sexta-feira, 29 de abril de 2022

DE ESTALINE A GORBACHEV E DE GORBACHEV A PUTIN



         Impossível ficar indiferente a este périplo do Secretário Geral da ONU entre Moscovo e Kiev, com a Turquia de permeio – uma ‘Via Dolorosa’ em tempo oportuno, como que o recurso derradeiro para a Paz, frustradas que foram as macias cruzadas de outros presidentes aos pés do Grande Czar. No resultado final, ficaram patentes a todo o mundo a vileza e a grosseria de um garoto da esquina que, não obstante as promessas do ‘corredor humanitário’ para Mariupol, atira as pedras-bombas junto da casa onde o próprio António Guterres se reunia com o Presidente Zelensky.

O Caso Ucrânia tem sido a nova pandemia que põe o planeta a andar ao contrário, não só as vítimas do próprio território como também no estado psíquico de todos nós que somos infectados pelas notícias trágicas que vêm do Leste, além da barafunda política que agita partidos e câmaras no nosso país.

  Partilho convosco esta trajectória dialética da história, o contrassenso e a irracionalidade do Homo Demens - o Homem Demente – que, de passo a passo, constrói o alçapão e a forca do próprio suicídio, após tantos esforços para habitar  o seu ‘Palácio da Ventura’ e fazer deste mundo uma estância de felicidade.

Refiro-me ao percurso do povo russo, desde o imperialismo dos czares ao imperialismo soviético, tendo encontrado em Mikel Gorbachev o líder carismático que devolveu a liberdade aos países anexados pela URSS. A queda do ‘Muro da Vergonha’ em Berlim abriu caminho seguro para os 15 países que estavam reféns do regime russo. O mundo respirou de alívio e bem-estar social e político. “Guerra nunca mais” – gritava-se euforicamente, como em 1945 na queda de Hitler.

Passada ‘meia-dúzia de luas’, eis que aparece o fantasma assimilado aos velhos ursos da Sibéria e apregoa aos quatro ventos que a implosão da URSS “foi a maior catástrofe do século XX”. Era o retorno aos imperialismos primitivos, o toque a rebate para pegar em armas e voltar à barbárie. E é aí que estamos. Foram braços humanos – os da mesma espécie – que restituíram aos viventes o direito de serem livres e, mais tarde, açambarcaram esse privilégio e semearam a cizânia da ditadura e da repressão.

Como foi possível esta medonha metamorfose, nada e criada no mesmo território e pelo mesmo povo?... Perguntem ao povo e ele responderá: “Não sabíamos para onde nos levavam”.

É a dura realidade – permanecer na ignorância, no obscurantismo dominante, onde ficamos instalados, sem saber que nos sentamos em cima de um barril de pólvora, pronto a explodir. Um povo esclarecido é mais poderoso que um povo armado.

Os tanques de guerra de Putin são fabricados nas oficinas da informação publica que deturpam os factos e as motivações para que o povo russo tape os ouvidos e torne o coração sensível aos filhos que morrem em combate.

Se até agora assim é, que esperamos nós – e que espera o mundo - de um outro imperialismo, o de Elon Must, que comprou o Twiter por 41 mil milhões de euros?!... Para onde vamos nós !!!

 

29,Abr.22

Martins Júnior

 

        

quarta-feira, 27 de abril de 2022

O ESQUECIMENTO É UMA ARMA

                                                                          


“Morrer é deixar de ser visto” . À expressão do grande poeta, eu aporia estoutra, validada como sinónima; Morrer é ser (ficar) esquecido. Com o esquecimento vem todo o atrelado da falta de memória, do corte de raízes, da deturpação dos factos, do vírus da ingratidão, numa palavra, vem a traição do “alzheimer” social. O esquecimento, seja como causa, seja como efeito, quando injectado num povo, tem consequências de alcance incalculável.  Um povo sem memória – pior que o indivíduo – não sabe de onde vem nem sabe para onde vai.

         Serve este longo preâmbulo para monitorizar uma breve constatação, breve na síntese, mas intensa no conteúdo: A constatação da caminhada descendente que o povo português (onde incluo com maior incidência o povo madeirense) está a ensaiar, de degrau em degrau e sem dar por isso, nos meandros, curvas e contra-curvas do quotidiano sombrio, de modo a esquecer a génese do Portugal renascido das cinzas do fascismo. É o resvalar suave para o “alzheimar” sócio-político mais profundo. É esquecer as raízes deste tronco em flor, cortar a seiva deste tronco novo que é Abril em Portugal.

Parece que, ao aproximar-se o cinquentenário da Revolução dos Cravos, agitam-se os apagadores da história para empanar a data da nova Restauração do País, adocicando e deturpando as origens, ou – muito mais grave – relegando o Dia Limpo para o espólio das fardas velhas. Há, sem sombra de dúvida, as toupeiras do antigo regime a roer os dedos com que subimos a encosta e há as enguias invertebradas do saudosismo salazarista a serpentear por entre os seixos da nossa praia. Haverá, porventura, outra tribo que esquece por esquecer.

Vigilância é o que faz falta – já avisava Zeca Afonso. Porque tenho o direito de não ficar cego, apático, insensível ao mundo em que vivo – o direito de não ficar esquecido – permito-me destacar dois momentos em que, durante o 25 de Abril de 2022, foram servidas pílulas sonolentas, mais precisamente, estupefacientes bem empacotados para anestesiar o cidadão incauto.

Muito clara e assertivamente: o programa na RTP/M, em que o mais incontrolado inimigo do “25 de Abril” aparece a tecer loas e cantares à Revolução dos Cravos. Homens e mulheres de hoje, jovens e crianças não sabem quem proibiu a Assembleia Regional de festejar o “25 de Abril”. Precisamente, o desfigurado que agora canta Abril, cujo intento bélico sempre foi abater os fautores da libertação do povo.

O outro momento foi delicioso: o matutino funchalense, decano da Imprensa, aproveita a mesma data para viajar até ao ano de 1936, a Revolta do Leite. Especiosa inspiração leitoa: esquecer Abril ou, envergonhadamente, dar-lhe um cheirinho a cravo, deslizando-o para o roda-pé da página.

Perante a onda pré-elaborada nas oficinas do alzheimer” político-publicitário, tenho o direito de interpretar e dizer “Não”!!!

Abril, de onde nasceu a Autonomia, pertence originariamente à Constituição da República Portuguesa, pela mão dos deputados constituintes. Por mais embates, sucessos e contratempos da sua marcha, é um imperativo constitucional, social e individual, segurar a Liberdade e a Autonomia, erguer cada vez mais alto os Cravos de Abril!

Se os nossos maiores lutaram por construir Portugal de Abril, compete-nos lutar contra as armas do esquecimento que pretendem rasurar Abril!

27.Abr.22

Martins Júnior

segunda-feira, 25 de abril de 2022

EM ABRIL CRAVOS MIL…EM MACHICO RENASCIDO!

                                                                           


Em 1974, a alma do Cravo Livre venceu a ditadura dos homens. E em 2022, a alma rediviva do mesmo Cravo Aberto venceu a ditadura-natura que, durante dois anos consecutivos, nos amarrou as mãos que plantam e os braços que levantam Abril de Cravos Mil. Foi, portanto,  o dia de hoje uma dupla vitória restaurada e ampliada.

         Em Machico, os cravos refloriram no chão jovem dos corações que povoam as terras de Tristão Vaz. A teimosa chuva cantante durante toda a manhã preparou a apoteose de um tarde global colorida pelo sol, pelas diversas faixas etárias, pelas canções coreografadas em palco, enfim, pelas mensagens ditas, pelas esperanças semeadas no Largo-testemunha de Abril em quase meio-século de vitalidade contínua.

Em verso, música e dança interpretadas pelos jovens desfilaram as conquistas de Abril, desde a abolição do regime de colonia, a destruição do medo secular e a conquista do bem maior da Liberdade – uma extensa e bela partitura escrita pelo suor, denodo e chama do povo desta terra, justamente cognominada de “Terra de Abril”. Para quem viveu “na hora” a dolorosa e gloriosa transição entre regimes, a ditadura para a Democracia, foi hoje o Dia da Renascença!

Melhor vigília não poderíamos ter saboreado do que a da noite de 24 no Salão de Actividades Culturais da Junta de Freguesia de Machico, cujo programa entrelaçou duas freguesias/concelhos gémeos: Câmara de Lobos e Machico, através das Tunas de Bandolins que proporcionaram um concerto comum, partilhado vocalmente por todos os que encheram o local. 

                                


Todos aqueles que instauraram ou transplantaram Abril, esses já fizeram a sua parte. Falta agora à geração de hoje – e de amanhã – fazer a sua.

Fazer Abril é criar um estado de alma permanente inspirado nos ideais da Revolução dos Cravos.

É Abril quando nasce um filho.

É Abril quando a criança dá o primeiro passo na escola.

É Abril quando o jovem termina o curso na Faculdade ou na Escola Profissional.

É Abril quando os namorados se casam, quando o lavrador lança a semente e recolhe-a com êxito, quando o pedreiro levanta uma nova construção e ainda é Abril quando o pescador enche o barco de cardumes, como Pedro no Mar da Galileia.

Tudo é Abril, se ganharmos dentro de nós um estado de alma de Abril!

Sempre que o Homem quer, Abril responde “Presente, Aqui estou”!

                                                             


A primeira condição para fazer Abril é ser competente no ofício e respectivo desempenho. Desde a base até ao vértice da sociedade. A falência dos regimes e de todo o sistema partidário acontece quando incluem nos seus elencos governativos ou nas suas listas gente incompetente, inábil, desonesta, calculista e corrupta. E há tantos casos à nossa volta…

Abril não está na eloquência dos discursos tribunícios, embora oportunos, nem está também nos decibéis dos propagadores do som, nem muito menos nas lantejoulas furtivas dos fogos-de-artifícios. Porque o estado de alma de Abril não é extático, é dinâmico, não é formal mas existencial, orgânico, corpo vivo que cresce em espiral evolutiva.

Cada povo tem o “seu” 25 de Abril. Há muitos anos, passou na Ribeira Seca o Bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, apelidado de “Bispo Vermelho”, já falecido. No contacto com os jovens, disse textualmente que “o 25 de Abril foi o Dia de Páscoa de todos os portugueses”. E disse-o muito bem.  

Recordo aqui a “Tomada da Bastlha” em França, o histórico “14 de Julho” e associo-o à recente  vitória de Emanuel Macron. Lembro, porém, com mais emoção, o 7 de Setembro, o Dia da Independência do Brasil. Em 1972, ouvi eu da boca do corajoso arcebispo Hélder da Câmara, em Olinda e Recife, este libelo veemente contra a ditadura militar brasileira, então vigente; “Queremos o progresso do Brasil, sim, mas terá de ser levado a efeito com os brasileiros, pelos brasileiros e para os brasileiros”.

Ao Arcebispo de Olinda Recife, também alcunhado de “Arcebispo Vermelho”, peço licença para recuperar as suas palavras e lançar idêntico pregão aos portugueses, aos madeirenses e, em última instância, aos machiquenses:

Queremos um 25 de Abril, sim decididamente, mas com os machiquenses (portugueses, madeirenses), pelos machiquenses (portugueses, madeirenses) e para os machiquenses (portugueses, madeirenses)!

  Porque Abril não é obra de anjos ou extra-terrestres, nem de líderes partidários, Abril é tarefa de todos nós!

Um voto do tamanho do mundo ecoou, de 24 a 25 de Abril, com o Hino Nacional da Ucrânia, interpretado vibrantemente pela Tuna: “Venha depressa um 25 de Abril para o Povo Ucraniano”.

 

25,Abr.22

Martins Júnior

sábado, 23 de abril de 2022

BANDEIRANTES DE UM MUNDO NOVO NUM DESAFIOP GLOBAL –HOMENAGEM AO “MIUT”/2022

                                                                    


Vale um poema, um arco triunfal, uma marcha nupcial.

Poema feito de suor, de génesis e de espiritualidade!

Arco triunfal na partida e na chegada!

Marcha nupcial do amor entre a Terra e o Homem!

Partiram como argonautas da noite, desbravando os adamastores das trevas, rasgando de luz meteórica - circulante - montanhas, carreiros e valados que a noite guardava no seu ventre milenar. Subiram e desceram, descendentes de Mercúrio de asas nos pés, demandando “ânsias de subir, cobiças de transpor”. Tanto foi o ardor com que voaram quanto o amor com que pisaram as pedras do caminho!

Nos dias que correm, os Heróis da Terra, sem palavras, num silencio ofegante e amante, bradaram a todo o mundo o duelo pascal entre a vida e a morte, entre a saúde e a doença, entre o sufoco e a respiração, entre o armamento e a alegria de viver. Enquanto o planeta precocemente se desmorona e asfixia, aqui e agora numa modesta ilha do Atlântico corre-se para a Vida plena e para a Paz intrínseca, duradoura.

Na revéspera da Alvorada de Abril, estes jovens, homens e mulheres de todos os continentes, proclamaram a vitória da Liberdade de viver contra a ditadura do poder! Aqui, na Ilha, onde todos os ventos se cruzam e todos os países se encontram!  

Eles vieram entronizar no alto do Pico Ruivo  o estandarte internacionalista de povos e nações irmanadas no mesmo vértice e no mesmo abraço.

Bem hajam!

Por roteiros ocultos ao comum dos mortais, eles e elas vieram refazer o abraço dos territórios que pertenciam à velha capitania seiscentista, entre a Ponta do Tristão, no Porto Moniz, e a Baía de Tristão Vaz Teixeira, em Machico, o Pórtico das Descobertas Lusas de antanho.

Bem hajam, mil vezes Bem-vindos !!!

 

23.Abr.22

Martins Júnior

quinta-feira, 21 de abril de 2022

CLÓRIA À UCRÂNIA – GLÓRIA A PORTUGAL – GLÓRIA A MACHICO !!!

                                                                      


  Na décima sexta intervenção do Presidente Zelenski em areópagos internacionais, coube a Portugal a visita oficial da Ucrânia, via  . Facto histórico a coroar  o martírio de milhares de ucranianos na sua travessia até ao nosso país, onde continuam a  encontrar a sua segunda pátria.

         A Assembleia da República foi o epicentro desta onda gigantesca que se levanta em toda a Europa e em todo o mundo contra o inominado atentado de guerra perpetrado pela Rússia vs todos nós. É por isso que nós também estivemos no Parlamento Nacional aplaudindo de pé – as nossas palmas continuam toda a noite e todo o dia -        porque hoje e sempre “SOMOS UCRÂNIA !!!

         Protestamos veementemente contra os que alcunham Zelenski de instigador belicista quando pede armas de defesa e, hipocritamente, são os mesmos que dizem defender a paz pelo diálogo. Querem ainda mais diálogo? Já tudo foi esgotado, já os governantes estrangeiros se curvaram diante de Putin, já o visitaram com pistas de paz, já Macron desdobrou-se em contactos telefónicos, desculpabilizou-se dos erros de França em tempos idos, Turquia, Lituânia, enfim, um ‘cortejo penitencial’ junto de Putin… e os resultados foram bombas sobre bombas sem apelo nem, agravo. Diálogo de surdos, desde a nascença deste horrendo projecto bélico, em que à mesa das negociações se fala de paz e, na mesma hora, cá fora bombardeiam-se hospitais, monumentos, casas e bens. 

    Acusar os combatentes ucranianos de pegar em armas é o mesmo que dizer estar do lado do ditador russo contra os camponeses, pescadores e operários, povo barbaramente agredido há dois meses na sua própria pátria. Falar da NATO, da corrida ao armamento ou de interesses financeiros ocidentais e americanos, nesta altura, é esquecer propositadamente que todo esse desarrazoado só tem origem na injusta invasão da Ucrânia. E  a degradante cena (dos seis, que antes eram doze) é caso para esquecer… nem vai ofuscar o brilho e a eloquência do Presidente Zelenski na Assembleia da República para dar lugar a uma atitude que só envergonha os seus autores… GLÓRIA À UCRÂNIA E GLÓRIA A PORTUGAL !

         E…  GLÓRIA A MACHICO, porquè?

         Zelenski fez directa referência às cidades portuguesas, unindo-as como braços da mesma árvore à luz da vitória do “25 de Abril”.

         Machico revê-se nesta evocação e neste abraço. Justamente, porque foi esta cidade sadicamente massacrada por um aprendiz putinista que pretendeu, sem conseguir, manietar o seu povo, recorrendo a armas e retaliações da mais sofisticada espécie. Mas Machico resistiu e ganhou!

         Por isso, define-se Machico e ali se canta: MACHICO, TERRA DE ABRIL! E, na mesma linha reafirma-se – e aqui ainda hoje se canta – MACHICO TERRA DE ABRIL!

         Da mesma forma e no mesmo abraço, também gritamos entusiasticamente, até que se oiça no Leste Europeu:

UCRÂNIA, POVO DE ABRIL!

        

21.Abr.22

         Martins Júnior

 

 

terça-feira, 19 de abril de 2022

TRÊS MIL E TREZENTOS ANOS A ERGUER “ABRIL”

                                                                          


Seja embora de pura fruição intelectual, o que hoje me inebria e faz bater a pulsação é a coincidência temporal de tantos e todos os “ABRIS” que tantas e todas a s nações trazem no seu seio materno. Sem sombra de dúvida, a alvorada de Abril iluminou a cordilheira multicolor de todo o planeta. Em qualquer país ou em qualquer lugarejo, “sempre que há alguém que resiste” e ergue o facho da Liberdade, aí está gémeo e viçoso o Cravo de Abril.

         Por todos, condenso hoje três picos históricos que, precisamente neste mês, cruzam-se no mesmo abraço fraterno e formam o triângulo virtuoso e heróico da libertação dos povos. 

         O Primeiro ocorreu há cerca de 3.300 anos (Séc.XII-XII A.C.) quando o líder maior do povo israelita, Moisés, confrontou-se com o super-poderoso Faraó do Egipto e, após porfiada luta sem tréguas, conseguiu que a sua gente, cativa durante 40 longos anos, se evadisse daquela “casa de escravidão”, conforme testemunho escrito pelo próprio libertador no Livro do ÉXODO. Não obstante toda uma linguagem inspirada na visão teocrática da época (as Dez Pragas contra o Egipto, a abertura enigmática do Mar Vermelho que deu passagem “a pé enxuto” aos israelitas)  o saldo final culminou na conquista da Liberdade e o subsequente regresso à pátria de Canaã. Foi tão retumbante o acontecimento e de tanta repercussão nas gerações futuras que o proclamaram a sua Festa Nacional, calorosamente instaurada e celebrada em Dia de Páscoa – a Páscoa dos Judeus, da qual todos somos herdeiros, no mesmo plenilúnio e com a mesma pompa e circunstância, embora sob o signo de uma outra vitória.

De uma outra Vitória e de uma Nova Páscoa, a da Ressurreição do Nazareno, 1.300 anos depois!

Seja qual for a interpretação atribuída pelos exegetas e historiadores, o que não pode escamotear-se é a pujança indomável da expansão evangélica que a Nova Páscoa do Ressuscitado inoculou nas veias e no cérebro daqueles homens e naquelas mulheres, antes tímidos e vacilantes, que viram no seu Líder e Mestre o sucesso contra a ditadura político-religiosa dos sumos-sacerdotes do Templo de Jerusalém.

Cabia aqui evocar as vitórias dos povos escravos sobre o Império Romano, protótipo de outras tantas que derrubaram o poderio imperialista da opressão dos povos, ao longo destes 20 séculos. Sintetizo-as, porém, no derrube do duplo império Português, ocorrido em 1974 – ABRIL/25 – quando caíram finalmente o Império da Ditadura e o Império Colonial.

Há uma linha contínua que atravessa territórios e gerações e, em  tempo oportuno, explode apoteótica e decisiva para sacudir todas as formas de repressão de que são vítimas os povos indefesos. Em todas as lutas mencionadas no tríptico acima descrito, há três núcleos indissociáveis: um Líder, um Povo e as Armas.

Nos casos mencionados, identificamos o Líder Moisés, o seu Povo e a sua vara de caminheiro pelo deserto. Séculos depois, temos o Líder Jesus de Nazaré, o seu Povo e as armas da Luz e das Verdade com as quais pacificamente ultrapassou todos os obstáculos, até a própria morte. No Século XX, surgem os Líderes intrépidos e firmes do “25 de Abril”, o Povo Português e as Forças Armadas com as famosas ‘G3’ cujas munições eram Cravos vermelhos no cano da espingarda.

Defini, logo de início, que era um mero exercício de fruição intelectual o texto de hoje. Mas é mais, muito mais: exprime uma veemente convocatória a cada cidadão do mundo – no campo ou na urbe – para estar vigilante face às capciosas manobras dos ditadores que circulam entre nós sem sequer nos darmos conta da sua maquiavélica presença. Não há Líder que mobilize se não houver gente mobilizável. Não são e nunca foram desejáveis as vitórias de um “Homem Só”. Todas as vitórias hão-de ser conseguidas  “com o Povo, pelo Povo e para o Povo”.

E, seja qual o nosso contributo, não esqueçamos a nossa palavra-de-ordem/2022:

VIVER É RESSUSCITAR NA MANHÃ DE CADA DIA”.

 

19.Abr.22

Martins Júnior

domingo, 17 de abril de 2022

VIVER É RESSUSCITAR NA MANHÃ DE CADA DIA - ALELUIA

                                                                                     


Estão a calar-se as badaladas aleluiáticas deste Domingo do Ano da (des)Graça de 2022. Do púlpito das sumptuosas basílicas ou do modesto ambão das igrejas e ermidas aproveitaram-se os pregoeiros do costume para despejar as lamúrias de sempre: as guerras, as fomes e as sedes, as epidemias, as injustiças, os maus tratos, as assimetrias, as criancinhas, etc., etc.. E tudo projectado no sepulcro vazio daquele horto onde Maria Madalena descobriu que “alguém tinha roubado o corpo do Senhor”. Para o ano que vem, já está feito o discurso em fotocópia registada.

         Desculpar-me-ão um certo cepticismo, senão mesmo um pessimismo certo, com que vejo e oiço esta quase-novela repetida e martelada. A humanidade/cristandade tem já dois mil anos de aleluias e, em progressão geométrica, dentro do mesmo período tem milénios e  milhões de guerras, fomes, epidemias, crimes e injustiças, adocicadas sempre com o mesmo olhar no sepulcro vazio, à espera do Ressuscitado, como no teatro “À espera de Godot”… que nunca chega! Apetece neste caso parafrasear o velho ditado e dizer “com amêndoas e bolos se enganam os tolos”,,, Da farsa passa-se à repulsa, ao termos conhecimento que muitas guerras e injustiças foram planeadas ou apoiadas pela instituição pregadora das mesmas páscoas.

         Onde quero chegar, sem prejuízo de quem quer que seja tenha outras interpretações?

         Simplesmente a isto: não invoquemos em vão o túmulo vazio ou o Ressuscitado para vir levantar do chão os corpos abatidos pelos russos, ou para acabar com a exploração do homem pelo homem, ou para revogar a lei do mais forte sobre o mais fraco, ou para liquidar as epidemias e chamar a contas os oligarcas que sustentam a guerra. Tudo isto é obra nossa – dos HOMENS E MULHERES DE HOJE – e não do Taumaturgo Ressuscitado.

         Por isso, rendo ao Autor da Vida Ressuscitada, embora  delas não precise, as minhas homenagens, as mais entusiásticas e inspiradoras. Mas, com maior entusiasmo e ousadia, dirijo-me à raiz da Vida - concreta, mensurável e exigente - para interpelar-me a mim próprio e mobilizar-me na grande jornada de um mundo melhor, redivivo, ressuscitado. É a palavra de ordem e o convite inscritos no retábulo do templo da Ribeira Seca:

VIVER

     É

                                            RESSUSCITAR

   NA MANHÃ DE CADA DIA

                                   ALELUIA ------- ALELUIA

 

    17.Abr.22

    Martins Júnior

sexta-feira, 15 de abril de 2022

“VIA-SACRA” SOB PROTESTO

Aguardei que morressem as vinte e quatro horas para poder saudar o fim de um pesadelo – a Sexta-Feira – a qual, por ser Santa, não deixa de ser pesada. Pesadíssima, não pela amostra exterior que dela fazem, mas pela hediondez do crime que esconde – e que escondem – no teatro dos tempos.

A Cruz tem dois rostos.

De um lado, o mistério da salvação, a súmula de todas as dores, o lenitivo para todas as depressões, o oceano de todas as lágrimas.

Mas  há o outro lado. E é para lá que eu vou. Descubro então que a Cruz é o crime arvorado em bandeira, é a ignomínia sacralizada, o maior ultraje à condição humana.

Nunca deveria ter sido dado palco à maior injustiça praticada contra um Homem Bom. Nunca mereceria trono nem altar o culto de uma religião corrupta e assassina,   a do Templo de Jerusalém, a do código de Anás e Caifás,

Recuso-me a adormecer na Cruz. Recuso-me branquear o crime, muito menos a fazer dela um espectáculo nu.

Não será para mim ponto de chegada, mas cais de partida.

 

  

 15.Abr.22, Sexta-Feira Santa

Martins Júnior

quarta-feira, 13 de abril de 2022

A SERENIDADE PLENA NO MEIO DA TORMENTA !

                                                                  


         -Manda calar essa grntalha, isso é uma vergonha, Jerusalém é cidade nobre, a cidade de David, Sacerdote Profeta e Rei.

         - Se eu os mandar calar, então vereis as próprias pedras da calçada levantarem-se em alvoroço, saudando Aquele que vem em nome do Senhor.

         Nesta intimação formal do poder sócio-religioso de Jerusalém e a imediata resposta do Nazareno está incisivamente consignada a luta de uma vida inteira, a de Jesus, em confronto aberto com a ditadura obsessiva do Templo. Podem os místicos conventuais subir ao sétimo céu e pintar de escarlate o manto do Mestre, as sandálias do Peregrino e os olhos seraficamente lânguidos do doce Rabi – podem fazer e sofisticar tudo isso, mas nunca conseguirão fugir ao dilema fatal que definiu a vida de Jesus de Nazaré: de um lado, a sua resiliência inquebrantável e, do outro lado, a opressão, camuflada de hipocrisia devocionista, da classe dominante: os sumos-sacerdotes, ao fariseus e os escribas, doutores da Lei.

           Toda uma vida nesta tensão, dia e noite. Mas o epílogo estava à vista. Jesus pressentiu-o mais que ninguém. O povo também. E juntam-se as forças. Está decidido: “invadir Jerusalém numa magna, enorme, poderosa manifestação que faça tremer os alicerces da cidade”.

         Dito e feito! Ao abrir da manhã, surgem como meandros de um vasto rio milhares de galileus - do norte e do sul, do ocidente e do oriente – todos numa explosão de júbilo incontido, aclamando o seu Líder e Defensor. Jesus montado num jumentinho desafiava os altos potentados do reino, os seus exércitos, os carros e cavalos, enfim, toda a armadura bélica do país.

         Ninguém lhe tocou. O escudo humano da multidão que o protegia era gente anónima, provinda das margens do Lago de Tiberíades, dos campos semeados de trigo, camponeses e pastores de gado, homens, mulheres e crianças, habitantes da periferia da cidade.

         Era Domingo – Domingo de Ramos, das Palmas, dos Arbustos, dos Alecrins. Era uma festa, A festa do povo que trabalha e faz o mundo novo. O povo soltou-se, perdeu o medo e venceu o seu direito à palavra, à acção. Além da vitória de Jesus, foi sobretudo a vitória e a páscoa libertadora do povo.

         No entanto, o poder maquiavélico do Templo e respectivos espiões tudo moveram e em Quinta-Feira, o fim estava iminente.

         E aqui é que se viu a super-estatura do Mestre. Sabendo que era a última noite da sua vida, organiza um Banquete e chama os doze colaboradores mais próximos. Oh prova suprema de auto-domínio, superioridade moral, doação sublime! Diante dele, o próprio delator que iria traí-lo daí a poucas horas. Apesar de tudo, convidou-o, conversou amistosamente, sorriu-lhe… mas não se inibiu e disse-lhe: “Mais valia não teres nascido”

Apraz-me ver e sentir a personalidade de Jesus de Nazaré, o seu rosto acessível, a sua sensibilidade humana. Para, depois,  entrar e assimilar a essência da sua mensagem.

 

13.Abr.22

Martins Júnior  

segunda-feira, 11 de abril de 2022

DESNUDAR A SEMANA – REVER O PROCESSO

                                                                                  


É, sem dúvida, a Semana Maior da História e à qual se juntam as grandes histórias da Humanidade. No entanto, com a pretensão de torná-la ainda mais opulenta, gerações a fio cobriram-na de sete saias de seda lilás, calçaram-na de coturnos esotéricos, transparentes, polvilharam-na de nardos e míticos unguentos, encheram-na de acordes monumentais, quase sepulcrais, enfim, e o resultado foi que apoucaram-na, encobrindo-lhe o rosto e a mensagem.

         Falo da, assim designada,  Semana Santa, o acontecimento polimórfico de tantas e repetidas roupagens, desde as mais sumptuosas às mais folclóricos que até já ganharam palco na mundana propaganda turística. E com isso, ficou menos límpida e menos eloquente a Semana Maior.

         Há as conotações teológicas para todos os gostos, entre as quais, a de que Deus Pai exigiu a cabeça do seu próprio Filho para reparar a ofensa de um terceiro, supõe-se que de Adão, tornando-se assim um Deus violento e um Pai justiceiro. Noutra versão, Jesus entregou-se voluntariamente à morte, passando então à condição de suicida. Uma terceira versão sugere que, quisesse Ele ou não, teria de ser assassinado por ordem do Pai, pelo que alguém deveria encarregar-se do crime letal. Nestes termos, o assassino (neste caso, Judas) teria de ser canonizado, pelo bem fez à salvação do mundo”.

         Todo este emaranhado, mais estonteante que o labirinto de Creta, porquê e para quê ?...

Para branquear o horrendo crime, desde há muito tempo maquinado pelas classes dominantes de Jerusalém contra Jesus. Em termos fácticos, foi isto que se passou, um processo judicial ilegítimo, sem provas, idêntico a tantos outros que mais tarde e até hoje (e até sempre) o poder ditatorial é capaz de cominar com a pena capital. Tudo o mais não passa de cenários excedentários, prantos sacros, espectáculo vistoso que enchem os olhos mas esvaziam o espírito.

É nesta direcção que farei o percurso da semana. De há algum tempo a esta parte, já interiorizei que, neste âmbito, é preciso desnudar a semana (pôr a nu a tragédia do Calvário) monitorizar o processo de Jesus, porque o seu “caso” ultrapassa o fenómeno puramente cultual e mergulha no mais sensível e verdadeiro da história humana. Suponho ter sido neste sentido que René Pascal escreveu: “Jesus continua em agonia até ao fim dos tempos”.

Assim como a emoção perturba a razão, assim também a emotividade inerente à religião (mais intensamente nesta masoquista sucessão de episódios) prejudica a racionalidade interpretativa dos factos.

Neste percurso sinto-me apoiado e acompanhado no pensamento do sábio teólogo Schillebeeckx:

“A morte de Jesus na cruz é a consequência de uma vida de serviço à justiça e ao amor, uma consequência da sua opção pelos pobres e excluídos, de uma opção pelo seu povo que sofre sob a exploração e opressão. Num mundo mau, qualquer compromisso com a justiça e o amor é fatalmente perigoso”.

 

11 .Abr.22

Martins Júnior

sábado, 9 de abril de 2022

A SEMANA ONDE COUBE TODA A HISTÓRIA HUMANA

                                                                     


VIOLANTE, 95,  utente da Santa Casa.  

MANUEL, 83, agricultor.

LUÍS, 72. motorista.

PEDRO, 69,  calceteiro.

ANDREIA, 56, filipina, empresária.

       

A um, comeu-o a terra.

A outros, guardou-os a gaveta.

À outra, a chama purificou-lhe o corpo e transformou-o em nuvem de incenso alado perto das estrelas.

 

SEMANA SANTA antecipada…

E todos no mesmo porto – de chegada e de partida.

Todos na mesma estação ferroviária – de chegada e de partida

Todos na mesma aerogare – de chegada e de partida.

 

No meu abrir e fechar de olhos, ao longo do percurso do carro negro,  percorri todas as estradas do planeta, transportei comigo os homens e mulheres de todos os tempos. E, ainda vivo, fiz a mesma viagem, abri todos os túmulos e  voltei à vida. Para saber que só há alma se houver corpo.

Aprendi que o corpo é o instrumento para toda a arte do espírito.

Amar o corpo é o primeiro mandamento da alma.

Sem o corpo nunca me mostrarás a tua alma.

 

Indecifrável mistério da Sinfonia circular no concerto universal !

 

09.Abr.22

Martins Júnior

 

quinta-feira, 7 de abril de 2022

A GUERRA DE TODOS OS DIAS: A (DES)INFORMAÇÃO

                                                                           


Quem por mero acaso ou rotineira curiosidade tem acompanhado o meu repúdio – e maior o sofrimento – acerca das atrocidades ocorridas na Ucrânia, interrogar-se-á das minhas preocupações em fazer comparar episódios tangenciais entre o leste europeu e a paisagem insular, mais concretamente, a Madeira.

         Apresso-me a esclarecer, em forma de resposta, alegando que, na mundividência global em que vivemos, somos todos iguais e todos somos diferentes. Em consequência, chegamos à conclusão de que observando os outros é a nós próprios que estamos a observar-nos. É fenómeno recorrente não vermos ao pertos os nossos erros e só os descortinamos quando os detectamos no terreiro do vizinho. Descobrir a fealdade grosseira da nossa casa, nem que seja comparando-a com a dos estranhos, é a mais acertada estratégia para barrarmos o passo ao domínio do absurdo.

         Refiro-me à chamada guerra de (des)informação. O povo russo, tal como acontecia com o povo português durante a guerra colonial, é vítima da mais cruel ditadura: a ignorância. No império putinista, a grande muralha entre o ditador e o povo é a que se ergue nos órgãos de comunicação social. Ignorar, defraudar, rasurar a última centelha da liberdade que resta ao cérebro humano! É a arma mais poderosa em campo de guerra. TV, Rádio, jornais e até púlpitos fazem de um povo forte um rebanho acéfalo, anestesiado.

          Sou daquele tempo, pós 25 de Abril de 1974 – e afirmei-o na Assembleia Legislativa Regional – em que para lermos notícias da Madeira tínhamos de recorrer aos jornais do Continente, “exactamente como no tempo do fascismo salazarista, para termos notícias de Portugal era necessário ler e ouvir a informação estrangeira”.

         É assunto vasto, tão vasto e, nalguns casos, mísero, que não cabe neste breve apontamento. Que os jornais e os mendicantes de benesses oficiais façam passar a “voz do dono” – isso é água de charcos quotidianos. Agora, que intelectuais, professores, historiadores (assim se consideram) façam coro com a arraia-miúda da (des)informação caseira, isso já ultrapassa as fronteiras da dignidade de um povo.

         Falo de uma publicação que ostenta o pomposo título “História da Autonomia da Madeira”, com a desculpabilizante advertência de “Dicionário Breve”. Ao tratar do movimento separatista-terrorista denominado “Flama” (página 98) toca com punhos de renda ou jogo de marionetes no ataque à bomba preparado na Ponte do Seixo, Água de Pena, em 1976, para rebentar quando passasse a camioneta em que, entre outros, viajavam o cantor José Afonso e o candidato à Presidência da República, Otelo Saraiva de Carvalho, em campanha na Madeira. A caixa de explosivos reduziria a escombros toda aquela zona da freguesia.

         Mas a camioneta chegou ilesa ao aeroporto onde embarcaram para Lisboa o candidato e sua comitiva. Mas por que não rebentou a caixa assassina?... O ilustre historiador responde: “Não se concretizou, na sequência de alertas provenientes da ala politica, pelo facto de a camioneta que transportava o candidato estar repleta de crianças”.

         O investigador, capciosamente, não explicita nem identifica a ala política. Anos mais tarde, vieram a descobrir-se as fontes da informação: os operacionais da “Flama” numa conferência de imprensa dada pelos próprios. Assim se faz a história!... O historiador não teve a mínima consciência profissional, não consultou as partes envolvidas. Sem mais delongas jorrou pelos dedos fora esta imundície noticiosa e foi-se à vida. E ficou assim escarrapachada para sempre a versão do relator clandestino. Só lhe faltou dizer que a bomba mortífera ninguém a pôs ali, caiu do céu de “Santa Beatriz”, orago da freguesia!...

          Em menos de três linhas, um monte de embustes: Eram as nove da manhã quando a viatura seguiu para o aeroporto. Não viajava nenhuma criança, porque era tempo lectivo e as crianças estavam na escola. O que, porém, ainda não foi contado foi a história de uma outra criança da dita freguesia que, ao dirigir-se para a sua escola, viu a armadilha no trilho do caminho. O resto, investiguem os historiadores!

         Muito há ainda por descobrir sobre o terrorismo “russo-flamista” na ilha azul…

         Entendo ser dever de qualquer cidadão denunciar os acontecimentos e erguer bem alto a verdade dos factos. E não permitir que, através do papel tintado de certas imprensas, a soldo dos mesmos empresários, se multipliquem os tentáculos do polvo dominador.

         Ainda não chegámos à Rússia!

 

         07.Abr.22

Martins Júnior   

terça-feira, 5 de abril de 2022

SEPARATISTAS RUSSOS E SEPARATISTAS ILHÉUS – AFINIDADES E COINCIDÊNCIAS

                                                                              


Breves palavras para desfazer equívocos. Mais do que equívocos: desenfreadas deformações oportunistas para torcer a verdade dos factos e fazer render dividendos aos vendedores de fogos-fátuos.

         Comecemos pela memorável data de “4 de Abril de 1931 – a Revolta da Madeira” – e que tem sido explorada até ao tutano pelos inflamados autonomistas  sediados nas poltronas do poder. Nos discursos martelados todos os anos junto a uma espécie de monumento à Revolução, lá vem ‘aquela frase batida’ proclamando loas e foguetes ao movimento militar chefiado pelo general Sousa Dias e pelo coronel Freiria, “paladinos da independência da Madeira contra Lisboa”. Nada mais falso. O movimento revolucionário de 1931 foi o grande precursor, não do “1de Julho”, mas do “25 de Abril”. Os revoltosos, líderes da intentona, eram militares de Portugal Continental deportados para a Madeira (uma espécie de colónia penal) por se terem manifestado contra o recém-empossado regime salazarista, revelador de fortes indícios da ditadura que veio a instaurar-se em Portugal. Outros dois acontecimentos – o monopólio das farinhas e a falência do ‘Henrique Figueira’, o único banco madeirense – arrastaram o povo para tumultos e legítimas reivindicações, que infelizmente fizeram abortar uma brilhante tentativa anti-ditatorial que durou 48 anos de repressão.

A Revolta da Madeira estava conectada com outras unidades militares dos Açores e Portugal Continental que tiveram o mesmo malogrado fim. Resumindo: o “4 de Abril de 1931” – sobre cujo pedestal ontem os encartados títeres ilhéus se empoleiraram para falsear as motivações e os factos – foi o antecipado grito de revolta contra a ditadura nascente.

Em direcção oposta, situam-se os separatistas russo-ucranianos e os ‘putinistas’ ilhéus, na Madeira e nos Açores. Enquanto os valorosos militares do “4 de Abril” tinham como ponto de mira o derrube da ditadura salazarista, os separatistas do leste europeu o que pretendem unicamente é  coligar-se ao novo czar de Moscovo e matar qualquer expressão de liberdade autonómica da Ucrânia.

Os nossos super-inFLAMAdos pseudo-autonomistas hibernaram durante quase meio século na barriga da ditadura, bem acasalados com as benesses do regime, e só acordaram estremunhados na tarde do “25 de Abril”, pegaram em armas, armadilharam casas e carros, provocaram mortes em jovens recrutas do seu paiol – tudo fizeram para destruir o Cravo da Liberdade e afogar a respiração de um povo que, com a ajuda pioneira dos militares, reconquistou o seu lugar ao sol.

Ainda está por fazer a tenebrosa história da FLAMA (Madeira) e da FLA (Açores). Consideradas as devidas proporções territoriais e políticas, os chamados ‘flamistas’ bem poderiam pintar na fronte o vergonhoso Z dos tanques e dos camuflados russos e marchar contra Mariupol ou Kiev. Foi isso que fizeram cá na ilha, sob o pavilhão protector de quem um dia será desmascarado. O Tribunal de Nuremberga poderá ainda chegar à Madeira.    

Aqui fica, pois, a clarificação necessária sobre acontecimentos susceptíveis de interpretações erróneas. Com este separar das águas, rendo a merecida Homenagem aos Homens do “4 de Abril de 1931”, aos de “1936” (a Revolução do Leite, contra o monopólio dos Lacticínios) e a todos quantos no seu local de trabalho, aprendizagem e acção têm contribuído para a vigência e consolidação da Revolução dos Cravos,

 

05.Abr.22

Martins Júnior