quarta-feira, 13 de abril de 2022

A SERENIDADE PLENA NO MEIO DA TORMENTA !

                                                                  


         -Manda calar essa grntalha, isso é uma vergonha, Jerusalém é cidade nobre, a cidade de David, Sacerdote Profeta e Rei.

         - Se eu os mandar calar, então vereis as próprias pedras da calçada levantarem-se em alvoroço, saudando Aquele que vem em nome do Senhor.

         Nesta intimação formal do poder sócio-religioso de Jerusalém e a imediata resposta do Nazareno está incisivamente consignada a luta de uma vida inteira, a de Jesus, em confronto aberto com a ditadura obsessiva do Templo. Podem os místicos conventuais subir ao sétimo céu e pintar de escarlate o manto do Mestre, as sandálias do Peregrino e os olhos seraficamente lânguidos do doce Rabi – podem fazer e sofisticar tudo isso, mas nunca conseguirão fugir ao dilema fatal que definiu a vida de Jesus de Nazaré: de um lado, a sua resiliência inquebrantável e, do outro lado, a opressão, camuflada de hipocrisia devocionista, da classe dominante: os sumos-sacerdotes, ao fariseus e os escribas, doutores da Lei.

           Toda uma vida nesta tensão, dia e noite. Mas o epílogo estava à vista. Jesus pressentiu-o mais que ninguém. O povo também. E juntam-se as forças. Está decidido: “invadir Jerusalém numa magna, enorme, poderosa manifestação que faça tremer os alicerces da cidade”.

         Dito e feito! Ao abrir da manhã, surgem como meandros de um vasto rio milhares de galileus - do norte e do sul, do ocidente e do oriente – todos numa explosão de júbilo incontido, aclamando o seu Líder e Defensor. Jesus montado num jumentinho desafiava os altos potentados do reino, os seus exércitos, os carros e cavalos, enfim, toda a armadura bélica do país.

         Ninguém lhe tocou. O escudo humano da multidão que o protegia era gente anónima, provinda das margens do Lago de Tiberíades, dos campos semeados de trigo, camponeses e pastores de gado, homens, mulheres e crianças, habitantes da periferia da cidade.

         Era Domingo – Domingo de Ramos, das Palmas, dos Arbustos, dos Alecrins. Era uma festa, A festa do povo que trabalha e faz o mundo novo. O povo soltou-se, perdeu o medo e venceu o seu direito à palavra, à acção. Além da vitória de Jesus, foi sobretudo a vitória e a páscoa libertadora do povo.

         No entanto, o poder maquiavélico do Templo e respectivos espiões tudo moveram e em Quinta-Feira, o fim estava iminente.

         E aqui é que se viu a super-estatura do Mestre. Sabendo que era a última noite da sua vida, organiza um Banquete e chama os doze colaboradores mais próximos. Oh prova suprema de auto-domínio, superioridade moral, doação sublime! Diante dele, o próprio delator que iria traí-lo daí a poucas horas. Apesar de tudo, convidou-o, conversou amistosamente, sorriu-lhe… mas não se inibiu e disse-lhe: “Mais valia não teres nascido”

Apraz-me ver e sentir a personalidade de Jesus de Nazaré, o seu rosto acessível, a sua sensibilidade humana. Para, depois,  entrar e assimilar a essência da sua mensagem.

 

13.Abr.22

Martins Júnior  

1 comentário:

  1. Tudo dito... nesta narrativa sobre a vida e a obra revolucionária do MESTRE da nossa História, o caminheiro de todos os caminhos. Que esta Páscoa, em tempos muito difíceis, nos faça dignos continuadores dessa autêntica revolução civilizacional. Boa Páscoa.

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