-Manda
calar essa grntalha, isso é uma vergonha, Jerusalém é cidade nobre, a cidade de
David, Sacerdote Profeta e Rei.
-
Se eu os mandar calar, então vereis as próprias pedras da calçada levantarem-se
em alvoroço, saudando Aquele que vem em nome do Senhor.
Nesta intimação formal do poder
sócio-religioso de Jerusalém e a imediata resposta do Nazareno está
incisivamente consignada a luta de uma vida inteira, a de Jesus, em confronto
aberto com a ditadura obsessiva do Templo. Podem os místicos conventuais subir
ao sétimo céu e pintar de escarlate o manto do Mestre, as sandálias do
Peregrino e os olhos seraficamente lânguidos do doce Rabi – podem fazer e
sofisticar tudo isso, mas nunca conseguirão fugir ao dilema fatal que definiu a
vida de Jesus de Nazaré: de um lado, a sua resiliência inquebrantável e, do outro
lado, a opressão, camuflada de hipocrisia devocionista, da classe dominante: os
sumos-sacerdotes, ao fariseus e os escribas, doutores da Lei.
Toda uma vida nesta tensão, dia e noite. Mas o
epílogo estava à vista. Jesus pressentiu-o mais que ninguém. O povo também. E
juntam-se as forças. Está decidido: “invadir Jerusalém numa magna, enorme,
poderosa manifestação que faça tremer os alicerces da cidade”.
Dito e feito! Ao abrir da manhã, surgem
como meandros de um vasto rio milhares de galileus - do norte e do sul, do
ocidente e do oriente – todos numa explosão de júbilo incontido, aclamando o
seu Líder e Defensor. Jesus montado num jumentinho desafiava os altos
potentados do reino, os seus exércitos, os carros e cavalos, enfim, toda a
armadura bélica do país.
Ninguém lhe tocou. O escudo humano da
multidão que o protegia era gente anónima, provinda das margens do Lago de
Tiberíades, dos campos semeados de trigo, camponeses e pastores de gado, homens,
mulheres e crianças, habitantes da periferia da cidade.
Era Domingo – Domingo de Ramos, das
Palmas, dos Arbustos, dos Alecrins. Era uma festa, A festa do povo que trabalha
e faz o mundo novo. O povo soltou-se, perdeu o medo e venceu o seu direito à
palavra, à acção. Além da vitória de Jesus, foi sobretudo a vitória e a páscoa
libertadora do povo.
No entanto, o poder maquiavélico do
Templo e respectivos espiões tudo moveram e em Quinta-Feira, o fim estava
iminente.
E aqui é que se viu a super-estatura do
Mestre. Sabendo que era a última noite da sua vida, organiza um Banquete e
chama os doze colaboradores mais próximos. Oh prova suprema de auto-domínio,
superioridade moral, doação sublime! Diante dele, o próprio delator que iria
traí-lo daí a poucas horas. Apesar de tudo, convidou-o, conversou
amistosamente, sorriu-lhe… mas não se inibiu e disse-lhe: “Mais valia não teres
nascido”
Apraz-me
ver e sentir a personalidade de Jesus de Nazaré, o seu rosto acessível, a sua
sensibilidade humana. Para, depois, entrar e assimilar a essência da sua mensagem.
13.Abr.22
Martins Júnior
Tudo dito... nesta narrativa sobre a vida e a obra revolucionária do MESTRE da nossa História, o caminheiro de todos os caminhos. Que esta Páscoa, em tempos muito difíceis, nos faça dignos continuadores dessa autêntica revolução civilizacional. Boa Páscoa.
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