reino de Sião ou Judá.

         Aqui, remeto a leitura para o magistral poema do nosso épico, Luis de Camões, quando canta

                   Sôbolos rios que vão

De Babilónia me achei…

………..

…. Não parece razão

Nem seria coisa idónea

Por abrandar a paixão

Que cantasse em Babilónia

As cantigas de Sião,

Que quando a muita graveza

De saudade quebrante

Esta vital fortaleza,

Antes morra de tristeza

Que, por abrandá-la, cante.

 

         A mágoa de Luís de Camões e, mais tarde, de  Giuseppe Verdi, no emocionante ‘Coro dos Escravos’ da ópera NABUCCO, (1842) condensam o dramatismo do ritmo quaternário dos dias que são meus, que são nossos, que são de todos os povos.

         Em tempo de pandemia, estigma-nos a Queda de uma precedente Ascensão evolutiva, a Recaída de Confinamento em Confinamento, (famílias, antes florescentes, auto-suficientes – e agora, de mão estendida) até que surja a Ressunção, aquela hora ou aquele mês ou aquele ano em que possamos reassumir, de corpo inteiro, a prestimosa epifania da Esperança e da Alegria. Dos passos da “Via Crucis” até à alvorada da Páscoa plena.

 

         13.Mar.21

         Martins Júnior

            

quinta-feira, 11 de março de 2021

OURO BRANCO, OURO PRETO, OURO PORTUGUÊS NA EUROPA

                                                                          


Longe vão os tempos em que visitei uma cidade brasileira, com sabor e cor a solo português, desde a planta dos pés que pisam as ruas antigas, sinuosas, calcetadas a pedra viva (como em Alfama, Coimbra-a-Velha  e os centros históricos das nossas cidades) até às varandas que trepam as casas de traçado tipicamente luso. Mas o que vivamente me impressionou foi a monumental presença do escultor António Francisco Lisboa, “O Aleijadinho”, filho do entalhador português Manuel Francisco Lisboa, com as magníficas estátuas em pau-sabão, obra-prima da arte brasileira.

São José de Ouro Preto, de seu nome, em virtude da extração do precioso metal, em Minas Gerais! Já então, dei comigo a pensar na vocação multirracial do nosso país fruto da expansão marítima que “deu novos mundos ao mundo”, com o já discutido contraste de luz e sombras que daí deriva.

Que sensação de intemporalidade cívica, de beleza polícroma, de multiculturalismo étnico senti eu, ao ver que Portugal voltou a brilhar com a auriflama atlética no firmamento europeu!!! Ouro do mais fino quilate num tríptico nunca visto, onde a tez negra e olhos estelares assentam plenamente na moldura da bandeira de Portugal! Seja qual a identidade biológica da sua génese – Cuba, Angola, Camarões – o que releva neste pódio é o prestígio de Portugal, sob cuja égide ganharam tão almejado galardão.

Este feito, autenticado pela chancela desta exígua faixa de terra à beira-mar plantada, tem no seu âmago a mesma histórica mensagem de “dar novos mundos ao mundo”. Numa época, incompreensivelmente no século XXI, em que pululam estranhas viroses, algumas até despudoradas, de desigualdades raciais que desembocam em escandalosos atentados  criminais, a tríplice coroa de ouro português vem afirmar solenemente a dignidade de cada povo, senão mesmo a superioridade de certos segmentos sociais, estupidamente ostracizados pelos empolados  detentores de peles pintadas de neve, por vezes, anémica. Ao valoroso trio atlético, junto (por todos) o famoso “Pantera Negra” e, a nível musical, o melodioso “Duo Ouro Negro” que, na década de 80 e por sugestão minha, veio abrilhantar o Dia do Concelho de Machico.

Desde Moçambique trago comigo o respeito e a simpatia pela etnia africana, desde o mais infantil nativo até ao laureado ‘Prémio Camões’, José Craveirinha, e ao talentoso pintor Malangatana Valente, em cuja modesta habitação me sublimei com a imponência das fabulosas pinturas que enchiam as paredes.

 Felicitações aos vencedores de agora, futuros olímpicos. Para ilustrar este meu tributo à sua vitória, faltar-me-ia gravar no ouro das sua medalhas o Poema “Lágrima” de António Gedeão, expressão poético-científica da Igualdade Universal que caracteriza todo o Ser Humano.

 

11.Mar.21

Martins Júnior