quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

VIAGEM INICIÁTICA

 


Neo-zelandês recém-nascido, parti errante à demanda do Dia Novo, saído dos escombros do ano velho.

Percorri mares e céus, abismos e planuras.

E em cada passo, vi que o Dia Novo nascia no cimo de cada montanha, de um extremo a outro do planeta. Até tornar-me samoano-ilhéu, no berço do mesmo  Novo Dia.

Aprendi nesta iniciática circum-navegação matinal o astrolábio universal que comanda a vida:

Afinal, Ano Novo é cada hora, cada instante, cada olhar e cada passo em frente.

Ano Novo é sempre que alguém o queira!

 

31Dez20-01Jan21

Martins Júnior  

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

NATAL DO NOSSO CONFINAMENTO = NATAL DO FUTURO CONTENTAMENO

                                                               


FELIZES OS CONFINADOS DE HOJE

DESCONFINADOS SERÃO NO DIA DE AMANHÃ

***

O FOGO QUE CORTA O CÉU

ESTALA E ESCARNECE DE QUEM SUPORTA A TERRA

                   ***

SEGURA O NATAL 2020

Se QUERES  GANHAR O NATAL 2021

 

29.Dez.20

Martins Júnior

 

domingo, 27 de dezembro de 2020

A RAIZ DE UM FUTURO PAÍS

                                                                        


No Dia da Família, é essencial e urgente proclamar:

Mais que monumento, via rápida, escola e universidade,

                               essencial  é a Família

Mais que tecnologia, banca ou progresso,

                               urgente é a Família

                                   ***

Um país só se redime e renasce  

                                    no ventre da Família                   

   ***

Na Família de hoje -  o amanhã do País

 

 

27.Dez.20

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

NASCIDO CONFINADO PARA A TODOS DESCONFINAR!

                                                                      


Todo o dia os sinos repicaram em festa sem fronteiras. “Nasceu-vos um Menino” – transmitiram os anjos aos pastores a Grande Nova.

E daí em diante, cada ano foi uma segunda, terceira, centésima, milésima, enésima reedições do mesmo mágico acontecimento. Pelos formatos – tão diversos, na roupagem e no estilo – como têm sido evocados os contextos da dita narrativa, tenho para mim que ainda está por contar a verdadeira história do Nascimento.

       Em Dezembro de 2020,  outra definição não acho  para o Natal de Jesus senão aquela que nos é inspirada pelas circunstâncias imperativas em que está encadeado todo o  planeta:

ELE, O NAZARENO, NASCIDO CONFINADO PARA DESCONFINAR TODO O MUNDO!

       Tanto basta para trazer de novo ao século XXI o autêntico presépio do século I.

 

         25.Dez.20

         Martins Júnior

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

A CEREJA ADIADA EM CIMA DO BOLO DE MEL: DESCONFINAR!

                                                                           


Entre o finar e o desconfinar, é longo o caminhar. Mas fizémo-lo desde as seis da manhã de todos os dias até alcançarmos o cume da montanha. Foi hoje o dia de içar bandeira – a bandeira do Desconfinamento.

         O Natal da Saudade veio primeiro  e trouxe-nos o verbo ‘finar’. Com ele vieram todos quantos, antes de nós, abriram caminho e alcatifaram o chão macio que hoje pisamos, enquanto o deles fora coalhado de espinhos e abrolhos.

         Com eles também aprendemos a ‘afinar’ os nossos passos, a nossa língua, o nosso paladar  pelo Código da Vida, perpetuando a honrosa memória dos antepassados.

         Outras vezes, fomos levados a ‘desafinar’ dos nossos maiores e, por isso mesmo ficámos menores, sempre que o fizemos. Em contrapartida, tivemos a coragem de ‘desafinar’ de uma sociedade corrupta quando nos obrigava a baixar a cerviz, como servos da gleba. Honrámos também a  memória dos antepassados quando dissemos NÃO  aos ditadores, os grandes, os médios e os pequenos!

         Ao longo do percurso, ficámos a saber o que era ‘confinar’. Quantas gerações viveram e ainda vivem irremediavelmente confinadas à miséria mais horrenda! Mas, se alguma vez confinar significou condenação e ferrete escravizador, outras vezes, ‘confinar’ foi ‘condição sine qua non para chegar mais além.

         Em dias e horas de confinamento social, descobrimos que o momento é de metamorfose e metanóia: tempo oportuno de ‘refinar’, de refundar o passado, o presente e o futuro. É neste refinamento que está o ganho. Chamem-lhe transformação, conversão, mudança, que eu prefiro classifica-lo de fenómeno bio-cultural de fotossíntese essencial à vida, Mudar de caminho, enrijecer os joelhos frouxos, endurecer a fibra visceral que nos mantém unidos e resilientes – eis o refinamento que se nos impõe para o sucesso dos nossos passos e para o êxito da sociedade a que pertencem­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­os.

         E chegámos ao topo. Desfraldamos a bandeira vitoriosa, onde se lê em caracteres gigantes: DESCONFINAR. Por ironia dos tempos, está-nos vedado o desconfinamento físico. Mas não nos podem “cortar a raiz ao pensamento”. Desconfinar  é aprender os caminhos da liberdade e da autonomia. Para lá chegar é necessário percorrer as seis estações que visitámos nas madrugadas que nos levam à Festa da Vida.

         Per angusta ad augusta – ensinavam os antigos. É através  dos desfiladeiros pesarosos que alcançamos os píncaros augustos da paisagem.

         Para início do almejado Desconfinamento (tão perto e tão longe!) aprendamos a respirar fundo. Na respiração começa a saga da Liberdade! É como nascer de novo em cada instante – é viver o Natal, o Feliz Natal.

 

         23.Dez.20

         Martins Júnior

  

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

UMA REFINARIA TOPO DE GAMA, CONFINADA NO PARTO NATALÍCIO!

                                                                     


Natal das famílias, Natal dos conceitos e, nesta hora, Natal das palavras. Porque as palavras também têm família. Neste ano da graça (e, com ela, também ano da desgraça), à mesa planetária coube-nos o fatídico cardápio onde só figura o verbo confinar para aperitivo, prato e sobremesa. Veio, pois, o “confinar” e toda a sua família: finar, afinar, desafinar, confinar, refinar e, na gestação temporal, o almejado desconfinar.

Antes que se fechem todos os ferrolhos da noite e se abram as janelas do sol nascente, já esta comunidade navega na demanda da família vocabular. Para hoje e amanhã o “confinar” e o “refinar” transportam-nos até aos patamares do sucesso pessoal e colectivo. No confinar está a vacina mais natural e eficaz, porque sem quaisquer laivos de efeitos colaterais. Evitar que alguém caia no abismo é muito mais nobre e importante que recuperá-la semi-viva  dos escombros onde se estatelou. E a varanda do miradouro é a melhor guarda e o mais gostoso convite para desfrutar da beleza inscrita no anfiteatro abissal. A varanda é o confinamento.  

  Mas é preciso ir mais além. As velhas profecias vaticinavam que “os altos montes seriam abatidos e os abismos seriam preenchidos”, para que a planura da igualdade se tornasse o caminho seguro da felicidade.  “As veredas tortuosas ficarão rectas”!... Todo este prodígio tem um sobrenome da família e chama-se: “Re-finar”.

O Príncipe dos oradores lusos explica-nos com elegância e mestria: “Arranca o estatuário uma pedra destas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão e começa a formar um homem: primeiro, membro a membro e, depois, feição por feição, até à mais miúda. Ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos. Aqui desprega, ali arruga, acolá recama. E fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar”.

Da pedra tosca, bruta, informe…fez-se um homem perfeito!

O mesmo que dizer: lapidou-se um diamante enterrado no húmus primitivo! Refinar o pensamento, a palavra, purificar a sociedade: não há maior troféu a ganhar em cada combate da história humana. “Ânsias de subir, cobiças de transpor” – já nos chamara Goethe, no seu “Fausto” a esta ascese evolutiva.

E já que estamos na esteira da Estrela de Belém, não resisto a citar o ideal perfeccionista do Nazareno “Sede perfeitos como o vosso Pai é perfeito”! (Mt. 5,48).

Acordaremos na próxima madrugada com o refinamento dos raios solares batendo à nossa porta, anunciando um parto novo neste “Natal do nosso Confinamento”!

 

21.Dez.20

Martins Júnior

 

sábado, 19 de dezembro de 2020

NATAL EM CONFINAMENTO É NATAL EM CONSTRUÇÃO


        A falar é que a gente se entende . diz a sabedoria milenar do povo, mesmo que analfabeto, mas no fundo filósofo e pedagogo. Ousaria eu aproveitar o mote e glosá-lo nestes termos: A falar é que a gente se aprende.

         É precisamente esse o “GPS” do nosso Natal/2020. A partir do radical – o vocábulo “finar” -  temos encontrado outros meandros do mesma família, os quais ficaram subalternizados perante o grande rio que desagua em Belém.

         Mas eles existem. No último bloh, referi-me à palavra-mãe – “Finar” – para  trazer à nossa mesa o Natal da Saudade. Hoje, está em causa o vocábulo “afinar”, para sentirmos o prazer de sintonizar-nos (corpo, alma e coração) com a partitura da felicidade, consignada na “Caneão da Alegria”, felizmente adoptada para Hino das Europ”a.

Afinar” exige, antes de tudo, texto musical e maestro.  Encontramo-los, não apenas no Livro, mas também nas pisadas de outros tantos mestres, a família, a escola e o ambiente.

“Afinar”  é a chave de outro  de quem ousa sonhar e contar.

Amanhã, sem fazer esforço algum, fisicamente, visitaremos o seu antónimo – “Desafinar” - e aí ganharemos mais luz para os nossos passos.

Em todos os derivados ou associados morfo-sintaticos, será o mesmo, o nosso lema: “O Natal do Nosso Confinamento”.  

Porque, nesta comunidade e na elaboração do chamado presépio, o “Natal em Confinamento” é sempre O “Natal em Construção”

 

19.Dez.20

Martins Júnior


 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

O BAILE DE RODA DAS MISSAS DO PARTO COM A FAMILIA “FINAR”

                                                                      


Não há que fugir à onda. Quando se fizer a história do Natal/2020, mais do que do Menino há-de falar-se  de um outro e estranho ‘infante’ chamado Covid. E ao falar do Convid, lá estrarão ‘ontologicamente’- traduzam como condenadas à nascença – as suas dilectas associadas, as máscaras, as distâncias, os confinamentos e todos os seus derivados.

Já aqui o disse e reconfirmo, que a palavra de ordem  (convite ou estouro) que me põe em sentido neste Natal/2020 tem uma única direcção: “Preparar o Natal de 2021! E se queres ganhar o Natal/2021 trata bem o Natal/2020. De contrário, perderás os dois”!

Por isso, vou agarrar-me à trave-mestra do ano –CONFINAR – abraçá-la a ela e aos seus ‘filhotes’ e, em redondel, cantar as Missas do Parto. Numa ‘investigação’ rápida, encontrei seis deles. Ei-los:

Finar

Afinar

Desafinar

Confinar

Refinar

Desconfinar

 

            Serão estes os companheiros de viagem que levar-me-ão, como o cometa que guiou os Magos do Oriente, até à casa do Menino, em Nazaré da Galileia. Se alguém quiser trazer a lanterna do velho e sábio Diógenes, seremos mais um nesta jornada, sempre antiga e sempre nova. Amanhã, será mais uma madrugada de expectativa, em que o “Finar” estará connosco, como a vela acesa da saudade implantada  em cada coração, na Missa do Parto desta comunidade.

        

18.Dez.20

         Martins Júnior

 

           

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

NATAL DO NOSSO CONFINAMENTO E A PALAVRA DE ORDEM : PREPARAR O NATAL DE 2021 !

                                                          


Porque não é tempo de ler,

porque o tempo é de ver e correr

junto-me à voz de João, “O Baptista”, e de todos aqueles que bradam no deserto: “Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas”.

E, aqui e agora, só acho uma única tradução em vernáculo puro e duro: “Preparai – Preparemos – o Natal de 2021”!

Quem quiser entender que entenda.

Podem embebedar-se no mar de luzinhas tantas.

podem arrancar pinheiros mil até depenar os montes,

podem esvaziar até caírem de magras as prateleiras dos híper,

podem esgotar os partos e as missas deles até cansar as mãos dos obstetras sacros,

 

e podem subir a Marte e a Júpiter nas lágrimas do fogo louco, escarnecedor da nossa condição mortal,

Que eu apenas oiço e fico-me na  palavra de ordem que enche o deserto deste planeta:

“Queres chegar ao Natal de 2021?

Então, prepara-te já neste Natal de 2020.

Se o não tratares bem, nunca chegarás ao Natal de 2021”!

Será assim o Natal do meu – do Nosso - Confinamento.

 

15.Dez.20

Martins Júnior

domingo, 13 de dezembro de 2020

LÍDER – PRECISA-SE !

                                                                     


Em tempo de crise, seja ela qual for, o que mais falta faz é a emergência de alguém que dê o peito às balas, que dispa todo o verniz e toda a pompa, que se atire à fera invasora e abra caminho às soluções libertadoras. Em suma, um Líder.

Ora, na hora em que vivemos, em tudo semelhante à de outras eras distantes, é-nos proposto um exemplar de liderança, protótipo de quem tenha a coragem de acender um facho luminoso, em vez de limitar-se a amaldiçoar as trevas. Precisamente neste fim-de-semana, o Livro (ao qual presto o meu culto hebdomadário) traz-nos a estatura desse a quem chamam “O Precursor”, João, de seu nome, apelidado de O “Baptista”,

É um outro João, o mais jovem militante de entre os Doze, é ele que toma a iniciativa de narrador para nos informar e caracterizar o perfil do líder e pioneiro daquele Mundo Novo que o Nazareno tentaria, mais tarde, implantar lá para os lados do Oriente. Amas, a um Natal segue-se outro Natal, a muitos presépios sucedem-se miríades de estrelinhas coloridas de mil presépios, a uma ‘festa’ alinham-se, perdem-se e outra vez reacendem-se outras ‘festas’. No entanto, quem se lembra da figura imponente, estóica e inquebrável  do primeiro a desbravar a massa bruta, informe, da ignorância reinante e a depressão pandémica do judaísmo palestiniano?... Subalternizada, minimizada e esquecida ou manipulada tem sido sempre a grandeza do “Baptista”.

No elenco dos seus predicados, sobressai o nobre estandarte da Justiça, brilha em contraste meridiano a Humildade e, na ponta da sua lança, agiganta-se o esplendor da Verdade. No seu programa constitucional e no seu plano de acção concreta, basta o tríptico fundamental de toda a sua vida: Justiça, Humildade, Verdade. Foi com estas armas que afrontou  o poder dos soberanos intocáveis de uma sociedade corrupta, que os alimentava, apresentando Aquele que, sendo o maior, vivia no meio do povo, sem que o próprio povo O conhecesse”. (Jo,11-28). E foi, pelos mesmos ideais, que deu a vida  nos patíbulos de Herodes. É a sina escrita no fundo dos abismos e que Reinaldo Ferreira sintetizou nestes termos: “O Herói serve-se morto”.

Figura cimeira da liderança entre os povos, João, “O Baptista”  abre o álbum exemplar e o caminho exacto para todos aqueles que, desde o bairro até ao trono presidencial, propuseram-se (ou foram obrigados) a tomar decisões em prol dos povos, seus constituintes. Nas circunstâncias actuais, quão embaraçoso e, até, suicidário significa o exercício de liderar! Impossível “agradar a gregos e troianos”. Quantos dos  governantes, actualmente (!) esperariam um passeio alegre e agora confrontam-se com um tsunami de convulsões sociais!... Quantos não desejariam voltar atrás?!... Talvez nunca imaginaram que no frontispício do  majestoso palácio por onde garbosamente entraram estava gravada a sentença que o épico italiano, Dante Alighieri, inscreveu nos portões do inferno da “Divina Comédia” :  Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate - “Deixai fora toda a esperança, ó vós que entrais,”  deixai todo o orgulho, toda a arrogância!

No fragor e na inconsistência da hora que passa, merecem os líderes a nossa atenção e o nosso apoio, desde que sigam os referenciais que João, “O Baptista”, deixou aos vindouros responsáveis da grei:

1)    Que atirem fora (direi, que vomitem, de vez) a fumaça balofa da vaidade e do ‘eu cá não tenho medo de nada’ e com  Humildade punham os pés no chão frio onde vive o povo.

2)    Que sejam honestos e clarividentes na identificação dos problemas, .na pesquisa de soluções, e que a Verdade seja o foco mais visível na informação e na acção.

3)    Que tenham  sensibilidade  e consciência distributiva na concessão dos apoios disponíveis, que não deixem para trás os mais fracos, os paralíticos sociais e que pela Justiça promovam a fraternidade entre os seus concidadãos.

     

Faz bem – até na pandemia – revisitar o “Precursor” durante este Natal!

 

13.Dez.20

Martins Júnior

 

 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

NOS 74 ANOS DA UNICEF: A GLÓRIA E O DRAMA DE SER CRIANÇA

                                                                       


“… Mas as crianças, Senhor,

Por que lhes dais tanta dor,

Por que padecem assim?...”

                                                                       Augusto Gil

 

“Diante de uma criança, sinto-me cheio de ternura por aquilo que ela é

E cheio de respeito por aquilo que ela poderá vir a ser”.

                                                                     Louis Pasteur                                                                     

 

“Não há nada mais terrível que o olhar de uma criança”.

                                                                   Antero de Quental

 

“O Homem nasce bom.

A sociedade é que o corrompe”.

                                                                Jean Jacques Rousseau

 

“Bem-aventurado aquele que pegar nas crianças deles e as esfacelar contra a rocha”

                                                               Santo Rei David, Salmo 136

 

“Maldito o dia em que minha mãe me deu à luz.  E maldito o homem que levou a notícia a meu pai e o encheu de felicidade, dizendo: Nasceu-te um menino!”.

                                                                                 Profeta Jeremias, 15, 14-18

    

                                                         


Foi em 11 de Dezembro de 1946 que nasceu a UNICEF.

No chão agridoce das 74 velas, estendo seis pensamentos produzidos ao longo dos séculos. Agridoces são também as palavras. E contraditórias. Tais como as sociedades e os comportamentos que estas têm mantido com as crianças. Até nos nossos dias.

Os relatos que nos chegam de perto e de longe, os atentados contra as crianças fazem-me ter vergonha de habitar este planeta. E se alguém  me viesse propor para voltar a ser criança, hoje, seria imediata a minha resposta: “Não, obrigado”.

Longa vida à UNICEF! Será, sem sombra de dúvida, o maior monumento de toda a história: construir a Criança, na sua dimensão global.

          A quinze dias do “Grande Dia”, oxalá a Criança da Gruta seja aquela que a UNICEF ostenta nas mãos da Humanidade!

 

         11.Dez.20

         Martins Júnior                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

QUANTOS ROSTOS TEM O NATAL?

                                                                  


Que rosto tem o Natal?

E que corpo tem a Alegria?

Estavam em franca euforia de um jardim de infância regressado, de há 70, 80 e mais anos. Os baloiços eram as mesas, suficientemente distantes umas das outras, com muitos lápis coloridos sobre folhas de papel onde aquelas mãos de dedos finos do trabalho árduo e grossos de rugas da idade desenhavam silhuetas de árvores, pássaros, telhados e jardins. Após o lanche, os tampos das mesmas  mesas  zuniam com o arremesso decidido das cartas vencedoras, à bisca ou ao cassino.

Os passos de dança, de pés arrastados para os estranhos, mas leves e saltitantes para eles e elas em plena sala, faziam retomar os ritmos esquecidos da recuada juventude. O dia era uma festa, já era a “Festa” anunciada. Para a vintena de anciãos ali felizes com o ambiente que a solidão do lar não lhes oferecia, perder um dia no Centro de Convívio era o mesmo que encurtar um ano na vida.

Por isso, quando a directora entrou e falou, uma nuvem pesada abateu-se na sala e esmagou toda a alegria reinante. Transformou-se em choro e lágrimas o que, momentos antes, era  descontração e saúde. Que terá dito a jovem directora?

“Queridos utentes deste Centro, muito nos custa dizer-vos, mas dou-vos a saber que vamos encerrar as nossas actividades daqui até ao fim do ano. Primeiro, porque estamos já perto do Natal, que é a Festa da Família. E depois, para evitar qualquer hipótese de risco ou contágio do covid. Nenhum de nós o tem, é verdade,  mas é melhor prevenir que remediar. E é isso que as nossas autoridades recomendam”.

Razão tinham para tamanha tristeza:

“Mais se quer ficar aqui. A minha família está toda pra fora. Não tenho ninguém em casa. Aqui é que é o meu Natal, todos os dias”.

Quem ouviu os lamentos, fora da sala, sentiu apertar-se-lhe o coração. A porta-voz e a própria psicóloga não se aguentaram de comoção e prometeram visitar os seus “pupilos”  durante a quadra natalícia. E lá se encaminharam, metidos em seus abafos, cada qual para casa, meneando a cabeça para a sala, como quem olha, já saudoso, para a pátria que deixou para trás.

A solidão, ai o amargo espinho da solidão!

As próprias paredes da casa, por mais abastada e farta, não saciam a fome de alegria de quem se vê só!... E não há lareira que aqueça o frio cortante da saudade.

Perdoem-me os meus amigos, companheiros nas jornadas bloguistas, mas achei reconfortante e útil partilhar convosco a comoção que me tomou por inteiro quando me contaram o ocorrido. E o quanto é necessário e consolador estar com aqueles que não têm ninguém com quem estar. Neste e noutros Natais. E com eles aprender que o “Natal é quando o Homem quiser”.

Procuro todos os dias a resposta à pergunta que me persegue: “Quantos rostos tem o Natal e que corpo tem a Alegria”?... Encontro-a escrita em cada pedra do caminho, em cada escarpa da falésia, em cada ausência carente. Acho-a também, por mais estranho que pareça, misticamente plasmada naquele cânon de Maomé: “Levar alegria nem que seja a um só coração vale mais que construir mil altares”. E eu direi: Que  presépios mil!

 

09.Dez.20

Martins Júnior


 

 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

VACINADA CONTRA TODOS OS VÍRUS!

                                                                              


Correndo o risco de perder, apostaria em que a esmagadora proporção dos cérebros viventes passa ao largo daquela estância ferial, designada por 8 de Dezembro. Dia de folga, associado  a efemérides voláteis consoante os lugares, os acontecimentos aí ocorridos, personagens particulares ou colectividades múltiplas, o que fica por saber e esclarecer são as raízes que lhe deram corpo.

Desde 1646, ano em que D.João IV depôs a coroa real e colocou-a na imagem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, em templo mandado construir pelo Condestável do Reino, Nuno Álvares Pereira após a vitória de Aljubarrota no século XIV, desde então o vitorioso monarca da Restauração proclamou-a Rainha de Portugal: é a reminiscência tetrassecular que sustenta o 8 de Dezembro, a qual foi repercutida noutras regiões e concelhos, entre os quais a cidade de Machico, de que é Padroeira.

Foi enorme a cruzada expansionista do culto à Imaculada. Penetrou com a mesma simpatia tanto na ruralidade das ermidas como nos palácios da nobreza, inclusive na cátedra dos intelectuais, chegando até à Universidade de Coimbra, onde os estudantes, ao ascenderem aos superiores graus académicos, incluíam “o juramento solene na Conceição Imaculada da Mãe de Deus”, uma práxis abolida após a proclamação do dogma, em 1854, pelo Papa Pio IX.  

 Mas em que consiste, afinal, o dogma da Imaculada Conceição?

E que ilações para os tempos que correm?

 Invertendo os termos da nomenclatura oficial – Nossa Senhora da Conceição – encontraremos a resposta: Conceição (ou concepção imaculada) de Nossa Senhora, querendo com este título significar que Maria de Nazaré, a futura Mãe do Nazareno, foi prendada, desde a nascença, por um privilégio especialíssimo,  jamais outorgado a nenhum outro mortal: o de nascer sem a ‘mácula’ (ou pecado original), o que, por sua vez, a tornou geneticamente livre de qualquer má tendência e demais deficiências hereditárias a que todos os seres humanos estão condenados “pelo pecado de Adão”. Trata-se de uma interpretação – esta do pecado original – congeminada por Agostinho de Hipona, no século IV, apoiada em premissas puramente indiciárias, cujo desenvolvimento e exegese não cabem neste breve apontamento.

O que importa decifrar é o alcance semântico da designação “Imaculada Conceição” (Concepção) desse pequeno-Grande Ser”, desde o primeiro instante em que Ana e Joaquim consumaram o acto de gerar e trazer  ao mundo Aquela a quem puseram o nome de Miriam ou Maria. Nos nossos dias, em que tanto se investiga e deseja a milagrosa vacina, poderemos compreender o tal privilégio: Maria nasceu já vacinada, desde a concepção no seio de Ana, contra toda a espécie de imperfeição, deficiência ou pecado. No limite, diremos que Maria foi predestinada para a perfeição absoluta, de tal forma, que mesmo que quisesse errar ou pecar, nunca poderia fazê-lo, por estar predeterminada para a suma perfeição.

Embora os monarcas portugueses tivessem usado a Senhora para fins bélicos e patrioteiros – uma tara incurável de todo o poder político – a realidade é outra, a concepção sem-mácula da jovem de Nazaré. Motivo de festa, coros angélicos, repiques argênteos de sinos nas catedrais, apoteose total. Mas, na base e no vértice, não são para Ela os clangorosos panegíricos, porque tratou-se de um privilégio puramente gratuito da parte do Supremo Ordenador do Universo. O antídoto anti-mal foi obra e graça de Outrem e não d’Ela.

Por isso, neste dia, em contraste e contra-luz, presto homenagem a todos quantos – homens e mulheres, novos e velhos – fazem da vida uma luta porfiada e sempre inacabada para corrigir erros, emendar caminhos, escalar montanhas e abismos até alcançar a perfeição possível a um ser humano. Admiro e ajoelho-me diante de quem nasceu nas trevas e carregado de traumas genéticos, mas depois consegue revestir-se de luz, de generosidade, de altruísmo heróico. Aplaudo os atletas paralímpicos e os vencedores anónimos que ultrapassaram as muralhas da sua deficiência e subiram ao vitorioso pódio da Vida. Saúdo Demóstenes, tartamudo de nascença, que macerando a língua com os calhaus da praia, tornou-se o Príncipe dos oradores atenienses. Saúde Madalena, a pecadora (todas as Madalenas) que venceu as pecaminosas esquinas da cidade de Jerusalém e tornou-se a apaixonada bandeirante das causas do Nazareno.

E, mais que pela concepção imaculada, saúdo Maria pela coragem em assumir a maternidade de um Homem contra o qual (e contra Ela) se atiraram como feras os poderosos deste mundo. Admiro-a pela sensibilidade de mulher atenta, aquando das bodas de Caná da Galileia. Adoro-a, pela fortaleza, “mais do que permitia a força humana”, acompanhando o Filho até à última gota de sangue, Ela, a inamovível Estátua da Dor no alto do Calvário!

Se grande é o Seu privilégio por nascer gratuitamente virada para o Sol Eterno, maior é o galardão dos que, nascidos nos antros da escuridão, guindaram-se ‘a passos de gigante e a golpes de montante’ até ao relativo Graal da Felicidade, a sua e a dos outros.

 

07.Dez.20

Martins Júnior

     

                       

sábado, 5 de dezembro de 2020

JARDIM SUSPENSO OU CEMITÉRIO DE ILUSÕES?... QUEM OS SEGURA?

                                                                 


Vê-la por entre a névoa nocturna e engrinaldada de todas as lâmpadas e de todas as cores baloiçando as ondas, a Ilha transporta-nos aos míticos jardins suspensos da Babilonia, magia da natureza e regalo dos deuses.   Mas, no mesmo olhar, logo que nela se põe o pé, sobem-nos as dúvidas, os medos, outras vagas agarram-se-nos  aos nervos e às mentes, ao coração e ao ouvido quando escutamos notícias, comunicados oficiais, lamentos de empresários e trabalhadores. A chave-de-ouro dos 365 dias do ano – o Natal -  cai ao chão e, em vez de abrir, fecha-nos o portão da felicidade. Tudo, por dentro, contrasta com tudo o que por fora salta aos nossos olhos de adultos regressados à infância. Tudo se nos oferece como desalentada ironia ao nosso sofrimento. E só depois de queimadas as ilusões do despropositado vendaval de fogo arraialesco é que ficará desenhado nas cinzas do chão o cemitério de tantas expectativas goradas.

         Seria oportuno investigar como é que os nossos antepassados reagiram às suas epi/pandemias. Recuperando velhas superstições pagãs, os crentes recorriam à fé, às rogações processionais, aos santos protectores. No Funchal, a São Tiago Menor; em Machico, ao Senhor São Roque, invocado em solene cortejo público para livrar da peste o município e, com base na tradição cultual, nomeado em 1728 Padroeiro de Machico, por votação da Câmara Municipal, conforme consta dos Anais do Município.

         Em tempos bíblicos, conta-nos o Livro, precisamente neste fim-de-semana, que foi Isaías Profeta quem segurou o povo de Israel dizimado após sucessivas derrotas em confronto com os invasores fronteiriços: “Levanta-te e segura o Meu Povo. Sobe à montanha mais alta, ó arauto de Jerusalém, e grita: Acabou a tua escravidão”! (Cap.40, 1 sgs).“. Mais tarde, já chegada a hora de aguardar o Líder Salvador do Reino Judaico, surgiu o Precursor João, homem austero, exigente consigo e com os outros, protótipo de Pedagogo e Condutor de multidões. O caminho, o código de conduta que impunha ao povo, era ele quem primeiro impunha a si próprio, como ler-se em Marcos, capítulo I.

         Hoje, as mentalidades já esclarecidas não procuram no hagiológio eclesiástico soluções sólidas para os grandes problemas que afligem a humanidade. Caminhamos nas sombras, tateando as veredas e sem certezas sobre o fim do túnel. Onde estão os líderes, os luzeiros, os salvadores da grei?

         Impressionou-me ouvir a Ministra da Saúde: “Não há noites mais duras, não há noites mais escuras que as do governo em busca de alternativas”!... Imagino a luta titânica, as contraditórias hipóteses que se entrecruzam, dias e noites a fio, sobre a mesa e sobre a vida, esperando como prémio as pedras do caminho nas mãos dos que não decidem e só contrariam. Meto-me na armadura branca de todos aqueles e aquelas, valorosos soldados da saúde e da paz, tentando esgrimir, derrotar e destronar o invisível ‘corona’ da morte.

         E, ao lado e acima de todos, curvo-me diante de cada homem e de cada mulher, seja qual a sua idade, o seu múnus ou o seu lugar, que se conduzem responsavelmente por entre os meandros deste jardim suspenso, promovendo com o seu esforço de confinamento, solidão e acção esta luta concentracionária e auto-contorcionária, para evitar que a Ilha se transforme num cemitério de ilusões, no crematório das nossas legítimas expectativas.

         Viver o Tempo – este o nosso tempo – aquele que nos coube viver.

         Vivamos hoje para Renascer amanhã: é isto o verdadeiro Natal!

 

05.Dez.20

         Martins Júnior